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Ex-promessa santista desanda, cai na noite e mira recomeço

29 mar 2012 - 10h45
(atualizado às 11h09)
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Klaus Richmond
Direto de Santos

A tão esperada chance nunca veio. Aliado a isso, a perda do pai, seu maior incentivador, foi demais para a sua cabeça. Aos 23 anos, ainda com contrato com o Santos até fevereiro de 2013, Diego Monar, o zagueiro que crescia em qualidade a olhos vistos - maior promessa santista da posição desde Alex (atualmente no PSG, da França) -, perdeu o rumo em noitadas precoces, bebidas e abusos que lhe sugaram para baixo. Do fundo do poço, ele agora tenta retomar a carreira marcada por chances desperdiçadas.

» Santos promete "treino especial" a Monar; ex-diretor recorda exageros

E pensar que há pouco mais de quatro anos, o garoto se apresentava como capitão da Seleção Brasileira Sub-18, principal potencial na geração que revelaria Paulo Henrique Ganso, em 2008, e sonhava com a dúvida: jogaria no futuro pelo Barcelona ou Real Madrid?

O sonho, hoje, parece mais distante do que os cerca de 8,5 mil kms que separam Santos da Espanha. Diego ainda ganha cerca de R$ 11 mil mensais, mas se contenta apenas em reconhecer que se auto destruiu com a frequência em baladas de "segunda a segunda", como descreve. "Desencanei do futebol e adquiri a fama de baladeiro". "Não fiz de propósito, mas por descuidos acabei assim. Chutei o pau da barraca", admite.

A promessa nasceu em São Vicente, terra de Robinho, e chegou ao clube com 13 anos. Hoje, evita até mesmo ver a jogos do Santos na televisão. As lembranças dos tempos em que era tido quase como uma certeza se embaralham com os sonhos desperdiçados. Lembra do que poderia ser e, principalmente, até onde deveria ter chegado.

Entre os dirigentes, é tido como um dos principais casos de desperdício recentes do clube, com um grande poder autodestrutivo, mas incapaz de prejudicar antigos companheiros de base. "Ele só fez mal a si mesmo", relatou um antigo diretor da base.

O mal, no entanto, foi grande. Diego acredita ter sido enganado por seu empresário na assinatura do único contrato como profissional, chegou a ficar até 15 kg acima do peso ideal, e teme terminar a carreira sem realizar ao menos parte do sonho que projetou garoto: jogar profissionalmente.

O Santos, time de infância, não é mais uma realidade. Afastado até mesmo dos treinos, aguarda proposta para poder recomeçar. A fama não ajuda. Ele já saiu da lista de garotos promissores para ingressar na infeliz lista de garotos-problema.

Veja a entrevista completa com o zagueiro Diego Monar:

Terra - Quando você precisa explicar o que aconteceu com o Diego Monar, ex-zagueiro de Seleções de base e uma das principais apostas do Santos, o que argumenta?

Diego Monar - Estava no meu auge na base, treinando com o time principal. Assim que voltei da Seleção (no fim de 2007) pensei que fosse ter uma oportunidade, mas não tive. Aí passou um ano, dois anos, não me testaram, não me utilizaram e comecei a desandar, desanimar e a fazer besteiras. Foi assim que começou a fama que tenho até hoje de jogador de noite, baladeiro, coisas que pesam na minhas costas.

Terra - Você reconhece isso, então? Que fez bobagens ainda na base?

Diego Monar - Eu reconheço que logo que desencanei adquiri essa fama. Era balada de segunda a segunda.

Terra - Você se considera parte culpada por exagerar em noitadas e não se cuidar. Culpa quem te influenciou nesse caminho, também?

Diego Monar - Não vou falar que foi influência porque só vai na onda quem quer, não é? Foi mais uma coisa minha mesmo. Estava desiludido com a vida e comecei a sair, gostar da noite para aproveitar a pequena fama que eu já tinha e o nome que ganhei com a Seleção. Desandei por mim mesmo. Não posso culpar amigos ou outras pessoas. Acho que partiu de mim.

