UFC se transforma em estádio de futebol; torcedores provocam Corinthians
- José Edgar de Matos
- Direto do Rio de Janeiro
Pouco acostumado a eventos do estilo do UFC (Ultimate Fighting Championship), o brasileiro transformou a HSBC Arena no último sábado, dia em que foi realizado o UFC Rio, em um palco com o qual está muito mais acostumado: um estádio de futebol. Gritos clássicos do ambiente futebolístico, como o corriqueiro "o campeão voltou" se tornaram hinos durante a noite de lutas do evento mais famoso de MMA (Artes Marciais Mistas, em inglês) do planeta.
Além da torcida totalmente favorável, os brasileiros enfrentaram provocações ao associar-se com clubes de futebol. Quem mais "sofreu" com tal atitude acabou sendo o superstar Anderson Silva, que manteve o cinturão da categoria dos médios ao nocautear o japonês Yushin Okami. Contratado pelo Corinthians e trajado com as cores do clube alvinegro, o "Spider", depois da 14ª vitória no evento, ouviu os gritos de "vai tomar no c*, Corinthians" na HSBC Arena.
Em entrevista depois da noite de lutas, Anderson adotou um discurso ponderado ao tratar os xingamentos contra o clube do coração, repetindo a ideia de que o Brasil, no caso, é o representado. "Não é o time em si, é a combinação deles investirem em outro esporte que é o que importa. Podemos mudar muitas coisas no nosso País, como unir as torcidas neste tipo de evento. No final estamos defendendo o Brasil, querendo um futuro melhor no esportes. Estamos juntos, essas vaias não foram para mim", discursou o brasileiro.
Outro atleta a se associar a uma equipe de futebol antes do UFC 134 foi o experiente Antônio Rodrigo Minotauro Nogueira. Uma das maiores lendas do MMA brasileiro, o atleta se associou ao Internacional para o combate diante do Brendan Schaub. Por conta da convincente exibição e o nocaute sobre a revelação americana ainda no primeiro round, o símbolo do clube colorado acabou ignorado pelos torcedores, que entoaram o grito de "o campeão voltou" para o veterano atleta.
Quem também recebeu apoio de um time de futebol para o evento no Rio de Janeiro foi Paulo Thiago. Entretanto, o símbolo cruzeirense no calção do soldado do Bope de Brasília, que conquistou o público ao entrar na arena com a música Tropa de Elite, acabou sumariamente ignorado pelo público carioca. Apoiado sobre os gritos de "Caveira", o brasileiro derrotou o americano David Mitchell por decisão unânime dos juízes (30/27, 30/27, 30/27).
A torcida presente na HSBC Arena não precisou de um pretexto futebolístico para transformar a arena em um palco do esporte mais popular do mundo. Por exemplo, Mauricio Shogun Rua, que nocauteou o americano Forrest Griffin no co-luta principal da noite. Ex-dono do cinturão da categoria dos meio-pesados, o curitibano foi ovacionado sob os gritos de "o campeão voltou" logo após Bruce Buffer anunciar o resultado oficial de nocaute.
Os cerca de 15 mil espectadores do UFC 134 apoiaram todos os brasileiros que subiram ao octógono, inclusive aqueles menos conhecidos do grande público, que lutaram no card preliminar. O clima de estádio de futebol acabou imposto pelo público logo na primeira luta da noite, entre o atleta canadense Yves Jabouin e o americano Ian Loveland.
Adotado pela torcida, Jabouin recebeu o carinhoso apelido de Negueba do público presente, que incentivou o canadense durante todo o combate. Mesmo sem entender a associação com o jogador do Flamengo campeão mundial Sub-20, o lutador entrou no embalo e fez graças para o público ao derrotar o americano por decisão dividida (27/30, 29/28 e /29/28).
Tal reação desde o primeiro combate, que sequer contou com brasileiros, impressionou o presidente do UFC, Dana White. "Há dez anos nós fazemos eventos ao redor do mundo, e o Brasil ganhou pela torcida mais barulhenta de todos os tempos. Uma das coisas mais fantásticas de hoje (sábado) foi ver a arena lotada e fazendo barulho desde a primeira luta", discursou o mandatário.
