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PB recebe fisiculturismo; professor de física tenta bicampeonato

Ricardo Barguine quebra estereótipos com uma "dupla identidade": é formado em física, possui mestrado, chegou a iniciar um doutorado e é o atual campeão brasileiro em sua categoria de fisiculturismo

2 ago 2013 - 12h56
(atualizado às 15h40)
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Não é por maldade, mas já está um pouco enraizado na sociedade o estereótipo de um professor de física - ou de grande parte de matérias de exatas: homem, magricelo ou gordinho, óculos fundo de garrafa, introvertido, sério, nerd, corte de cabelo “comportado”... quase um personagem de The Big Bang Theory. Imagine, porém, se você se depara na sala de aula com um homem de 1,88 m, quase 100 kg, super musculoso e campeão brasileiro de fisiculturismo. Estranho, não? E o carioca Ricardo Barguine sabe muito bem como é isso.

Barguine, 39 anos, é uma das principais atrações do Campeonato Brasileiro de Culturismo e Musculação, que será realizado neste final de semana em João Pessoa, na Paraíba. Mas ele não é “apenas” o atleta atual campeão da categoria clássica, até 96 kg, e sexto colocado do Mundial de 2012. Quando não está com o corpo “rasgado” trincando os músculos para jurados, está se exercitando. Intelectualmente, inclusive. Ele se formou em física, concluiu um mestrado em ciências e chegou a iniciar um doutorado nesta mesma área. Além disso, ainda é coordenador do curso de engenharia na Universidade Veiga de Almeida, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Surpreso? Pois é, este que vos escreve também ficou. 

Foto: Divulgação

“Na academia o pessoal fica meio surpreso quando descobre minha formação acadêmica e o meu trabalho. Jamais poderiam imaginar isso. E, na faculdade, toda vez que eu entro em uma turma nova, as pessoas normalmente ficam olhando para a minha cara, meio céticas em relação à minha capacidade intelectual”, admitiu Ricardo, que consegue aniquilar um pré-conceito (e um preconceito, por que não?) a respeito intelectuais atléticos e atletas intelectualizados.

“Não sou aquele cara que é bitolado só no que está fazendo e fica alheio ao mundo. Tenho até que procurar tomar cuidado para não ficar naquela coisa do rótulo”, salientou Barguine, que paga um preço alto para ter essa “dupla identidade”. O dia dele começa às 5h30 e termina só à 1h. Exige disciplina, força de vontade, treino pesado e, acima de tudo, uma alimentação rigorosa.

Ricardo, que começou a malhar em 1993, se alimenta a cada três horas e chega a fazer quatro refeições por dia fora de casa, mas evita comer em restaurantes. Ele leva a própria marmita, sempre muito farta em peito de frango grelhado, salada, batata-doce, arroz e macarrão integrais. Sem tempero, caldo, molho, condimento... “Se eu tenho um evento, como festa de casamento, normalmente levo a própria comida. Eu mesmo preparo, na noite anterior ou de manhã antes de sair de casa. Às vezes nem preciso esquentar”, conta.

O acadêmico Ricardo, neste final de semana, participa do Brasileiro de Culturismo e Musculação – que vale vaga para o Mundial, na Hungria, no final do ano. O evento será realizado nos dias 3 e 4 de agosto e pode consagrar Barguine com o bicampeonato - mais um título impressionante para ele, que começou a competir profissionalmente no ano passado. 

Mas, independentemente do resultado que obtiver em João Pessoa, o multifacetado atleta quer ir além: após reconhecimento nas áreas acadêmica e esportiva, ele admite interesse, inclusive, de se aventurar no ramo artístico. E já tem uma oportunidade para isso: ele participou da gravação de um dos seis episódios da série Destino Rio de Janeiro, do canal por assinatura HBO.

