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Jogos Panamericanos 2011

Sucesso nos EUA, brasileiro decide no Pan futuro no boliche

3 ago 2011 - 07h42
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Anderson Rodrigues
Direto de São Paulo

Opção de diversão de adultos e crianças e tachado como uma brincadeira, e não um esporte, o boliche pode deixar este rótulo rumo à profissionalização no Brasil, assim como já é visto em muitos países. Quem tenta competir, convive diariamente com dificuldades financeiras, assim como outros esportes até mesmo olímpicos, como esgrima, hóquei sobre a grama e canoagem. Mas, entre os pinos brancos, surge uma luz no final da pista.

Eleito o melhor jogador universitário dos Estados Unidos na temporada 2010/2011, o paulista Marcelo Suartz, 23 anos, quer que o País do futebol se renda ao boliche no Pan, que este ano terá profissionais pela primeira vez desde que a modalidade integra a competição - entrou no calendário em 1991, em Havana. Ser o primeiro a viver exclusivamente da modalidade no Brasil é um sonho.

O boliche chegou ao Brasil na década de 60. Até hoje, inúmeras pistas seguem espalhadas pelo País, garantindo diversão por um preço salgado - em São Paulo, custa em média R$ 130 a hora em um final de semana, para seis pessoas. Boa parte dos que tentam levar a sério, chegando a competições, vem da "família do boliche". Um grupo fechado, com pais, filhos e netos praticando.

O ápice do boliche brasileiro foi conquistado em 1990 por Fernando Rezende, campeão mundial sub-23 nas Filipinas. Seu maior fã foi seu irmão, Fábio, que no último Pan, em 2007, no Rio, conquistou ao lado de Rodrigo Hermes a primeira medalha do País: prata em duplas. Atualmente, não conseguem sobreviver do boliche e abandonaram o esporte.

Marcelo Suartz, a nova promessa do boliche brasileiro, preferiu seguir o duro caminho do profissionalismo. Filho de jogadores - Edson e Marina, ex-Seleção e recordista sul-americana ao fazer 12 strikes em uma partida (derrubou todos os pinos e fez a pontuação máxima, os 300) -, Marcelo se espelhou no modelo universitário americano. Sucesso no basquete, futebol americano e beisebol, principalmente. O brasileiro estudou forte e entrou em 2008 na Webber International University, na Flórida.

"Assim como o basquete e o futebol americano universitário (famosos por formarem atletas para a NBA e NFL, respectivamente), escolhi uma universidade de ponta para treinar boliche e ter uma boa formação, tanto no boliche quanto em marketing. Isso, infelizmente, não é possível no Brasil", afirmou Marcelo ao Terra, atualmente no último ano e integrante da equipe Warriors, finalista do campeonato universitário americano na última temporada.

"Nossos jogos são transmitidos pela televisão (ESPN). A visibilidade lá é impressionante. Há atletas do mundo todo e fui eleito o 'Jogador do Ano'. É um orgulho enorme", disse. Ser considerado o melhor universitário nos Estados Unidos foi uma alegria e, ao mesmo tempo, uma responsabilidade para o brasileiro.

Investimento

Com 17 horas de treinos semanais, Marcelo divide o Centro de Treinamento da universidade com seleções profissionais, como americana e canadense, em períodos de torneios mundiais. Próximo à Disney World, não há tempo para diversão. Sua rotina de treinamentos e estudos é dividida com dois empregos: estágios na academia da universidade e em uma empresa de marketing que produz máquinas de alta tecnologia que calibram pistas de boliche com óleo.

Para melhorar sua performance em quadra, Marcelo conta com a ajuda de um preparador físico - com exercícios específicos para a modalidade -, uma nutricionista e, recentemente, um psicólogo. "O boliche é muito mais mente do que físico. Criei uma expectativa enorme em mim, o que gera pressão e ansiedade. Isso atrapalha demais numa prova de boliche. Um arremesso que define um campeonato dura sete segundos. Hoje estou me aperfeiçoando com técnicas de meditação, visualização e respiração", afirmou.

Marcelo termina este ano a universidade. Nas suas contas, gastará cerca de R$ 85 mil (R$ 130 mil) só em mensalidades, sem contar custos com moradia, alimentação e seguro-saúde. "Os estágios rendem pouco. O investimento é alto, mas se pensar no conjunto é recompensador", contou.

Sem o auxílio da Bolsa-Atleta, o jogador tem o apoio do EC Pinheiros, time que defende em competições nacionais, e de uma empresa de bolas. Cada uma custa, em média, R$ 580 e dura seis meses. Um profissional usa em média 12 bolas sob medida. Sem falar no custo com sapatos (R$ 350) e no uso do CT da universidade. Uma diária do aluguel da pista não sai por menos de US$ 500 (cerca de R$ 750).

Cobranças e futuro

No Pan de Guadalajara, os principais rivais de Marcelo serão os atuais líderes do ranking da PBA (Associação Profissional de Boliche): os americanos Chris Barnes, 41 anos, melhor jogador do mundo na temporada, e Bill O'Neill, 29 anos, o segundo. Barnes, como profissional, já ganhou em toda carreira US$ 1,8 milhão (R$ 2,8 milhões) só em prêmios. O pedido para ter profissionais no Pan foi uma iniciativa da WTBA (Associação Mundial de Boliche), que sonha em tornar a modalidade olímpica.

Marcelo acredita que, mesmo sendo universitário, pode voltar do Pan com medalhas, apesar de ter outros rivais profissionais, da Colômbia, Venezuela e Canadá. O brasileiro passou julho treinando em São Paulo, na pista do shopping Vila Olímpia, e já está na Flórida treinando para repetir o feito do Rio.

"Só quem acompanha o esporte sabe como será diferente no México, com os profissionais. Já ganhei e perdi dos americanos. Estou preparado, em todas os aspectos (técnico, tático e psicológico). Boliche é decidido na hora. Espero estar inspirado no dia", disse, ao completar sobre seu futuro.

"Uma medalha pode aumentar a visibilidade e os patrocínios podem aparecer. Não quero criar uma expectativa alta na minha carreira. Sei da realidade do esporte no nosso País. Amo boliche, sou brasileiro e vou fazer de tudo. Mas se terminar a universidade e não conseguir me manter financeiramente, seguirei a carreira de marketing", finalizou Marcelo, que abriu caminho para outros tentarem profissionalismo. Stephanie Martins, 19 anos, que faz parte da Seleção Brasileira que vai ao Pan, também entrou na universidade da Flórida. Márcio Vieira e Marizete Martins completam a equipe.

Marcelo Suartz, de 23 anos, enfrentará profissionais do boliche, algo inédito nos Jogos Pan-Americanos
Marcelo Suartz, de 23 anos, enfrentará profissionais do boliche, algo inédito nos Jogos Pan-Americanos
Foto: Reinaldo Marques / Terra
Fonte: Terra
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