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Com história de tolerância, Paraná se surpreende por racismo
O caso de racismo envolvendo o jogador Marino, do São Bernardo, com dois torcedores do Paraná, a princípio não preocupa tanto o clube paranaense, que não possui histórico de atos racistas. A cúpula tricolor ainda aguarda o desenrolar da história para poder se posicionar. Por enquanto, a direção apenas deixa claro ser contra o ato praticado na noite de quinta-feira, na Vila Capanema.
“O Paraná não compactua com essas atitudes e vai colaborar no que for necessário para que as pessoas sejam identificadas”, afirmou Celso Bittencourt, vice-presidente de futebol, que já disponibilizou as imagens das câmeras internas instaladas no Estádio Durival Britto e Silva.
Já Giovani Linke, superintendente geral, disse que o clube vai esperar a sequência dos fatos e não sabe ainda as possíveis consequências. “Isso tudo depende da denúncia e do que foi colocado na súmula”, afirma.
Sobre a questão da súmula, divulgada nesta sexta-feira no site da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), o fato de o atleta da equipe paulista acusar os torcedores do Paraná de racismo não foi relatado. Nenhuma especificação diferente foi citada pelo árbitro Flavio Henrique Coutinho Teixeira, de Minas Gerais.
Paulo Schmitt, procurador-geral do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), explicou os próximos passos. “Temos que avaliar com calma. Atleta e clube têm que apresentar os documentos necessários à Procuradoria. Tem várias penas previstas, tanto para torcedores e pessoas físicas quanto aos clubes. A pena depende da gravidade. São várias penas previstas: perda de mando, perda de pontos e até exclusão”, informou.
Origens
É a primeira vez na história de 24 anos de existência em que o Paraná se envolve na polêmica do racismo. Em nota oficial divulgada na tarde de sexta, o clube faz leve menção ao seu passado. “Racismo só tem explicação em um lugar: no dicionário. E, nós, paranistas, repudiamos qualquer ato de preconceito. Nossa história e nossas origens comprovam isso”, afirma o texto.
Um dos sete times originários do clube, na última fusão que também envolveu o Pinheiros, o Colorado sempre foi conhecido como o "time do povão". O apelido com o mascote da equipe, inclusive, era o “Boca Negra”.
Maior artilheiro do clube é negro
Principal ídolo na história do Paraná, Saulo de Freitas é o maior artilheiro da equipe paranaense, com 104 gols em 208 jogos vestindo a camisa azul, vermelha e branca. Sua cor? Negra. De acordo com o atleta, algo precisa ser feito em relação a esse problema.
“Foi lamentável. Há alguns meses ocorreu com o Tinga e, ao invés de pararem, estão só aumentando. Nosso país é com mistura de raças. Nunca pensei que o Paraná fosse passar por isso, já que o maior artilheiro sou eu: um negro”, declarou.
Saulo, o "Tigre da Vila", ainda acredita que isso foi algo isolado e que a torcida em si não compactua com o racismo. “A torcida do Paraná não é culpada. Não podemos generalizar. Todos ali cansaram de me aplaudir e gritar meu nome, e eu sou negro”, completou.
Pistas
O clube, desde a divulgação do fato, vem trabalhando para auxiliar e achar os verdadeiros culpados pelo crime realizado no estádio. “Estamos auxiliando a polícia na identificação e detenção dos fatos. Foram atos isolados, que não nos representam”, afirma Carlos Vageti, responsável pelo jurídico paranista.
O advogado, inclusive, disse que já estão perto de achar os dos torcedores que ofenderam Marino. “As câmeras possibilitam identificar quem são. Estamos trabalhando nisso. Posso dizer que temos pistas e suspeitos dos que cometeram esses atos”, finalizou.
