PUBLICIDADE
Logo do Santos

Santos

Favoritar Time

Laor relata sofrimento pós-Santos: "tenho medo de morrer"

Ex-presidente do Santos conta como assumir o clube prejudicou sua saúda e relata medo de morrer em breve

25 fev 2015 - 12h20
(atualizado às 13h09)
Compartilhar
Exibir comentários
Laor relata batalha pela vida e já tem bandeira para enterro:

Luís Álvaro de Oliveira Ribeiro viveu momentos únicos na sua vida. Ex-presidente do Santos, foi um dos responsáveis diretos pela retomada do Santos no início da década de 2010. Viu o time voltar a ser campeão da Libertadores. O preço, contudo, foi alto. Laor, como é carinhosamente chamado, teve problemas de saúde. Sofreu infartos. Viu médicos lhe darem 20% de chance de seguir vivo. Mais magro e ofegante mesmo sentado em uma conversa com o Terra, o ex-mandatário alvinegro relatou como luta seguir vivo e revelou o medo que tem da morte.

Laor assumiu o Santos em 2010 como nome salvador da oposição, após dez anos da situação comandada por Marcelo Teixeira. Já havia sido candidato – e derrotado – anteriormente. Inicialmente, não queria o cargo no fim da década. Foi convencido. Achou que poderia conciliar a vida de presidente do Santos com a vida de corretor imobiliário bem-sucedido em São Paulo. Ledo engano. Os anos à frente da equipe serviram para deteriorar sua saúde enfraquecer sua situação financeira.

Laor revela bastidores da polêmica carta ao pai de Neymar:

De um escritório na Faria Lima, região nobre de São Paulo, agora Laor toca seus negócios, com apenas uma secretária como funcionária, do quarto de seu apartamento no Alto de Pinheiros. Residência esta que esta à venda: a intenção do ex-presidente é alugar um local menor para economizar dinheiro. O carro, segundo Luís Álvaro, é o mesmo há sete anos sem condição de ser trocado. O pior, contudo, foi a saúde, que deteriorou-se tanto a ponto do ex-presidente ter medo de morrer em um futuro próximo e já programar como será enterrado.

“O preço da minha saúde foi muito alto. Eu tenho medo de morrer proximamente. Acho que sou um paciente de alto risco, tomo uma grande quantidade de remédios. Tenho insuficiência cardíaca. Só um transplante renovaria o meu coração, mas eu não sobreviveria à cirurgia.  Conto os dias para quando for enterrado com a bandeira do Santos enrolada. Já até compraram a bandeira. Mas acho que vou em paz, fiz o possível”, falou de forma sincera e voz ofegante Laor.

Os problemas de saúde do ex-mandatário foram vários. Laor viu a saúde começar a se deteriorar de forma definitiva no fim de 2011, pouco antes da disputa do Mundial de Clubes no Japão, quando certo dia ficou ofegante ao utilizar apenas um elevador após jogo do Santos. Foram vários afastamentos do Santos por motivos de saúde até o definitivo. Mesmo após a saída da presidência, convive com a polêmica venda de Neymar até os dias de hoje. Mesmo assim, não crava que se arrepende de ter aceitado dirigir o Santos.

Confira a entrevista completa abaixo:

ESTADO DE SAÚDE

“Eu fui obrigado a emagrecer. Na verdade,. não tinha nenhuma vontade de comer. Mudei meus hábitos de vida. Eu tive que mudar. Não imaginava quando aceitei a convocação para ser candidato à presidência do Santos pela segunda vez. Eu tinha uma insuficiência coronária de muito tempo atrás. Mas no final tiver que atender aos apelos porque não havia outro candidato que tivesse condições de se opor ao ex-presidente. Eu imaginei, erroneamente, que poderia ser presidente do Santos e tocar minha pequena empresa imobiliária. Aceitei debaixo dessas condições. Do ponto de vista de saúde, no período que fiquei no Santos tive mais de 12 internações. Em 2013 fiquei cinco meses ou internado ou de repouso em casa porque o organismo não aguentou.