“Não sou pretensioso, mas gostaria muito que acontecesse alguma outra oportunidade além dessa. Só que tenho que ter modéstia, porque você não constrói um ator da noite para o dia. Espero que as pessoas de cinema e TV possam dizer se eu tenho uma queda para isso ou não. Sempre tive interesse”, reconheceu o atleta, que tem exemplos claros de fisiculturistas que entraram, com êxito, no mundo do cinema: Arnold Schwarzenegger, Lou Ferrigno (que protagonizou a série O Incrível Hulk) e Dwayne "The Rock" Johnson, seu “sósia” de Hollywood, segundo pessoas próximas.

“Quando alguns amigos souberam que eu gravei o episódio para a série do HBO, falaram que já estava na hora de o The Rock brasileiro sair na TV. Eu acho que não tem grande semelhança, não, mas talvez achem isso por causa do meu tom de pele, do meu tamanho, do cabelo raspado...”, brincou.

Foto: Divulgação
Leia trechos da entrevista e conheça mais sobre Ricardo Barguine

Como você começou a malhar?

Quando entrei na faculdade, em 1993. Eu tinha 1,88 m e pesava 68 kg. Comecei a fazer musculação porque era muito magrinho e meu corpo foi reagindo bem, desenvolvendo bem. Mais ou menos uns 6 anos depois que eu tinha começado a malhar eu já estava 120 kg. E aí 12 anos depois cheguei ao meu auge de tamanho e peso: 128 kg. Hoje, quando não estou em competição, tenho por volta de 104 kg, mas disputo categorias até 96 kg.

E por que você decidiu começar a competir?

Meu corpo foi reagindo e eu comecei a me cobrar, porque eu tinha potencial mas ao mesmo tempo não era minha profissão. De oito anos para cá eu já estava programando começar, mas meu pai morreu em julho do ano passado e um mês depois decidi competir, como uma maneira de me focar em outra coisa e diminuir a dor da perda dele.

Como é a sua alimentação?

Chego a fazer quatro refeições por dia na rua, mas todas eu levo de casa. Nunca como coisas compradas na rua porque a minha alimentação tem que ser mais rigorosa, com suplementação, vitaminas... Tenho que comer peito de frango, batata-doce, salada, comida integral. E ter certo rigor e controle no tempero, e em coisas de rua que é mais complicado. Treino há 20 anos, e apesar de ter começado a competir há um ano, há mais de dez tenho essa rotina de levar alimentação para o trabalho. Se tiver evento, casamento, normalmente levo a minha própria.

E a sua rotina?

É muito puxada, meu dia começa 5h30 e termina 1h. O tempo que passo fora é trabalho, academia, trabalho, até chegar em casa e preparar o dia seguinte, e fora isso dividindo tempo com a família, tenho uma filha de sete anos. Os feriados prolongados não digo nem que são para descansar, mas para organizar minhas coisas para o primeiro dia útil.

Você quebra estereótipos, né?

São duas coisas bastante engraçadas. Na academia, quando as pessoas ficam sabendo que eu tenho formação acadêmica e do meu trabalho, elas ficam meio surpresas. Jamais poderiam imaginar isso. E na faculdade, toda vez que eu entro em uma turma que ainda não tinha aula comigo, as pessoas normalmente ficam olhando meio céticas em relação à minha capacidade intelectual. Mas no final todos acabam me conhecendo como uma referência, que consegue unir as duas coisas: esportes e estudos. É só não ter muita pressa: o problema hoje é isso, com a juventude maluca. Os caras entram na academia e acham que com seis meses vão ficar assim como eu. Eu brinco que fiz meu projeto verão para dali a cinco anos.

O pessoal não se espanta?

De vez em quando tem aqueles comentários. “Sério mesmo que você é professor, mestre? Sério que você não passa o dia inteiro malhando, comendo e levantando peso?” É meio inusitado, mas era um certo espanto na academia e na faculdade também. Mas sei também dançar conforme a música: se você entrar no meu Facebook, assim como eu posto uma foto contraindo o braço, coloco logo em seguida um artigo sobre Física.

Fonte: Terra
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