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Demian admite "aversão" a Anderson Silva após polêmica no UFC

21 abr 2010 - 08h23
(atualizado às 08h31)
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Fernanda Prates

No UFC 112, Demian Maia e Anderson Silva protagonizaram uma das lutas mais polêmicas dos últimos anos - ou talvez da história - do evento. Na disputa pelo título dos pesos médios (até 84kg), Anderson manteve seu cinturão, mas a vitória foi ofuscada pela atitude do campeão que, após provocar e até xingar o compatriota, saiu vaiado. Porém, se o "Aranha" saiu desprestigiado, o desafiante Maia deixou o octógono ovacionado pelo público e pela organização e confessa ter se sentido desrespeitado naquilo que definiu como uma "guerra mental" em Abu Dhabi.

"Acho que ele me desrespeitou, sim. Começou a me xingar do nada, até com palavrões, e fazer coisas que eu nunca vi acontecerem na minha vida. Mas isso não me desconcentrou porque eu sabia que ia ser uma guerra mental, mais do que física", disse Maia. "Não acho que ele tenha nada pessoal contra mim, até porque sempre falei bem dele. Então se ele tinha qualquer coisa a provar, deveria ter vindo para cima para nocautear, mas ficou só fazendo gracinhas", afirmou.

Foram cinco rounds de uma luta cheia de provocações e malabarismos de Anderson, que chegou a ser penalizado por se esconder atrás do juiz e criticado por passar dos limites da esportiva. Contudo, as provocações, uma eficiente e conhecida estratégia do campeão, foram antevistas por Demian, que adotou a calma como aliada para não perder a cabeça.

"Eu acredito ter me portado bem, principalmente na hora que ele me xingou, porque aí mesmo que não podia sair atacando como um louco. Ele é lutador de contra-ataque, e provoca para o rival entrar no jogo. Para me preparar, eu treinei com sparrings (parceiros de treino) que também provocam, mas nunca xingando, até porque nunca esperei chegar a esse nível", contou Demian. "Meu erro talvez tenha sido esperar demais, já que treinei paciência para evitar o contra-ataque. No final, acertei golpes e ganhei confiança, mas deveria ter começado a fazer isso antes".

Após o combate, ainda no octógono, Silva tentou se retratar, mostrando arrependimento. Depois, no entanto, inverteu o discurso, dizendo não dever desculpas e alegando que Demian o havia desrespeitado em um vídeo anterior à luta. Maia, por sua vez, defende-se das acusações, afirmando ter feito apenas uma brincadeira respeitosa. "Brinquei falando que 'a aranha tem oito pernas, quem sabe eu não levo uma pra casa comigo?'. Falei em tom de brincadeira e eles sabem, mas afirmam como se eu tivesse falado de modo grosseiro".

Para Demian, as desculpas de Anderson no octógono foram sinceras, mas a atitude de voltar atrás foi uma estratégia de sua equipe. "Achei mais sincero o que ele achou na hora da luta, o que foi falado depois foi 'briefado'. Foi uma estratégia pouco inteligente para a imagem dele. Para mim, ele foi mal instruído".

Sem compromissos marcados no UFC, o peso médio já tem um pensamento fixo: revanche. Conceito que, para ele, nada tem a ver com vingança. "Isso (revanche) é uma coisa que vai ficar na minha cabeça até eu conseguir", garante. "Mas não encaro como uma vingança, porque esse tipo de pensamento só tem dois resultados: ou você perde, ou faz algo parecido com o que vimos em Abu Dhabi. Nunca é uma vitória".

Para Demian, acostumado com competições de jiu-jítsu, nas quais sequer se pode falar, as provocações verbais foram questionáveis. Mais do que seu orgulho, o lutador acha que o que saiu ferido com a atitude do campeão foi o MMA.

"Achei a atitude muito ruim para o evento e para o público, mas pior ainda para o esporte, que está tentando ser legitimado como modalidade de primeira linha", acredita o lutador. "O problema não é a provocação, mas os xingamentos. Por mais que os organizadores não entendam português, imaginaram que era algo ofensivo, o que é uma falta de respeito não só comigo, mas como todo o esporte".

Polêmica

A polêmica extrapolou os limites de Abu Dhabi, e foi parar, quem diria, no palco do Domingão do Faustão, no domingo, onde os dois lutadores se reencontraram. Se para os espectadores a reunião em rede nacional pareceu conciliatória, Demian Maia não escondeu o sentimento negativo ao encarar o algoz que outrora tinha como ídolo.

"Antes eu tinha o Anderson como ídolo, via lutas dele enquanto ainda lutava jiu-jitsu, mas hoje olho para ele e sinto uma certa aversão, um desgosto de estar no mesmo ambiente. É uma coisa estranha que nunca senti por ninguém", confessa.

"Não gosto de me sentir dessa maneira, acho um sentimento ruim para mim, mas sei que vai passar. Não que vamos ser melhores amigos, mas sei que é temporário. Tenho admiração por todos os atletas de MMA, até porque é um esporte muito diferente. Além de ser individual, o que já é uma pressão, envolve muito risco, porque você não sabe o que pode acontecer. Ou seja, tenho respeito a todos eles".

Porém, independentemente das circunstâncias, Demian vê a participação dos atletas no programa como um sinal positivo de que o MMA pode estar ganhando um fôlego único no Brasil.

"Acho que foi um passo gigante, mostra que não tem como segurar a evolução do esporte aqui. Eu sabia que ia superar coisas como o boxe, porque é um esporte muito excitante, muito apaixonante de assistir. No octógono, tudo pode acontecer: o cara pode ganhar por um nocaute, chave de perna, de braço, mata-leão, por pontos. É uma imprevisibilidade muito interessante, atrai muita gente. Além de exigir um atleta de altíssimo nível, o que estimula a admiração da pessoas".

Sinto um desgosto de estar no mesmo ambiente que ele, afirma Demian após derrota em Abu Dhabi
Sinto um desgosto de estar no mesmo ambiente que ele, afirma Demian após derrota em Abu Dhabi
Foto: AFP
Jornal do Brasil Jornal do Brasil
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