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De volta à Olimpíada, procura pelo rúgbi cresce entre mulheres

7 abr 2011 - 08h26
(atualizado às 09h17)
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Bruno Romano
Direto de São Paulo

As sete edições do Sul-Americano feminino de rúgbi Sevens tiveram um único vencedor: o Brasil. O último torneio realizado na cidade de Bento Gonçalves (RS), no fim de janeiro, foi conquistado de forma invicta. Aliás, jogando dentro do continente, a Seleção nunca perdeu uma partida - e os resultados têm atraído os holofotes para a modalidade, que entrará na Olimpíada em 2016. A maior visibilidade já incentivou uma nova geração de jogadoras, que promete dar trabalho na disputa pelas vagas da Seleção. De volta aos treinos após o título, as selecionadas passaram por baterias de testes físicos e trabalhos com bola no último fim de semana, em São Paulo.

"O aumento de atletas nos clubes é bastante significativo", aponta João Nogueira, treinador da Seleção feminina de Sevens. "O mais importante para nós é o olhar que os clubes passaram a dar para suas equipes femininas. O treinador deixou de ser aquele cara que não tinha mais nada para fazer no time, e era delegado com a função. Isso está mudando. Pessoas com mais experiência estão treinando as meninas nas equipes e isso já trouxe atletas muito mais bem preparadas para a última seletiva da Seleção", explica.

Embaladas pelo bom rendimento do Brasil nos últimos anos, as novas jogadoras encontraram um cenário bem melhor do que as meninas que fizeram parte do crescimento do esporte, em um trabalho que começou há pelo menos 10 anos. Mas as atletas experientes não reclamam da maior concorrência, pelo contrário, comemoram a procura pelo rúgbi feminino.

"Já passamos por tempos com cinco meninas treinando. Hoje aparecem garotas do nada. As novas chamam mais gente e isso vem crescendo muito", diz Mariana Ramalho, titular da Seleção e atleta do SPAC, eleita melhor jogadora no último Sul-Americano.

"O rúgbi é um esporte muito completo, de família. Meus melhores amigos, com quem saio, me divirto e viajo, estão aqui. A gente viaja muito, conheço meninas de todo Brasil. É um esporte que apaixona qualquer um", completa.

Capitã da Seleção, Julia Sarda também notou a maior procura no Desterro, clube de Florianópolis. "Mais gente sabe o que é rúgbi hoje em dia. As pessoas buscam informação e aparecem nos clubes", diz a atleta, presente desde o primeiro Sul-Americano, em 2004.

"A gente começou sem estrutura, só com um treinador que apostou em nós e muita dedicação", explicou. O esforço inclui acordar às 5h30 para fazer musculação e treinar após o trabalho de professora, em uma escola particular da capital catarinense.

Julia também não tinha muita informação sobre o rúgbi quando começou: "entrei no rúgbi por causa de uma amiga da universidade. Eu estava reclamando de ter sido expulsa por ter feito cinco faltas em um jogo de basquete e falei pra ela: 'gosto de um jogo de mais contato'. Ela respondeu: 'devia tentar o rúgbi'. Fui a um treino, me apaixonei pelo esporte e estou aqui até hoje".

Por ser uma modalidade de contato, o rúgbi sempre enfrentou uma barreira com os novos adeptos. O trabalho de dirigentes e treinadores, no entanto, tem ajudado a quebrar esse paradigma.

"O feminino ajuda muito os clubes a quebrarem o preconceito com as crianças. Todos os esportes de contato assustam um pouco no início. O rúgbi é mais que um esporte de contato, é de impacto. Se o movimento não é correto pode machucar, temos o trabalho de ensinar o que e básico para as atletas e melhorar isso o tempo inteiro", explica o treinador da Seleção.

"Treinar categorias de base e mulheres é muito similar, pois você tem de ensinar bem os fundamentos. As meninas, ao contrario dos homens, não nascem brigando, rolando no chão e jogando bola na rua. Uma menina, em geral, para passar uma bola a dez metros não tem a mesma força que um menino. Ela tem que fazer o movimento correto e isso vale para chutar, entrar em contato e derrubar a adversária", completa João Nogueira.

O caminho para a Seleção

Com um bom rendimento nos clubes, o sonho de todas as meninas é embarcar na vitoriosa campanha da Seleção de Sevens. A modalidade, disputada entre duas equipes de sete jogadoras, em dois tempos de sete minutos, estará de volta aos Jogos Pan-Americanos 2015, em Toronto (Canadá), e na Olimpíada de 2016, no Rio de Janeiro.

Mas para chegar ao grupo é preciso passar nas seletivas, em uma bateria de testes que implicam correr 50 m em menos de 7,9 s, por exemplo. Além disso, os treinadores e preparadores, que observam as partidas femininas pelo Brasil, fazem testes de Vo2, impulsão horizontal e vertical, dentre outros.

O grupo atual conta com 23 jogadoras, mas em uma competição internacional apenas 12 viajam. Isso porque a Seleção é dividida em grupos. Entenda como funciona:

Azul

É o grupo de alto rendimento, de onde são escolhidas atletas quando há uma competição de alto nível. São as que estão mais desenvolvidas e entrosadas e participaram da vitória no último Sul-Americano.

Amarelo

Outras 10 meninas participam deste grupo de desenvolvimento. Estão em um patamar ligeiramente inferior em termos de técnica e habilidade, mas caso uma das azuis se machucar ou não poder viajar, elas sobem para o azul. Este ano competirão em duas competições internacionais, em agosto e novembro.

Verde

São atletas com menos de 21 anos. Atualmente, sete garotas participam dos treinamentos no grupo Verde. É uma faixa etária considerada ideal para a Olimpíada de 2016.

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Foto: Ivan Pacheco / Terra
Fonte: Terra
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