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O dia em que um repórter do Terra fez um gol em Marcos

7 dez 2012 - 07h44
(atualizado às 07h44)
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Esta história eu certamente contarei aos meus filhos. E aos meus sobrinhos, aos meus netos e a todos os parentes nas reuniões familiares. Mas enquanto não atinjo essa fase da vida, compartilho com vocês, internautas, a realização de um sonho de infância. Fiz um gol no Marcos. De pênalti, é verdade, e durante o último treinamento dele para o jogo de despedida. Só que, ainda assim, um gol no Marcos.

Não, este não foi o gol que eu marquei. Mas vamos fingir que foi...
Não, este não foi o gol que eu marquei. Mas vamos fingir que foi...
Foto: Fernando Borges / Terra

Esse feito se torna ainda maior para mim se levarmos em consideração minha ligação com o futebol: além de jornalista esportivo, sou palmeirense. Hoje em dia, talvez, seja mais jornalista do que palmeirense (sem demagogia, não é o meu fanatismo que paga minhas contas no final do mês). Mas aprendi a gostar daquele clube de camisa listrada em verde e branco em 1993, quando mal sabia escrever. E, assistindo à Libertadores de 1999, aprendi a amar incondicionalmente. Na vitória ou na derrota, na Libertadores ou na Série B, no Palestra Itália ou no Pacaembu, com Evair ou Gioino.

De 99 para cá vibrei, torci, pulei, cantei, gritei, xinguei, me decepcionei, me iludi, sofri e já até chorei, sim, pelo Palmeiras. Até que ontem à tarde estava escalado para acompanhar um treino do Marcos para a partida de despedida que ele vai jogar na próxima terça, no Pacaembu. E vou falar para vocês: não esperava lá grandes novidades, por conhecer a rotina de treinamentos de clubes de futebol.

Que heresia! Duvidei dos poderes daquele que, por maioria de votos, já recebeu título de santo.

No final do treinamento, o Marcos convidou os jornalistas que estavam na Academia de Futebol para cobrarem pênaltis contra ele. Vi de longe o que estava acontecendo e fui me aproximando, inicialmente, apenas para ver melhor. Em nenhum momento me havia passado pela cabeça dar também um chute, até que... quando percebi já estava na fila. O que eu estava fazendo?

Não iria voltar atrás, mas decidi também que não passaria vergonha. A primeira coisa que fiz foi amarrar o cadarço do pé esquerdo (não queria que meu tênis saísse voando e fotos minhas se tornassem virais como as do José Serra, durante a campanha para a prefeitura de São Paulo). A segunda foi já pensar em desculpas para justificar meu provável erro. E ali eu percebi que os clichês dos boleiros caem muito, mas muito bem nessas horas: “pé de apoio escorregou”, “o gramado não é dos melhores”, “a bola é leve demais”, “senti uma fisgada na coxa”, “só erra quem bate”, “só bate quem erra”...

Além disso, eu tinha muitos outros argumentos para usar: calça jeans, tênis inapropriado, não chuto uma bola de futebol há três anos, estou me recuperando de um resfriado forte... e, cá entre nós? Era contra o Marcos que eu iria cobrar um pênalti. Errar um pênalti contra ele não é motivo de vergonha para ninguém (ok, talvez o Marcelinho Carioca não pense assim). Então resolvi relaxar: escolhi o canto onde chutaria, tracei minha estratégia e esperei minha vez.

Assisti às cobranças dos colegas, e eram poucos (não se enchia uma mão) os que conseguiam vencer o Marcos, que continuava pegando quase tudo. Até que chegou minha vez. Ajeitei a bola na marca, preparei minha canhota, tomei distância e dei toda a pinta de que chutaria no canto direito do Marcos – essa era a minha estratégia, para chutar no outro lado. Só que fiz quase tudo ao contrário. Corri mal para a cobrança, peguei estranho na bola... até demorei para levantar a cabeça e ver o rumo que tinha tomado aquele pênalti desastroso. 

De verdade, não sei o que aconteceu. Só vi que a bola estava lá balançando a rede e o Marcos estava lá, sorrindo, sem jeito. Também sorri, fiquei extremamente feliz. Mas, juro para vocês, não vi meu gol. Foi tudo tão rápido... ouvi depois que eu tinha cobrado direitinho. Que tinha metido no ângulo. Que tinha dado uma porrada como um zagueiro argentino. Também falaram que o Marcos já tinha cansado. Talvez seja a hipótese mais sensata.

Ainda não sei como vai ser meu gol quando eu contar a minha versão fantástica e fantasiosa para meus filhos, no melhor estilo de “Big Fish (Peixe Grande e suas histórias maravilhosas)”, aquele filme do Tim Burton, enchendo de encanto o simples relato de um pênalti mal batido que entrou. Mas isso não vem ao caso agora.

Chegando em casa, contei para o meu irmão, "quase" xará do Marcos (ele se chama Marcus, na verdade) e mais fã do goleiro do que do Palmeiras, como havia sido meu dia. Ele pareceu não dar muita bola para o meu gol. “Cara... ele fez isso por quê? Por ser legal? Olha só... por isso que o Marcos é quem ele é. Tem gente aí que não fez 10% da carreira do Marcos e é tão arrogante, se acha tão superior... e olha só como é o Marcos, tão gente boa”.

Meu irmão me fez pensar. E, de tanto pensar, acho que para os meus filhos pouco importa contar se um dia eu bati um pênalti e a bola entrou. O que eles deverão saber, e vão saber, é quem foi Marcos. Santo por maioria de votos. Padroeiro de uma torcida carente. Um exemplo muito além do mundo da bola. Um exemplo de pessoa. Um ídolo. 

Não posso me deixar levar por ter acertado, na sorte, um chute dentro do gol, e esquecer quem eu sou: um palmeirense, fã daquele goleiro careca, carismático, competente e pavio-curto. Por isso, e por muito mais... Obrigado, Marcos.

Fonte: Terra
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