Terra - E qual é a sua rotina diária hoje? Ainda treina no Santos em horários alternativos?

Diego Monar - Hoje, por mim mesmo, para não ficar parado, faço academia duas vezes por dia. Mas só com a ajuda de um personal amigo meu que pago para não ficar parado.

Terra - O que seus amigos mais próximos falam sobre o fato de você ter desandado e ainda estar sob contrato com o Santos?

Diego Monar - Falam para não desanimar, pois pelo potencial que eu tenho posso dar a volta por cima. Amigos íntimos dizem que não posso parar e é isso que me incentiva a ir para a academia e esquecer um pouco do Santos, já que não estão me ajudando. Fui deixado de lado e faço por mim mesmo até aparecer alguma coisa melhor.

Terra - O que culminou para tudo isso? Eu sei que você precisou lidar com a morte do seu pai, é verdade? Foi o ápice negativo dessa fase?

Diego Monar - Eu já estava desencaminhado quando aconteceu o falecimento do meu pai, no fim de 2009. Isso só colaborou para que eu continuasse nessa vida. Hoje conheci a minha esposa (namorada), que deu um jeito na minha vida para que eu ficasse mais tranquilo e sossegado. Isso me ajudou bastante com a vida de noite, baladas e mulherada. Abandonei (as noites), estou sossegado quanto a isso, focando mesmo que seja na academia e nas corridas na praia para emagrecer.

Terra - Você foi enganado por alguém nesse meio?

Diego Monar - Fui, mas quando fui enganado por dinheiro foi logo no começo, mas depois disso superei, continuei, então não me influenciou muito.

Terra - Mas de que forma, exatamente?

Diego Monar - Bem no começo da minha carreira, empresário que promete uma coisa e não faz, que promete dinheiro. Tenho quase certeza que sim (fui enganado financeiramente), mas não posso afirmar. Na assinatura do contrato, quando renovei, nas luvas, acho que perdi. A parte que era certa não veio, não recebi tudo o que tinha de direito.

Terra - Hoje, aos 23 anos, já admite ser um ex-jogador precoce?

Diego Monar - Acho que não, sou muito novo, tem vários exemplos de jogadores que começaram bem mais velhos e eu estou desde o começo, dos 11 anos de idade jogando bola. Não me considero um ex-jogador.

Terra - Já teve acertos com outros clubes cancelados pela fama, por referências negativas?

Diego Monar - Aconteceu de não ir para time porque ligavam para o Santos e a diretoria falava que dentro de campo eu era excepcional, mas que fora de campo um problema. Perguntavam de mim e o Santos cobrava R$ 100 mil para desistirem, sendo que eu não havia jogado nenhum jogo. Não apareceu nada, há muito tempo não aparece, não sei qual a atitude deles hoje.

Terra - Mas você chegou a ser emprestado para um time do Sul? Por que não deu certo?

Diego Monar - Fui para lá (Inter de Santa Maria), acertaram tudo, mas tinham que pagar uma taxa de transferência de São Paulo para o Sul. O Santos não quis pagar e o Inter, quebrado, não tinha dinheiro. O que são R$ 4 mil para o Santos? Ficou nesse disse me disse e me mandaram voltar. Foi mais um baque, fui para lá para voltar a jogar novamente. Para mim era uma boa, queria muita e me deixaram de canto o resto do ano.

Terra - Com relação a diretoria atual, com quem conversa? Acha que pode dar a volta por cima no Santos mesmo?

Diego Monar - Não converso com ninguém mais dali. Não tenho contato com mais ninguém. Eu preciso sair um pouco. Acho que ficar aqui só piora. Se eu for para outro time, voltar com outra cabeça, diferente, me encaixaria novamente.

Terra - Ainda se vê jogando em alto nível, considera possível depois de tanto tempo?

Diego Monar - Acho que sim, jogar bola, quem sabe, nunca esquece. Com tempo, preparo, volta tudo ao normal, meu futebol volta a ser o mesmo.

Terra - Hoje quando você vê o Ganso atuando, o que passa na sua cabeça? Ele foi seu companheiro por longo tempo na base.

