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Londres 2012: Cidade teme invasão de prostituição ilegal durante Olimpíada

Apesar dos temores recorrentes em grandes eventos, dados mostram que alertas não foram confirmados.

7 jun 2012 - 08h59
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Autoridades, polícia e imprensa britânicos já demonstraram preocupação com o aumento da prostituição e tráfico sexual durante os Jogos Olímpicos este ano.

Este tipo de alerta geralmente precede os grandes eventos esportivos, como Olimpíadas e Copa do Mundo, supondo que gangues internacionais tentariam tirar proveito do fluxo iminente de espectadores.

Mas será que a prostituição em Londres realmente aumentará por causa da Olimpíada de 2012?

Tudo indica que, apesar dos temores de que milhares de mulheres serão traficadas para o país anfitrião para satisfazer os desejos sexuais das multidões, não há evidências de que a prostituição venha a bater recordes olímpicos.

''Ímã para o sexo''

Em janeiro de 2010, Tessa Jowell, então ministra para as Olimpíadas no governo britânico, disse a deputados: "Os principais eventos esportivos pode ser um ímã para a indústria do tráfico sexual. Isso é totalmente inaceitável e estou determinada a evitar que os traficantes explorem Londres 2012".

As suspeitas da ministra ganharam fôlego quando Dennis Hof, dono do Moonlite Ranch Bunny, um bordel gigante em Nevada, EUA, disse, em maio deste ano, esperar que Londres receba "1.000 meninas traficadas por violentas gangues do Sudeste Asiático, albanesas e africanas, envolvidas em crime e drogas".

Hof, que quer abrir um bordel legal durante os Jogos Olímpicos, baseia sua previsão no que ele diz ter visto em 2010 nos Jogos Olímpicos de Inverno em Vancouver, Canadá.

Mas estas advertências são confiáveis?

Os Jogos Olímpicos de 2004, em Atenas, parecem ter sido o primeiro evento esportivo internacional importante a ter invocado alertas generalizados sobre o aumento de prostitutas e trabalhadores do sexo em situação ilegal. E frequentemente diz-se que o tráfico sexual quase o dobrou.

No entanto, um relatório da Aliança Global Contra o Tráfico de Mulheres (GAATW, na sigla em inglês) mostra que o número de casos confirmados desse crime em Atenas em 2004 foi de 181, contra 93 em 2003 - muito longe dos muitos milhares que autoridades previam para o período.

Nenhum desses 181 casos foi relacionado aos Jogos, segundo as autoridades gregas.

Antes da Copa do Mundo 2006, na Alemanha, avisos semelhantes foram emitidos pelos meios de comunicação e várias autoridades, mas de acordo com um relatório da União Europeia, de janeiro de 2007, o governo alemão só encontrou cinco casos de tráfico ligados ao torneio.

''Sensacionalismo''

O relatório também afirma que "o aumento da prostituição forçada e do tráfico de seres humanos para fins de exploração sexual durante a Copa do Mundo de 2006 na Alemanha, temido por alguns, não se materializou", sem "qualquer sinal das supostas 40 mil prostitutas forçadas - número repetidamente alardeado na mídia internacional".

Simplesmente não há evidências de que esse tipo de coisa acontece.

E, no entanto, a Copa do Mundo de 2006 tem sido usada como um exemplo de um caso em que um grande número de prostitutas foi pago para fazer sexo por um grande número dos participantes do torneio.

Ainda sobre Copas do Mundo, um estudo financiado pelas Nações Unidas e realizada após o torneio de 2010, na África do Sul, descobriu que não havia qualquer mudança significativa no número de homens que visitam prostitutas durante o evento.

Mas a especulação antes daquela edição do torneio era de que entre 40 mil e 100 mil profissionais do sexo de todo o mundo entrariam na África do Sul.

Os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de Inverno de 2010, realizados em Vancouver, no Canadá, também foram objeto de especulação similar - mas de acordo com um estudo realizado posteriormente por pesquisadores da Universidade de British Columbia, o tráfico em massa de mulheres não aconteceu.

O estudo diz que "apesar da cobertura sensacionalista da mídia" antes dos Jogos, não houve "qualquer evidência para apoiar as preocupações".

Muitos usaram as experiências dos gregos, alemães e sul-africanos para formar um argumento de que Londres terá que se preparar para um aumento do número de trabalhadores do sexo.

''Algumas evidências''

Por isso, mais do que dois anos depois de ter lançado o alerta sobre os jogos, a ex-ministra Tessa Jowell, admitiu que "a inteligência (policial) sugere que é improvável haver tráfico em larga escala em Londres como resultado dos Jogos".

"Há algumas evidências que sugerem que os eventos desportivos internacionais podem criar demanda por sexo pago devido ao fluxo de turistas, trabalhadores, empreiteiros, meios de comunicação e, na verdade, os próprios atletas. Embora isso seja contestado".

Jowell também diz que "é difícil saber" se a falta de evidência para a relação entre eventos esportivos e o tráfico de mulheres "foi o resultado das medidas que foram postas em prática" por seus funcionários", ou se simplesmente a ameaça não se materializou.

O serviço da Polícia Metropolitana (Scotland Yard) contra Exploração Humana e Crime Organizado (SCD9) foi criado no início de 2010. A unidade tem uma equipe focada em crime nos cinco distritos olímpicos - Newham, Hackney, Waltham Forest, Tower Hamlets e Greenwich.

''Mais vulneráveis''

No entanto, um relatório da própria polícia, publicado em outubro de 2011, afirma que a "inteligência policial não confirma qualquer aumento na prostituição nos bairros Olímpicos e mostra, na verdade, uma diminuição em alguns locais".

Um porta-voz da Scotland Yard diz que o SCD9 foi criado "com base em avaliações feitas ao longo de três anos atrás". "O tempo passou e não vimos qualquer aumento no tráfico ligadas com as Olimpíadas", acrescenta.

Deputado conservador na Assembleia de Londres, Andrew Boff compilou detalhes do relatório da polícia, e também diz que "não há forte evidência de que o tráfico para exploração sexual aumente durante eventos esportivos".

Ele também afirma que as blitz em bordéis aumentaram à medida que os Jogos Olímpicos se aproximavam, com 80 sendo fechados no distrito de Newham nos últimos 20 meses.

Sarah Walker, do Coletivo Inglês de Prostitutas, ecoa essa visão, dizendo que batidas policiais frequentes em bordéis do Leste de Londres representam uma repressão pré-Olimpíada - com a qual a entidade está "indignada".

No entanto, a Scotland Yard negou realização de qualquer repressão, dizendo "não ter aumentado as operações em bordéis nos cinco bairros Olímpicos" e que apenas "respondeu às preocupações locais de moradores e empresas sobre a prostituição de rua".

Outro grupo que representa os trabalhadores do sexo, x:talk, está pedindo uma moratória sobre as prisões, a detenção e deportação de trabalhadores do sexo até o final dos Jogos Olímpicos.

Uma porta-voz diz que batidas policiais em bordéis, particularmente no Leste de Londres, estão levando os trabalhadores do sexo para mais longe de sua rede de apoio de colegas de trabalho e serviços de saúde.

"Em última análise, prender essas mulheres e invadir seus locais de trabalho apenas as torna mais vulneráveis", diz ela.

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