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Entenda a polêmica sobre o tamanho de próteses do Paraolímpico

Considerado o biamputado mais veloz do mundo, Oscar Pistorius reacendeu discussão após derrota para brasileiro.

3 set 2012 - 16h28
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A primeira grande polêmica dos Jogos Paraolímpicos, que envolveu o brasileiro Alan Fonteles e o sul-africano e campeão mundial Oscar Pistorius no último domingo, polarizou atletas e comentaristas esportivos em torno de um tema ainda cercado de dúvidas: qual é o tamanho máximo permitido para as próteses dos corredores?A controvérsia surgiu logo após a vitória de Fonteles na final dos 200 metros rasos, cujo recorde era detido por Pistorius, também conhecido como ''Blade Runner'' e considerado até então o bi-amputado mais rápido do mundo.Fonteles, que ultrapassou Pistorius nos instantes finais da corrida para conquistar o ouro paraolímpico, foi acusado pelo sul-africano de ter sua altura ajustada em "quatro polegadas acima do permitido"."Sem tirar o mérito do desempenho de Alan, mas esses caras estão muito maiores e você não pode competir (com eles)", afirmou Pistorius, logo após a derrota.O sul-africano também reivindicou que o Comitê Paraolímpico Internacional (CPI) discutisse o tamanho legal das próteses.O CPI discorda, afirmando que a vitória foi legítima. Segundo a organização, todos os competidores tiveram suas próteses auditadas antes da corrida, de acordo com o manual de classificação.Existe um corolário de regras complexas que definem o limite de altura das lâminas que compõem as próteses. A proporção é regulada de acordo com a altura do atleta amputado.O guia de CPI do ano passado determina uma fórmula detalhada para o cálculo do tamanho das próteses e leva em conta características anatômicas, dimensões e outros fatores.No entanto, em linhas gerais, o tamanho máximo de um atleta com as próteses é resultado da média dos seguintes cálculos:1. A distância do osso do ombro "entre o ponto do ombro (processo do olécrano) e o estilóide da ulna". Essa mesma distância é então projetada dentro de uma altura hipotética com a ajuda de um gráfico.2. O "demi-span". Essa é a distância do topo do tórax, próximo à garganta, até o dedo médio com os braços abertos no seu limite - da "incisura esternal até a ponta do dedo do meio no plano coronal". Essa medição é feita com o atleta de pé com as costas posicionadas contra uma parede, com o ombro direito na posição de 90 graus e com a palma da mão erguida à sua frente. A altura máxima de pé é então calculada seguindo a seguinte fórmula:Mulheres (altura das próteses em centímetros) = ((1,35 x demi-span (cm)) + 60,1.Homens (altura das próteses em centímetros) = ((1,40 x demi-span (cm)) + 57,8.Aa razão entre a projeção da altura do osso do ombro e a altura do "demi-span" é a estimativa final da altura máxima de pé. Assim, o atleta, munido de suas próteses, não pode ficar mais alto do que esse número acrescido de uma diferença residual de 2,5%, para mais ou para menos (3).Quando o atleta tem apenas uma perna amputada, eles podem ter uma prótese que é mais curta ou mais longa do que o outro lado da perna.Apesar de os cálculos minuciosos que orientam o manual de classificação do CPI, sempre há espaço para debate. O argumento de Pistorius é de que tal metodologia está errada ou que a letra da lei não foi imposta.O sul-africano, que detinha o recorde mundial da modalidade (200 metros rasos), disse que, embora haja um procedimento-padrão de checagem das lâminas protéticas antes da competição, "os fiscais raramente fazem a medição na sala de espera".Ao fazer tal declaração, Pistorius teria dado a entender de que lâminas diferentes poderiam ser adicionadas à prótese após a inspeção.A indireta foi negada por Fonteles, que, por sua vez, alegou que usou as mesmas próteses utilizadas no mês passado.Pistorius criou em torno de si uma aura de que era o atleta bi-amputado mais rápido do mundo, uma espécie de Usain Bolt com próteses. Ele também foi um modelo inspiracional do movimento paraolímpico, ao vencer barreiras legais para se tornar o primeiro atleta amputado a competir nos Jogos Olímpicos, em Londres deste ano.Por todos esses motivos, a medalha de prata foi considerado um choque.SoberbaPara o especialista em Jogos Paraolímpicos Tony Garrett, há uma sensação de dejá vu. Quando Pistorius apareceu pela primeira vez a público, o homem a ser batido era o americano Marlon Shirley, amputado de apenas uma perna.Quando Pistorius venceu Shirley na final dos 200 metros rasos nas Olimpíadas de Atenas, em 2004, os mesmos questionamentos foram levantados, incluindo acusações do campeão perdedor. "Quando Oscar Pistorius derrotou Marlon Shirley, Shirley afirmou que as próteses de Pistorius também eram maiores", disse Garrett.Para Garrett, polêmicas à parte, o campeão sul-africano teria sido derrotado simplesmente porque "cantou vitória antes do tempo"."Eu acho que Pistorius estava confiante na vitória e foi pego de surpresa. Em caso afirmativo, foi um erro que acabou lhe custando o ouro", afirmou.

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