Diego Monar - Foram muitos campeonatos juntos, até competições que só éramos selecionados eu e ele dos nascidos em 1989. Éramos destaques, considerados os melhores do campeonato. Hoje ele está onde está e eu aqui. Poderia estar junto com ele se tivesse tido uma oportunidade.

Terra - Alguém ainda liga para você? Recebe telefonema de ex-companheiros, por exemplo, que chegaram o profissional? E o que sente?

Diego Monar - Com o Paulo mesmo converso pelo celular. Perguntamos como está a família, porque a minha sempre foi chegada na dele, sempre conversaram bastante. Ele pergunta como estou. O Thiago Carleto (lateral do Fluminense) também ainda falo pelo celular, às vezes. Sinto arrependimento por ter feito o que eu fiz, por ter chutado o pau da barraca. Acho que poderia estar na mesma situação que eles.

Terra - Chutou o pau da barraca, então? Fez de tudo para não ser jogador?

Diego Monar - Chutei o pau da barraca. Não fiz de propósito, mas por descuidos acabei assim.

Terra - Por que não subiu aquela vez quando voltou da Seleção?

Diego Monar - Eu estava bem e em forma. Era o meu momento. Chegavam diretores do Santos e falavam que eu era o melhor zagueiro que tinham, melhor do que os que estavam jogando, mas treinava no profissional e descia para jogar na base.

Terra - Com Dorival chegou a treinar, também?

Diego Monar - Treinei. Estava parado, acima do peso e ele disse que me queria pronto em um mês. Ele falou que ficou sabendo do meu potencial, que tinha informações que eu havia melhorado, mas aí treinei, me esforcei e não tive oportunidade de jogar. Mais uma desilusão.

Terra - Mas você chegou a ir para um torneio no Oriente Médio em 2010? Por que não foi mais aproveitado?

Diego Monar - Fizemos um amistoso nos Estados Unidos. Estava bem fisicamente, emagreci, mas quando voltei não joguei. O Adriano Pagode acabou dando certo depois, em um torneio em Abha. Fiquei feliz por ele, que conheço desde pequeno em São Vicente. Mas fico triste por não ter tido oportunidade.

Terra - O Márcio Fernandes o conhecia da base, por que não te aproveitou em 2008 e 2009? E os outros justificaram o que?

Diego Monar - Ele disse que tinha acabado de assumir o profissional e que não poderia tirar os jogadores mais experientes para eu poder entrar. Foi cautela dele, tinha acabado de subir dos juniores. Com o Muricy eu não trabalhei, o Cuca, também não. Eu subia e descia para jogar nos juniores, até acabar a idade.

Terra - Mas tenho informações que você já se apresentou 15 kg cima do peso. Foi uma contribuição significativa para não confiarem em você, não?

Diego Monar - Com o Dorival estava com um percentual muito alto de gordura. Ele falou que em um mês gostaria de ver muito resultado, para que eu ficasse "fininho". Eu estava parado, me ligaram em casa, aí falaram para eu me apresentar, cheguei para conversar com o Dorival e cumpri a meta. Só não joguei. Sempre perdi peso muito rápido, mas sempre tive tendência para engordar. Estou uns 6kg acima do peso hoje.

Terra - Hoje, por tudo o que se passou, evita ver jogos do Santos na televisão?

Diego Monar - Não gosto muito de ver, não, às vezes da um aperto no coração, vontade de estar lá dentro jogando. É para o futebol em geral, também. São muitos conhecidos, amigos que hoje estão jogando. Dá um aperto, bate um arrependimento.

Terra - E sua relação com os empresários como é? Acredito que alguns desistiram, não?

Diego Monar - Não cheguei a assinar com nenhuma empresa grande porque eu assinava com um, ficava naquela enrolação, falavam que iam ligar e não ligavam, daí descartava, assinava sem multa por rompimento. Eu falava que no dia que me arrumassem algo firme, assinaríamos com cláusula. Alguns ligavam algumas semanas, logo que assinavam, e depois sumiam, usavam o meu nome para se promoverem.

