Título mundial controverso do Palmeiras faz aniversário; relembre
- Diego Garcia
- Direto de São Paulo
Domingo, 22 de julho de 1951. O Palmeiras entrava em campo para livrar o Brasil de uma vergonha: o Maracanazzo de 50, protagonizado pelo Uruguai diante de um Maracanã lotado, ainda estava vivo na memória do povo brasileiro. O mesmo Maracanã, dessa vez, seria o palco da redenção de um time, que tinha uma missão: derrotar a Juventus-ITA e se sagrar campeão do mundo. Foi o que aconteceu. Mas, 61 anos depois, a conquista da Copa Rio pelo clube alviverde continua controversa e não reconhecida pelas principais entidades futebolísticas do planeta.
A Fifa não pretende homologar a conquista ao patamar de um título mundial. A opção da federação, contudo, nem sempre foi assim. Noticiários da época comprovam a participação da entidade na organização do torneio. A própria Fifa oficializou o Palmeiras como o primeiro campeão mundial de clubes da história em 2007, por meio de um fax assinado pelo dirigente Urs Linsi, mas recuou da decisão e a cancelou, revoltando a equipe brasileira.
Hoje, o torneio é encarado pelos palmeirenses como um título mundial de fato, mas não tem o reconhecimento da principal organização de futebol do planeta. No site oficial do clube paulista, no setor onde é possível ver todos os troféus da história alviverde enumerados, a Taça Rio de 1951 é descrita como um "Mundial Interclubes", opinião compartilhada pelos torcedores do clube paulista.
O que foi a Copa Rio de 1951
A CBD (Confederação Brasileira de Desportos, que futuramente viraria CBF) decidiu organizar o Torneio Internacional de Clubes Campeões (popularmente conhecido como Copa Rio) pouco depois da perda do título da Copa do Mundo de 1950, quando a derrota do Brasil para o Uruguai em pleno Maracanã frustrou o País. Visando manter viva a paixão dos brasileiros pelo esporte, o torneio vinha com o intuito de também tornar um clube brasileiro campeão.
Os times convidados para participar foram: Juventus (campeã italiana de 1949/50), Nice (campeão francês), Sporting (campeão português), além do iugoslavo Estrela Vermelha, do uruguaio Nacional, do austríaco Austria Viena e dos brasileiros Vasco (campeão carioca) e Palmeiras (campeão paulista). De todos, o grande favorito era o time do Rio de Janeiro, apontado por toda a imprensa como o provável campeão.
Mas o Palmeiras foi campeão após avançar à semifinal com a vice-liderança de sua chave, que terminou com a Juventus em primeiro e com Estrela Vermelha e Nice eliminados. O adversário então foi o Vasco, que foi derrotado por 2 a 1 na ida e empatou por 0 a 0 na volta. Os palmeirenses reviram o time italiano na decisão, tendo vencido por 1 a 0 e empatado por 2 a 2, ficando assim com o título.
Fábio; Salvador, Juvenal; Túlio, Luís Villa, Dema; Lima, Ponce de León (Canhotinho), Liminha, Jair da Rosa Pinto e Rodrigues formaram o time alviverde que entrou em campo no jogo decisivo contra a Juventus, e o treinador era Ventura Cambon. A escalação entrou para a história do Palmeiras como a primeira a erguer um título mundial pelo clube do Palestra Itália.
Festa em carro aberto e multidão nas ruas
De acordo com o periódico da época Vida Esportiva Paulista, uma grande festa foi feita pela torcida para comemorar a conquista. "Não há lembrança mesmo na história do esporte paulista de recepção equivalente", dizia a publicação assinada por José Guedes Torino. Os adeptos alviverde lotaram desde a Estação Roosevelt até o Parque Antárctica apenas para saudar os campeões mundiais pelo Palmeiras. De acordo com A Gazeta Esportiva do dia 25 de julho de 1951, um milhão de pessoas foram às ruas celebrar.
Chancela da Fifa na organização do torneio
O jornal O Globo Sportivo publicou, em janeiro de 1951, que o então presidente da Fifa, Jules Rimet, havia dado apoio incondicional ao Brasil para realizar o torneio no Rio de Janeiro. O engenheiro Ottorino Barassi, secretário geral da entidade, foi até nomeado pela Federação Internacional para fazer parte do Comitê Organizador da competição. Os periódicos franceses L'Equipe e France Football também deram destaque ao tema.
Jornais da época destacaram a conquista
Os jornais brasileiros de 1951 deram ampla repercussão ao feito palmeirense. A Gazeta Esportiva, por exemplo, principal diário esportivo do Brasil na ocasião, chamou a conquista de "O maior título do futebol brasileiro", e escreveu em seu primeiro parágrafo a seguinte frase: "O público (...) ainda comemora o brilhante feito do Palmeiras, sagrando-se campeão mundial de clubes (...), um dos mais expressivos títulos obtidos em toda a história do futebol brasileiro".
O jogo do título - 22 de julho de 1951
Ficha técnica
PALMEIRAS 2 x 2 JUVENTUS-ITA
Gols
PALMEIRAS:
Rodrigues e Liminha
JUVENTUS:
Praest e Boniperti
PALMEIRAS: Fábio; Salvador, Juvenal; Túlio, Luís Villa, Dema; Lima, Ponce de León (Canhotinho), Liminha, Jair da Rosa Pinto e Rodrigues;
Treinador: Ventura Cambon
JUVENTUS: Giovanni Viola; Bertucceli, Manente; Mari, Parola, Bizzoto; Miccinelli, Karl Hansen, Boniperti, Johan Hansen e Praest;
Treinador: Carver
Árbitro
Gaby Tordjman (França)
Público
100.933 presentes (82.892 pagantes)
Local
Estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro (RJ)