Você não faz ideia do que é ser presidente de um time com uma torcida dessa. Na Vila Belmiro a entrada é junto com a dos sócios, eu chegava de carro vinha e cinco caras reclamar da grama, da bandeirinha desbotada. Isso não é coisa de presidente, mas eu absorvia esses problemas. Não há organismo que aguente, ainda tinha que recusar propostas por Ganso e Neymar. Já com o coração debilitado, comecei a sofrer na própria carne. Houve um episódio em 2011 que foi sintomático, antes do Santos ir para o Japão. Assisti a um jogo na tribuna e decidi com meu vice-presidente e conselheiro, ambos médicos. Desci de elevador e quando cheguei na minha mesa estava ofegante. Eles disseram: ‘pô, você está ofegante, tem que ver o que é isso’. Rodei por consultórios e não acharam o que era, falavam que é pulmão ou coração. Chegou até o episódio do Einstein em que eu cheguei com 20% de chances de vida. Tive um infarto na mesa de operação, fui salvo por uma máquina ressuscitadora que o Einstein havia comprado fazia quatro meses, não tinha nem técnico para operar. Tudo isso levou a me afastar do Santos por um ano, pois não tinha capacidade de levar essa vida.“

Foto: Ernesto Guerra Azevedo/Santos FC / Divulgação

AVALIAÇÃO DO PERÍODO NO SANTOS

“Só aceitei ser candidato se a gente pudesse ir em grupo administrar o Santos de uma maneira completamente diferente da que se administrava desde então. O que se reuniu foram os empresário, a gente se reunia religiosamente toda segunda de manhã em alguma casa e discutia sobre o Santos. Sobre dívidas, ‘tem que negociar dívida pesada com o ex-presidente, temos que contratar jogador, vamos ousar e trazer o Robinho’. Foram todas decisões coletivas. Estes executivos experientes me ajudaram muito.

A gente assumiu com a ideia de implantar um modelo novo de gestão. O primeiro principio era não gastar mais do que arrecada. O segundo era você convocar para os diversos departamentos não os seus amigos, seus eleitores, mas trazer técnicos profissionais ganhando valor de mercado. Nosso gerente de marketing, por exemplo, era um empresário muito bem sucedido do mercado e aceitou por paixão. O regime era presidencialista, mas pelo poder prático o poder era compartilhado com os membros do grupo de empresários, que tomavam decisões em consenso.”

MAIORES FALHAS

“Talvez o primeiro e mais importante é que me empolguei tanto com a ideia de montar um modelo de gestão diferente e transparente que não me preocupei com os políticos. Como eu era um sujeito que mora em São Paulo, não tinha muitos contatos em Santos. A chapa foi montada e eu não participei de nenhuma indicação. Deixei que o pessoal de Santos montasse. Eu não tive uma visão política de que não bastava você ser bom, tinha que parecer bom.

O segundo foi na elaboração do estatuto. Eu acho que se está no estatuto de que quem muda ele é o conselho, a tarefa é dos conselheiros. Então não participei nada e não mudei uma vírgula na minuta que foi referendada e aprovada. Se eu tivesse participado disso, teria visto que a intenção era a melhor possível, de tirar o poder imperial do presidente. A ideia era saudável e já era usada informalmente. Achou-se por bem se institucionalizar o comitê gestor, colocar no estatuto de forma a não se correr o risco de um próximo presidente voltar para o regime imperial. Eu fechei os olhos e não via que havia uma fragilidade.

O terceiro erro foi ter sido candidato à reeleição. Eu disse na campanha que estava disposto a destinar dois anos da minha vida para a maior paixão da minha vida e que isso me daria uma realização pessoal que valia esse sacrifício. Começaram a vir apelos para que eu fosse candidato à reeleição e eu neguei até que fizeram o argumento de que se eu não fosse o conselho ficaria dividido. Eu aceitei e tive 87% dos votos.

