PUBLICIDADE

Copa do Mundo

Psicólogas alertam: confinamento pode atrapalhar a preparação

20 mai 2010 - 18h33
(atualizado em 21/5/2010 às 13h59)
Compartilhar
Rafael Thomé

Nesta sexta-feira, 21 de maio, a Seleção Brasileira se reúne em Curitiba para iniciar a preparação para a Copa do Mundo e lá fica até o dia 26, quando embarca para a África do Sul. Caso cheguem à final, jogadores e comissão técnica ficarão confinados por 53 dias em um regime de concentração bem diferente do clima mais "festivo" em 2006.

Hotel The Fairways vai abrigar os jogadores brasileiros por quase dois meses
Hotel The Fairways vai abrigar os jogadores brasileiros por quase dois meses
Foto: The Fairways / Divulgação

Em 2006, em Weggis, na Suiça, a entidade que comanda o futebol nacional decidiu abrir os treinos, com direito à venda de ingressos ao público e camarotes para os patrocinadores da Seleção. O acesso ao hotel era mais livre, mas, desta vez, até os familiares dos atletas terão o acesso restringido.

"Sobre 2006, eu acredito que geralmente nós (brasileiros) pegamos o que deu errado em uma Copa e fazemos exatamente o inverso na outra. Tem de haver um meio termo, pois em um torneio de tiro-curto tem que se evitar alterações emocionais e sócio-psicológicas, como o desgaste entre os jogadores em decorrência do convívio de quase dois meses", disse a psicóloga Regina Brandão, que trabalhou com Felipão na preparação para a Copa de 2002.

Luiz Felipe Scolari optou por consultar a profissional, pois acredita que o desempenho esportivo depende de quatro fatores determinantes: técnico, tático, físico e emocional. Qualquer desequilíbrio em um desses fatores pode prejudicar a atuação de um jogador.

"Durante uma partida, o atleta vivencia diferentes emoções, como alegria, tristeza, raiva, medo, gana, decepção, e outras. Um gol feito pode ser a alegria máxima, e em dois minutos um gol sofrido pode mudar tudo isso. O atleta tem de saber lidar com o dinamismo das emoções", diz Regina.

Sobre o fato de o técnico Dunga não levar um profissional da área para acompanhar a Seleção, a psicóloga Nair Couto, que já trabalhou com Carlos Alberto Parreira, se mostra preocupada. "Acho arriscado não ter um acompanhamento psicológico. Podemos escolher trabalhar com um psicólogo ou não, mas não podemos escolher trabalhar com o emocional. Ele (emocional) sempre está lá", afirma.

O técnico Dunga tem o estilo parecido com o de Felipão: fala a "linguagem" dos jogadores, investe na força do grupo (prova disso foi a convocação de atletas que estão mal em seus clubes, mas tem prestígio com o comandante) e é enérgico. Porém, Regina Brandão alerta.

"A preparação é mais que pedir garra e determinação. Isso já é esperado de uma equipe de futebol. Não é sinal de fraqueza um treinador ou jogador ter acompanhamento psicológico. O convívio intenso desgasta. Há estudos que dizem que um bom convívio dura por volta de 20 dias. Após esse período, os conflitos começam a surgir".

Serão mais de 50 dias em que um vai olhar para a cara do outro, e o outro vai olhar para a cara do um. As manias e neuroses, aliadas ao alto nível de ansiedade, podem ser o estopim de rusgas entre os jogadores.

"A Copa tem uma característica particular, que é uma competição curta, de alta intensidade (sete jogos em um mês) e que tem um ciclo de quatro anos. Quando chegam à Seleção, nem todos os jogadores estão prontos para o estresse de uma competição nesse nível", diz Suzy Fleury.

A psicóloga, que auxiliou Vanderlei Luxemburgo enquanto ele treinava Seleção Brasileira entre 1998 e 2000, conta que "a partir do momento que sai a convocação, o jogador já entra no processo de ansiedade, fator que pode complicar o atleta durante um torneio de tiro-curto".

O enclausuramento dos jogadores sempre foi motivo de polêmica. Na Copa de 1986, o atacante Renato Gaúcho foi cortado por retornar à concentração depois do horário permitido, e o técnico Telê Santana ainda viu o lateral Leandro pedir dispensa em solidariedade ao amigo.

Apesar das críticas, as psicólogas concordam que Dunga acertou em, provavelmente, optar por quartos individuais para os convocados. "Assim, cada um tem seu espaço próprio, o que pode aliviar a tensão entre eles", afirma Regina Brandão.

Independentemente do modo como a Seleção Brasileira vai se preparar, as psicólogas estão confiantes no trabalho de Dunga.

"Ele já passou por muitas situações e trabalhou com muitos treinadores diferentes e, apesar de ser seu primeiro trabalho como técnico, ele não vai ter problemas com a falta de experiência", disse Regina Brandão.

"O Dunga é um cara com bagagem, um gato escaldado. Ele já participou de 3 Copas (90, 94 e 98) e já viveu muito esse clima. Ele é um cara enérgico, que sabe motivar, e mesmo sem acompanhamento psicológico, pode levar a Seleção a fazer uma grande Copa", comentou Suzy Fleury.

Fonte: Terra
Compartilhar
Publicidade