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Dispensada pelo Santos, musa vai da "várzea" à Seleção em 2 anos

13 mai 2011 - 09h25
(atualizado às 13h32)
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Thiago Bordini Tufano
Direto de São Paulo

Apesar dos dotes futebolísticos, a volante Isabela Vieira, 20 anos, um dos destaques do Foz Cataratas, acabou sendo dispensada das categorias de base do Santos em duas oportunidades. "Sem espaço" no time que chegou a contar com as estrelas Marta e Cristiane e se tornou o de maior evidência do futebol feminino brasileiro, ela não desistiu. No início, Isabela jogava nos campos de terra da cidade de Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul, defendendo as cores do Comercial e, em apenas dois anos, chegou à Seleção Brasileira Sub-20.

Acostumada com a falta de estrutura e de incentivo, em 2008, a torcedora fanática do São Paulo e musa do futebol brasileiro fez seu primeiro teste no Santos. E com ele veio também o primeiro dos muitos "nãos" que ainda levaria na carreira.

Jogando pelo Comercial, Isabela enfrentou o Santos em meados de 2009, na estreia da craque Marta no Brasil, mas acabou perdendo por sonoros 10 a 0. No ano seguinte, em fevereiro, mais um teste no Santos e mais uma resposta negativa. Foi então que veio o primeiro contrato profissional no futebol, assinado com o Foz Cataratas, apenas um mês depois. Antes disso, Isabela jogava sem receber um salário mínimo sequer.

Em maio de 2010, recebeu a primeira convocação para Seleção Brasileira Sub-20. Em setembro, Isabela entrava em campo novamente contra o Santos, pelas quartas de final da Copa do Brasil. Mas, para surpresa de todos, a equipe do Foz eliminou as poderosas "Sereias da Vila", vencendo por 1 a 0 após um empate por 1 a 1 no primeiro jogo.

"Meus pais sempre me apoiaram em tudo, mas quando eu jogava nessas condições eles não entendiam porque eu fazia isso, já que não ganhava nada, mas eu gostava de jogar, jogava por amor e sempre pensando no meu futuro e com esperança de um dia poder ser vista. Mesmo assim insisti na ideia e falei para o meu pai que um dia ele entenderia e iria me ver conquistando títulos", afirmou Isabela, em entrevista exclusiva ao Terra.

No entanto, agora a jogadora está em uma fase difícil da carreira. Com 20 anos, Isabela não pode mais jogar no Sub-20 e disputará com atletas do primeiro escalão uma vaga na Seleção Brasileira principal.

Apesar da concorrência, a volante sonha com uma vaga na equipe verde e amarela para disputar os Jogos Olímpicos de Londres 2012. "É muito difícil ser convocada, as meninas são experientes, mas quero tentar fazer meu trabalho e tenho esperança porque esse é o meu sonho", disse ela.

"Eu procuro não ter muita expectativa, mas venho treinando e vamos ver no que dá. Ano passado passei pela Seleção Sub-20 e lá deu para perceber a diferença entre ser jogadora e ser atleta. Tive meu momento na Seleção e quero ter de novo, com certeza por muitas vezes, porque todos querem a Seleção. Agora vai ser bem mais complicado, mas venho trabalhando, tentando dar o melhor de mim para ter esse reconhecimento", completou a jogadora.

Estudante de fisioterapia, Isabela não deixou os livros de lado e tenta usar o futebol para abrir caminhos em sua curta carreira. "Jogava pela faculdade e o time tinha bolsa de estudos. Nunca imaginei só jogar futebol, como vem acontecendo ultimamente. Eu fiz dois anos de fisioterapia e, por enquanto, estou tentando conciliar o tempo com o futebol, mas o futebol não dá para abandonar", afirmou a apaixonada pelo esporte.

Assunto recorrente quando se fala em futebol feminino, Isabela acha um absurdo o preconceito com a modalidade. Não bastasse Marta ser eleita a melhor do mundo pela Fifa por cinco vezes, além das tantas medalhas e conquistas brasileiras em importantes competições internacionais, no País ainda é difícil ser jogadora de futebol.

"É nítido que está crescendo, e ainda mais com a presença da Marta. Isso aumenta nossa visibilidade, mas, às vezes, parece que estamos décadas atrás de outros esportes. Dizem que o Brasil é o 'país do futebol' e todo mundo acompanha, mas precisamos de mais apoio, patrocinadores, mais campeonatos, mais ligas, para ter mais visibilidade. Temos meninas, jogadoras com qualidades excepcionais. Então, precisamos de pessoas que apoiem ainda mais, com televisão, rádio, todos os meios de comunicação têm que colocar esse esporte em evidência".

Outro preconceito rebatido por Isabela é contra os rótulos dados às meninas do futebol. Inspirada no calendário feito pelas jogadoras do Santos com fotos sensuais no início deste ano, a atleta chegou a escrever um texto em resposta às críticas que diziam que elas estavam "vulgarizando" a imagem.

"Qual a necessidade de colocar jogadoras em fotos sensuais, de biquíni, no calendário? Foi pensado se isso é bom para a imagem do futebol feminino? E se fosse o vôlei ou qualquer outro esporte, existiria o mesmo preconceito? Estão muito preocupados com a imagem das jogadoras depois desse calendário sensual, mas para quem vive e acompanha sabe que a maioria das pessoas julga quem pratica a modalidade como 'sapatão', 'macho', etc".

"E é literalmente com esse vocabulário ignorante e chulo que se referem a nós. Poderia ter uma imagem pior que essa? Vai entender o ser humano. Talvez essa seja uma ideia buscando uma forma a mais de 'chamar a atenção' das pessoas e alterar essa imagem masculinizada do futebol no Brasil", diz parte do texto escrito por Isabela.

A jogadora acredita ainda que o título de "musa" só servirá para melhorar a imagem no futebol feminino. Segundo ela, não se pode perder a feminilidade só porque pratica um esporte mais conhecido entre os homens.

"Todo elogio é interessante e esse 'título' de musa também é bem bacana, pois agrega valores à minha imagem. Mas isso não trará nenhuma diferença dentro de campo, que é meu foco principal. Tenho que mostrar meu potencial dentro das quatro linhas".

Com ou sem fotos sensuais e o "rótulo" de musa, o que Isabela realmente quer é trilhar uma carreira no futebol, esporte que é apaixonada desde os seis anos, quando ainda praticava futsal.

"Uso o futebol para abrir caminhos", diz musa são-paulina:
Fonte: Terra
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