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Vivi o pior dos sentimentos quando caí no Palmeiras, diz Levir Culpi

14 nov 2012 - 08h00
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Levir Culpi tem escrito um livro sobre seus 41 anos de futebol com o nome "Um burro com sorte", detalhando os 25 jogos mais marcantes das carreiras como jogador e técnico. E o capítulo dedicado ao Palmeiras é um dos mais tristes. Sob o título "O pior dos sentimentos", o treinador relembra a campanha do rebaixamento no Campeonato Brasileiro de 2002.

Direto do Japão, onde está na tentativa de salvar o Cerezo Osaka do rebaixamento na liga local, Levir Culpi falou por telefone com a Gazeta Esportiva.net. E não escondeu o peso da derrota por 4 a 3 para o Vitória, na Bahia, em 17 de novembro de 2002, quando foi constatada a ineficiência de seu trabalho na luta para evitar que o Verdão disputasse a segunda divisão pela primeira vez em sua história.

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O treinador comandou o Verdão em 18 partidas, todas naquela fatídica campanha de dez anos atrás. Foram cinco vitórias, seis empates e sete derrotas, resultados justificados hoje por Levi como fruto da falta de união entre jogadores, comissão técnica, torcida e diretoria. "Foi parecido com o que está agora", comparou.Gazeta Esportiva.net: Você aceitou há um mês viajar até o Japão para salvar o Cerezo Osaka do rebaixamento na J-League. Há dez anos, assumiu um desafio parecido...

Levir Culpi: (Interrompe) Exatamente, no Palmeiras. Mas eu já era o terceiro técnico (antes passaram Vanderlei Luxemburgo e Murtosa, além dos interinos Paulo César Gusmão e Karmino Colombini). E o problema maior é que nos sete primeiros jogos o Palmeiras só venceu um, tinha apenas seis pontos. Foi difícil se recuperar matematicamente.

GE.net: Que lembrança você tem daquele momento?

Levir Culpi: Fiz um livro com 25 jogos inesquecíveis dos quais participei como jogador e técnico. O capítulo do Palmeiras tem o título "O pior dos sentimentos", sobre o jogo na Bahia em que perdemos para o Vitória por 4 a 3 e o time caiu. Fiquei triste pela nossa incompetência, chegamos tão perto...

GE.net: Foi o jogo mais triste da sua vida?

Levir Culpi: Talvez. Você fica triste quando perde um jogo, um campeonato, mas, quando cai para a Série B, a decepção é maior. São jogos que te machucam, doem muito.

GE.net: Como foi a volta para São Paulo depois daquela derrota na Bahia?

Levir Culpi: Tínhamos medo da torcida, aquelas coisas. Pegamos o ônibus no aeroporto e os jogadores foram saltando no caminho, cada um em um lugar. Cheguei sozinho no ônibus a um hotel, fui direto dar entrevista coletiva. Só eu falei.GE.net: Você sofreu muito com a pressão da torcida?

Levir Culpi: Na verdade, por incrível que pareça, eu não tinha rejeição da torcida. Eles entendiam a minha situação. Eu já era o terceiro técnico, e o time jogava bem nos clássicos. Fui meio que poupado pelos torcedores, eles nunca me xingaram.

GE.net: O que faltou para o Palmeiras se salvar naquele ano?

Levir Culpi: O time jogava bem nos clássicos, mas contra os times considerados menores se enroscava porque tinha muita pressão da torcida. E a diretoria queria se matar na época. Foi parecido com o que está agora. É difícil controlar as divergências de um time grande.

GE.net: Essa pressão foi decisiva?

Levir Culpi: As pessoas perdem o controle, existiu muito extremismo, sabe? Uns estavam apaixonados tentando salvar o time e outros tentavam enterrá-lo. Íamos para os jogos e a torcida se virava contra a diretoria, jogava ovos. Era uma situação delicada. Quando você está tentando livrar um time grande do rebaixamento, o clima fica muito pesado.

GE.net: Então faltou união?

Levir Culpi: Não estávamos juntos. A diretoria, a torcida, a comissão técnica e os jogadores estavam divididos. Foi o que mais pesou. Foram todos muito profissionais conosco, mas a pressão ficou muito forte.

GE.net: Teve algum problema com os jogadores na época?

Levir Culpi: O grupo de trabalho foi tranquilo, foram todos muito profissionais, não tivemos problemas. Mas não conseguimos, faltou competência para nos fecharmos entre nós. Apesar dos pesares, não tenho nenhuma queixa.

GE.net: Assumir o Palmeiras em 2002 foi a missão mais complicada da sua carreira?

Levir Culpi: Não. Até porque na época o presidente era o Mustafá Contursi, que foi muito legal comigo. Ia a todas as palestras que fazíamos e nunca pressionou nem encheu o saco. Foi um cara bacana.GE.net: No ano seguinte, você foi adversário do Palmeiras na Série B e subiu com o Botafogo...

Levir Culpi: Depois que fomos rebaixados, eu estava decepcionado, com o ego meio para baixo. O Bebeto (de Freitas) era o presidente do Botafogo e me convidou. Passou pela minha cabeça: ‘E agora, vou para o Botafogo? Já imaginou se não consigo subir? Caí com o Palmeiras, o que vai ser da minha carreira se não subo com o Botafogo?’. Mas, se eu não fosse, nunca iria saber. Resolvi ir. E me senti recuperado da derrota com o Palmeiras.

GE.net: De certa forma, você acabou participando da festa do acesso palmeirense, na derrota por 4 a 1 do Botafogo no Palestra Itália, na última rodada da Série B de 2003, quando os dois times já estavam garantidos na primeira divisão.

Levir Culpi: Fomos passear em São Paulo. Na rodada anterior, tínhamos jogado com o Marília em casa, ganhamos e ficamos cinco minutos esperando acabar o jogo do Palmeiras com o Sport em Pernambuco. Quando deu o resultado da vitória do Palmeiras e subimos, eu me senti bem. Comemoramos muito, foi bacana. Era um momento de união, com todos fechados para voltar. Times como Botafogo e Palmeiras não podem ficar na Série B.

GE.net: Você agora está salvando o Cerezo Osaka do rebaixamento e já subiu com o time na segunda divisão do Campeonato Japonês em 2007. Dá para comparar com as duas situações similares que você viveu no Brasil?

Levir Culpi: Não, de jeito nenhum. O futebol japonês não tem comparação com o futebol brasileiro. Quase tudo aqui é bom e quase tudo no Brasil é ruim. Mas não conseguimos ter aqui a mesma paixão e emoção que só o Brasil oferece, aquele prazer da vitória. O Japão entende tudo mais como esporte, em que você vence ou perde. Falta um pouco de adrenalina. No Brasil, futebol é uma guerra.

Gazeta Esportiva Gazeta Esportiva
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