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Ainda sem 'estigma de copeiro', Verdão de 98 levou 1º duelo ante Peixe

24 nov 2015 - 10h12
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“Verdão não é copeiro”. Em tom de defesa, Luiz Felipe Scolari evitou reforçar a ideia de que teria importado o modelo de jogo que o consagrara no Grêmio. Então técnico do Palmeiras, em 1998, enfrentava o Santos como adversário pela semifinal da Copa do Brasil. Ainda amargando o vice de 1996, diante do Cruzeiro, o clube tinha como meta a conquista da Libertadores, que viria no ano seguinte. Para Felipão, que chegara ao clube em 97, a Copa do Brasil representaria seu primeiro título à frente da esquadra alviverde.

O elenco do Verdão em 98 chamava a atenção pelo trabalho coletivo. Os meias goleadores, como Alex e Zinho, completavam a boa fase vivida por Paulo Nunes e Oséas no ataque. No setor defensivo, Arce, Roque Júnior, Cléber e Júnior seguravam a bronca na área que pertencia a Velloso - Marcos ainda era banco.

Os números mostravam um Palmeiras com boa capacidade ofensiva, apesar do jogo centrado no meio-campo. Nas nove partidas que disputou até a semifinal, quando encontrou o Santos, marcou 17 gols. Passadas pouco menos de duas décadas, o clube segue com bons números nesta edição da Copa do Brasil: o Verdão tem o melhor ataque, com 23 gols, e marcou em todas as partidas fora de casa.

“Acho que foi sempre um conjunto, o grupo que o Palmeiras tinha criado naqueles cinco anos era muito bom. Você não tinha 11 jogadores, você tinha um grupo. Jogávamos Copa do Brasil, Libertadores, Paulista, e sempre chegávamos nas finais. Isso é o grupo. Acho que uma coisa que dá para comparar (com a equipe atual) pode ser isso: de repente o Palmeiras conseguir fazer um grupo de grandes jogadores como foi naquela época”, contou Roque Júnior à Gazeta Esportiva ao lembrar dos tempos de Parmalat.

Entre 1992 e 2000, o clube foi patrocinado pela empresa italiana. Durante este período, o Palmeiras viveu uma das fases mais vitoriosas da história, com 11 títulos: Torneio Rio-São Paulo (1993, 2000), Campeonato Paulista (1993, 1994, 1996), Campeonato Brasileiro (1993, 1994), Copa do Brasil (1998), Copa Mercosul (1998), Libertadores (1999) e Copa dos Campeões (2000).

“Nós conseguimos ganhar e é muito difícil ganhar. Hoje, observando de fora, a gente vê cada vez mais a dificuldade que se tem de sair vencedor”, afirmou o zagueiro, que teve a primeira passagem pelo clube no final dos anos 1990, retornando entre 2008 e 2009. No último ano, o ex-defensor arriscou até carreira de treinador ao assumir o comando do XV de Piracicaba.

O encontro com o Santos, na semifinal de 98, terminou em dois empates: 1 a 1 no Palestra Itália e 2 a 2 na Vila Belmiro. O critério de gols fora de casa garantiu ao Verdão a classificação para a final daquele ano, quando conseguiu a revanche sobre o Cruzeiro pelo vice de 1996.

Às vésperas do segundo encontro com o Peixe na história da Copa do Brasil, o cenário é outro. Contando com um novo patrocinador, o time alia o alto investimento da Crefisa à arrecadação cada vez maior advinda do programa de sócio torcedor, que já figura entre os maiores do país. O elenco inchado, em grande parte por conta das 25 contratações feitas desde janeiro, ainda é parte de uma reformulação vivida pelo clube. Ao observar o cenário vivido no momento da primeira conquista do torneio, Roque Júnior evita fazer comparações com o time atual. “Não são os mesmos jogadores, não é o mesmo treinador, a época é diferente também.”

Se o Santos hoje assusta como rival, com bom aproveitamento no segundo turno do Campeonato Brasileiro, além de contar com o atacante Ricardo Oliveira, artilheiro da competição, há 17 anos o clube não parecia tirar o sono dos jogadores do Palmeiras.

“Nesse tipo de fumaça eu já entrei várias vezes”, brincou o lateral Neném, em entrevista ao jornal A Gazeta Esportiva em maio de 98, após a classificação do Peixe para a semifinal. “Já joguei contra o Santos e não tem nada demais.”

A própria cobrança interna era diferente. O grande foco do clube não era necessariamente o título da Copa do Brasil, mas sim um trabalho que desse frutos no futuro. “Nós nunca cobramos títulos, mas bom desempenho”, disse o então presidente Mustafá Contursi em entrevista ao jornal A Gazeta Esportiva pouco antes da classificação do Verdão para a final do torneio.

Na atual conjuntura, existe pressão por parte da diretoria por uma conquista relevante, seja ela da Copa do Brasil ou uma vaga para a Libertadores de 2016. O título seria o primeiro da gestão de Paulo Nobre.