Terra - Foi enganado por eles também? E hoje admite ser uma peça pouco atraente no mercado?

Diego Monar - Alguns, sim. Não considero enganados também porque ajudei com a minha fama. Estou apagado, sumido no mercado.

Terra - Se pudesse fazer um marketing pessoal de que forma tentaria reconstruir a sua imagem tão arranhada precocemente?

Diego Monar - Primeiro gostaria de tirar essa imagem ruim de baladeiro, de noitadas. Isso que me atrapalha e muito. De resto, muitos treinadores e diretores me conhecem, sabem do meu potencial e quem conhece futebol sabe que não acaba sim. Ainda sou novo.

Terra - Mas precisou da ajuda de um psicólogo, ainda que do clube?

Diego Monar - A assistente social do Santos conversava muito comigo sobre o falecimento do meu pai. Falei muito com ela, me ajudou bastante no clube. O Paulo (de Carvalho, ex-diretor da base) foi um dos que mais acreditaram em mim, sempre soube do meu potencial. Eu tinha ele lá dentro como um amigo. Ele que me ajudava, era quase o único que falava bem de mim lá dentro.

Terra - Você já pensou em seguir outra profissão? Acha que responde ainda como um jogador diferente?

Diego Monar - Nunca pensei, só joguei bola desde os 8 anos. É totalmente diferente um cara que joga uma pelada. Acho que faço (a diferença), ainda. Com treinamento em um mês eu voltaria ao normal.

Terra - Desperdiçou muito dinheiro com as noitadas e abusos? Conseguiu comprar o que com o dinheiro que ganhou?

Diego Monar - Ajudei o meu pai, antes do falecimento, a comprar a casa que hoje mora a minha mãe. Comprei o meu carro, mas muito dinheiro eu desperdicei com a vida que eu levava de baladas e mulheres. Desperdicei muito, mas consegui comprar umas coisinhas quando a cabeça estava no lugar.

Terra - O que aconteceu em noitada? Já saiu carregado por amigos? Já foi parar em uma delegacia?

Diego Monar - Já cheguei a beber muito e bater o carro por conta de bebida. Mas nunca fui para uma delegacia.

Terra - Hoje é comum isso no futebol, estouraram alguns casos recentes. Andando com más influências e levando essa vida, chegou a experimentar drogas?

Diego Monar - Oferecer muitos oferecem nesse mundo horrível, mas o meu pai sempre me orientou muito bem. Minha mãe, também. Nunca precisei usar isso.

Terra - No futebol, podemos te considerar um mau exemplo na base. Acha que dentro da sua família, foi um mau exemplo para o seu irmão, por exemplo?

Diego Monar - Acho que fui um mau exemplo nessa vida que levava de sair, mas ele sempre teve a cabeça no lugar, minha mãe sempre falou muito com ele, não seguiu. Eu falo para ele maneirar, não fazer o mesmo que eu fazia. Incentivo para não fazer o mesmo que fiz.

Terra - Seu pai é a sua referência, certo? Ele te considerava um bom zagueiro? Sente que precisa voltar por ele, por exemplo?

Diego Monar - Ele é como um ídolo, desde os 8 anos quando comecei a jogar futebol de salão no Portuários (clube de Santos) meus pais me acompanhavam em viagens, sempre estiveram juntos. Não tinha um que não ia, era o meu retrovisor, gritava muito de fora. E sempre ouvimos a voz do pai e da mãe. Era um sonho para ele, um santista roxo, me ver jogando no profissional do Santos.

Terra - E qual o seu maior medo hoje?

Diego Monar - Acho que de parar de jogar. Medo de não ter a oportunidade, de acabar para o futebol, da idade passar e eu não ter uma oportunidade de jogar e mostrar o meu potencial.

Zagueiro Diego Monar era apontado como revelação da base do Santos
Zagueiro Diego Monar era apontado como revelação da base do Santos
Foto: Klaus Richmond / K.R.C. DE MELO & CIA. LTDA - ME
Fonte: K.R.C. DE MELO & CIA. LTDA - ME
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