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Meta de Putin é colocar a Rússia em destaque com Mundial de 2018

14 jul 2014 - 12h44
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Guindastes enormes estão instalados sobre o estádio de Moscou, onde a Rússia vai sediar a final da Copa do Mundo de 2018, e montes de terra, canos e cabos se empilham sobre o espaço que no futuro será destinado ao gramado.

Vista geral do estádio Luzhniki, em Moscou. 14/7/2014
Vista geral do estádio Luzhniki, em Moscou. 14/7/2014
Foto: Sergei Karpukhin / Reuters

Pouco restou do original estádio Luzhniki, exceto suas paredes externas e uma estátua do líder comunista Vladimir Lenin do lado de fora, enquanto a Rússia se prepara para converter a relíquia da era soviética em uma arena de última geração.

Instalado às margens do rio Moskva, o estádio simboliza a grande transformação que o presidente Vladimir Putin quer destacar com a Copa do Mundo --a evolução da Rússia desde a época soviética em um Estado moderno, merecedor de uma posição central na orquestra das nações.

É uma aposta arriscada.

Os Jogos Olímpicos de Inverno realizados em Sochi este ano expuseram casos de corrupção, nepotismo e superfaturamento na Rússia, além de ter ressaltado o histórico fraco do país em termos de democracia e direitos dos homossexuais.

A experiência do Brasil em sediar o Mundial de 2014 também se mostrou um choque de realidade, com o foco na construção de estádios em vez de investimentos em serviços públicos tendo provocado manifestações nas ruas, enquanto a derrota da seleção em campo deixou um sabor amargo aos torcedores.

O Kremlin conseguiu impedir a realização de protestos em Sochi durante a Olimpíada, tolerando manifestações somente em uma área designada, longe dos eventos esportivos, numa proibição velada que será difícil de repetir nas 11 cidades em que vai ser sediada a Copa.

Putin vai estar particularmente vulnerável aos protestos em Moscou e São Petersburgo, cenário das maiores manifestações durante a onda de protesto contra o presidente no inverno de 2011/2012.

"É uma faca de dois gumes. Esses eventos de dimensão internacional atraem atenção e são uma boa chance de colocar um país em destaque, mas têm vários lados negativos em termos de publicidade ruim", disse Allison Stewart, pesquisadora associada da Escola de Negócios Said, da Universidade de Oxford.

Embora Putin tenha a imagem menos associada diretamente ao Mundial do que foi à Olimpíada de Sochi, seu prestígio pessoal e político vai estar em risco. Isso é particularmente importante, levando em consideração que seu mandato de seis anos termina em 2018 e ele deve ser candidato nas eleições que ocorrem alguns meses depois do torneio de futebol.

Putin esteve na final do Mundial deste ano no Maracanã e autoridades russas vieram ao torneio deste ano para se prepararem para 2018, mas não ficou claro se Moscou aprendeu alguma lição a partir da experiência em Sochi e dos problemas do Brasil ao sediar o Mundial.

"Parece não ter havido muita autocrítica na Rússia para realmente entender por que os custos dos Jogos foram tão mais significativos do que originalmente deveriam ser. Se fizeram isso, certamente não comunicaram", disse Stewart, que conduz uma pesquisa sobre os problemas observados em Sochi.

A Rússia vai sediar a Copa do Mundo de 2018 em 12 estádios, em 11 cidades, com os jogos em Moscou a serem disputados em dois estádios.

A sede mais ao Ocidente será Kaliningrado, principal cidade em um enclave russo localizado entre a Polônia e Lituânia, e sede mais oriental será Ecaterimburgo, cidade localizada nos montes Urais, onde o último czar foi morto a tiros logo após a revolução bolchevique de 1918.

As outras sedes são Volgogrado, cidade atingida por dois atentados a bomba que mataram 32 pessoas em dezembro, Cazã, Samara, Sochi, Saransk, São Petersburgo, Níjni Novgorod e Rostov do Don, próxima à fronteira da Ucrânia.

O Ministério do Esporte russo disse em março que o orçamento da Copa do Mundo seria de 620,5 bilhões de rublos (18,16 bilhões de dólares), com 172,6 bilhões de rublos destinados à construção ou reforma de instalações esportivas e o restante a projetos de infraestrutura.

Mas o primeiro-ministro Dmitry Medvedev já chegou a afirmar que o Mundial custaria mais de 20 bilhões de dólares e críticos dizem que os custos vão provavelmente aumentar exponencialmente, assim como ocorreu na Olimpíada de Sochi.

A Rússia ainda não divulgou o custo final da Olimpíada de Inverno, mas a cifra de 51 bilhões de dólares alegada pela mídia é mais de quatro vezes os 12 bilhões estimados candidatura russa.

Boris Nemtsov, um líder da oposição, disse que os contratos para os estádios e outros projetos de infraestrutura estiveram sujeitos a corrupção, e críticos alegaram que os negócios ligados à Olimpíada teriam sido canalizados para aliados de Putin.

"O que é mais importante agora é o controle público sobre o dinheiro. Putin não instituiu nenhum caso criminal sobre os roubos na Olimpíada", disse ele.

O Kremlin rechaça as críticas sobre a destinação dos recursos para os contratos de construção relacionados aos Jogos de Sochi.

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