Pistorius nega status e descarta "trocar de pernas" após polêmica
29 ago2012 - 06h36
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Danilo Vital
Direto de Londres
O sul-africano Oscar Pistorius enfrentou uma complicada jornada até fazer história em Londres, em agosto, ao se tornar o primeiro biamputado a competir em uma edição de Olimpíada. Apesar das dificuldades e da grandiosidade do feito, ele negou que abriu as portas para que outros deficientes participem do evento, relembrou a polêmica por conta do uso de próteses e descartou "trocar de pernas".
"Há atletas treinando com corredores sem deficiência, outros correndo em meetings e competições regionais. Eu só trabalhei muito duro para provar que era possível competir em nível internacional. Não é que agora que eu consegui que as portas estão abertas. Elas sempre estiveram muito antes de eu competir", minimizou Pistorius, mundialmente famoso pelo feito inédito.
Para alcançar tamanho prestígio, Pistorius teve que superar a deficiência - suas pernas foram amputadas abaixo do joelho porque nasceu sem a fíbula, um dos ossos da perna -, se destacar no cenário paralímpico e então almejar espaço entre os não-deficientes. Em julho de 2007, competiu pela primeira vez desta forma, em Roma, terminando os 400 m em segundo lugar na final B (para aqueles que não disputam medalha) do Golden Gala da Federação Internacional de Atletismo (Iaaf).
Alguns meses depois, precisou passar por uma série de exames cobrados pela Iaaf para determinar se suas próteses não trariam vantagens indevidas - por conta da impulsão, da leveza e outras características. Acabou banido das competições para não-deficientes, situação que só mudou em maio de 2008, por decisão da Corte Arbitral do Esporte.
Pistorius recebeu apoio massivo do público, o que o tornou de certa forma um líder da causa paralímpica. Mesmo assim, não acredita que tenha aberto portas. "As próteses que eu uso foram criadas e colocadas à disposição do público em 1996, e só em 2007 foi contestada. Então, se alguém tivesse se qualificado nesses onze anos, teria passado pelas mesmas coisas que eu passei. Essa porta esteve aberta durante esse período", concluiu.
Se a polêmica deixou sequelas, elas podem ser vistas na postura que o sul-africano agora assume em relação ao desenvolvimento de novas próteses. Ele desconsiderou o debate sobre a possibilidade de melhorá-las com uso da tecnologia, afirmando que, em última instância, "isso não importa", mesmo se seus adversários tomarem a decisão de seguir por esse caminho.
"As próteses que nós temos são aquelas que são justas", pontuou. "Eu estou bem satisfeito usando o que nós temos, e definitivamente vou usar as mesmas próteses de perna até minha aposentadoria", complementou o atleta, dono de cinco medalhas paralímpicas - quatro de ouro e uma de bronze. Pistorius é favorito à conquista dos 200 m e 400 m em Londres, e ainda lutará por pódio nos 100 m.
Seleção Brasileira de futebol de cinco treina para os Jogos Paralímpicos de Londres, que começam nesta quarta-feira, ciente de que vai ser difícil manter a hegemonia
Foto: Fernando Borges / Terra
Com duas medalhas nas únicas edições em que o futebol de cinco esteve presente no programa das Paralimpíadas, equipe busca subir mais uma vez no lugar mais alto do pódio
Foto: Fernando Borges / Terra
Fórmula para repetir o sucesso tem alguns ingredientes: conscientização, trabalho duro e "boleiragem"
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A pressão sobre os atletas totalmente cegos é maior na capital britânica porque o sucesso de Atenas 2004 e Pequim 2008 os credenciou
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"Está todo mundo esperto com a gente", afirmou o ala Ricardinho, eleito o melhor do mundo em 2006 e destaque constante da equipe
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"Temos que ter o pensamento de que vai ser cada vez mais difícil, e é verdade, porque se é complicado ganhar um ouro, mais ainda é mantê-lo", diz Ricardinho
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Prova disso, segundo o atleta, foi a dificuldade enfrentada já em Pequim 2008, na segunda edição do futebol de cinco na Paralimpíada; Brasil foi campeão vencendo a China no fim
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"A equipe favorita sempre tem mais responsabilidade, os rivais dão mais vontade para conseguir nos bater. A gente tem que estar ciente, e está sendo assim", diz Ricardinho
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Presente nas duas campanhas do título, o goleiro Fábio Luiz Vasconcelos - que não possui deficiência física - apontou um fator extra ao comentar a relação entre os jogadores: a boleiragem
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Os jogadores cegos têm a mesma postura, o que deve ajudar a equipe em quadra
Foto: Fernando Borges / Terra
"É a mesma coisa. Eles fazem brincadeira um com o outro, enchem o saco", diz Fábio, aos risos
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Durante o treinamento desta terça-feira, em Chigwell, a reportagem do Terra pôde presenciar o clima descontraído dos atletas
Foto: Fernando Borges / Terra
Durante as pausas nas atividades físicas, por exemplo, alguns deles se provocavam com chutes, aos risos, ou tentando "laçar" uns aos outros com equipamentos de treino
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É apelido, historinha, música de um para o outro. É uma zona", complementou Fábio, se divertindo com os colegas
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Competição do futebol de cinco em Londres acontecerá entre 31 de agosto e 8 de setembro
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Brasil está no Grupo A, ao lado de China, França e Turquia; no Grupo B, estão Argentina, Grã-Bretanha, Irã e Espanha
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Apenas os dois melhores de cada chave avançam; jogos serão disputados na Riverbank Arena