Caminhada rumo ao título e ousadia de Felipão 

A campanha do Palmeiras até a semifinal da Copa do Brasil de 98 teve apenas uma derrota. Após passar pelo CSA, a equipe goleou o Ceará por 6 a 0 na primeira fase. Nas oitavas, levou um susto diante do Botafogo no jogo de ida, perdendo por 2 a 1 no Maracanã. A vitória sobre os cariocas no segundo jogo, por 1 a 0, garantiu a vaga nas quartas, quando o Verdão conseguiu avançar diante do Sport após uma vitória e um empate.

Enquanto aguardava o próximo adversário, que sairia do confronto entre Santos e Paraná. Diante da possibilidade de enfrentar um rival direto como o Peixe, o ponta Almir não quis demonstrar preocupação. “Para falar a verdade gosto de jogar clássicos, não importa o adversário”, disse na época.

O confronto de ida, realizado em 19 de maio de 1998, no Palestra Itália, terminou com o empate por 1 a 1. Élder abriu o placar para o Santos aos 17 minutos do primeiro tempo ao arriscar um chute de fora da área; a bola ainda desviou em Roque Júnior antes de entrar. O empate veio aos 12 do segundo tempo. Pedrinho bateu de fora da área, Zetti espalmou, Paulo Nunes aproveitou o rebote e cruzou na cabeça de Oséas, que balançou as redes rivais. O atacante começou a partida no banco e entrou na segunda etapa na vaga de Alex. Para apimentar o clássico, ambos os times tiveram um expulso de cada lado: Narciso e Cléber levaram o vermelho após uma confusão na área alvinegra, aos 35 do segundo tempo.

Depois do empate, Oséas analisou a dificuldade do confronto fora de casa, principalmente após o gol santista no Palestra Itália. “Vai ser bastante difícil ganhar o jogo na Vila Belmiro, porque a torcida lá incentiva bastante o Santos”. Da mesma forma, Felipão também reconheceu que a semana que se seguiria seria de trabalho intenso na Academia de Futebol.

“Demos muito espaço para o Santos no primeiro tempo. Tanto que eles aproveitaram essa falha e marcaram o seu gol. Vamos corrigir isso para a partida de sábado”, pontuou o técnico, que admitiu uma tática arriscada diante do rival após o primeiro gol.

“É uma tática suicida, porque o Almir, o Paulo Nunes e o Oséas não voltam para marcar e o meio-de-campo fica vulnerável”. Após a expulsão de Clebão, Almir precisou deixar o gramado para a entrada de Agnaldo.

Precisando da vitória ou de um empate acima de 1 a 1, o Palmeiras enfentou o Santos na Vila Belmiro no dia 23 de maio. Eficiente na marcação, o Verdão conseguiu a classificação pela igualdade no placar, que terminou em 2 a 2. Felipão surpreendeu ao iniciar a partida com Darci e Oséas nas vagas de Almir e Alex.

O Peixe saiu na frente outra vez com gol de Viola, aos 2 minutos do primeiro tempo. Agnaldo puxou um contra-ataque aos nove minutos e cruzou para Paulo Nunes. O jogador rolou para Oséas, que igualou os marcadores na Vila. No segundo tempo, Darci ficou a cargo de virar o placar com um chute da entrada da área. A vantagem alviverde permaneceu até os 23 minutos, quando Argel Fucks aproveitou um escanteio de Muller para cabecear e fechar o resultado em 2 a 2. A reação, no entanto, não foi rápida o suficiente para evitar a classificação palmeirense.

A decisão seria disputada contra o Cruzeiro, em reedição da final de 1996. Na ocasião, a Raposa levou o título pelo empate por 1 a 1 no Mineirão e a vitória por 2 a 1 no Palestra Itália. Dois anos depois, a equipe celeste sairia novamente na frente ao vencer o primeiro duelo por 1 a 0. Mas a conquista ficaria com os paulistas, que derrotaram o time mineiro por 2 a 0 no último jogo e levantaram a taça de campeões da Copa do Brasil pela primeira vez.

Ainda sem títulos da Copa do Brasil, Felipão buscava frear os comentários sobre a boa fase alviverde. Sem estigma de copeiro, o time tinha por objetivo acrescentar no currículo títulos de importantes competições internacionais.

“Só podemos dizer isso do Palmeiras quando estivermos disputando torneios como Conmebol, Libertadores, etc, ou seja, quando enfrentarmos times estrangeiros. Quando o time jogar num estádio como o Centenário, em Montevidéu, ou num La Bombonera, em Buenos Aires, e conseguir grandes resultados, aí sim poderemos dizer que também somos um time copeiro”, declarou o treinador três dias antes do primeiro jogo com o Cruzeiro, sem saber ainda do título que os aguardava.

*especial para a Gazeta Esportiva

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