 Eu aceitei a ideia de que o presidente era um membro do comitê de gestão e não tinha poder de veto. Mas eu era avalista do Santos e mandatário. Eu tinha todas as responsabilidades e não tinha poder de vetar. Um caso sintomático foi a contratação de um atacante que o pessoal se interessou e eu achava que não serviria. Vi que tinha coisas esquisitas nisso, o Santos não contrataria o jogador, tomaria por empréstimo. Ganharia um valor de venda, não teria contrato mínimo. Fiquei doente, duas semanas de fora, e a ideia foi aprovada sem eu estar presente. Isso mostrou para mim absoluta fragilidade na figura do presidente. Aí os arranjos políticos ocasionais prevaleciam.”

Foto: Ricardo Saibun/Santos FC / Divulgação

PASSAR O BASTÃO PARA O ODÍLIO

“Foi um episódio inevitável porque pelo estatuto na inabilitação do presidente. Eu imaginava que o Odílio, assumindo a presidência e eu não estando morto, eu poderia ajudá-lo quando ele tivesse alguma dúvida. Mas ele no dia seguinte ao que eu pedi a licença por um ano ele mudou totalmente o comitê de gestão. Nomeou um de confiança dele, o que seria mais ou menos compreensível. Fiquei sabendo pelos jornais. Eu ainda no exercício do meu mandato, suspenso por uma licença. Nunca justificou, falou que foi uma composição por conta do conselho, para atender diversas correntes. Mas pior que isso foi ter começado o processo de fritura e despedida de todos os profissionais que eu tinha levado, que foram responsáveis com o Grupo Guia do sucesso anterior."

ESTÁDIO

“Temos 60 mil sócios e a Vila só tem 11 mil lugares para vender. E como você faz quando tem uma clientela dessa? É difícil. Conversamos com empreiteiras e dois prefeitos de SP, o atual e o anterior. Conversamos com o prefeito de Santos, que disse que não tinha terreno disponível. Tinha um terreno em Cubatão que teve um pré-projeto, mas que não virou por questões ambientais. Conversei sobre o Pacaembu com o Kassab e o Haddad. Vemos o problema do Corinthians com o Itaquerão, que tem certificados encalhados e o Corinthians ficou em débito. O Pacaembu seria reformado, viraria uma arena multiuso. O Santos não participaria dessa arena multiuso, mas não colocaria um centavo na reforma. “

LEANDRO DAMIÃO

“Fiquei sabendo pelos jornais. Eu acho uma excelente oportunidade de falar porque as pessoas têm informações fragmentadas. O Damião foi contratado depois que eu estava formalmente afastado do Santos. Eu não contrataria esse jogador por razões técnicas e financeiras. Não era um jogador que vinha de uma temporada de sucesso. Começou bem no Inter, era uma esperança da Seleção Brasileira, mas no ano seguinte se contundiu e ficou no estaleiro. E quando voltou não era titular do Inter.

Então era uma aposta de risco que eu achava que o Santos não deveria fazer. Tinha o Gabrielzinho e o Geuvânio. Mas e o valor que o Santos não pagou, tomou emprestado junto ao fundo inglês que eu tinha um pé atrás a isso porque vivemos a experiência de um outro fundo ter comprado direitos de Neymar e Ganso. É complicado, os objetivos não são convergentes. O investidor quer ganhar dinheiro rápido e o Santos quer ganhar títulos com o jogador. Eu não fui consultado, não seria favorável. O Odílio tomou a decisão. O Santos teve que emprestar o jogador e tem uma dívida a vencer em 2017 ou 2018 que não sei como vai pagar.”

DINHEIRO DA VENDA DE DANILO, ALEX SANDRO, NEYMAR E GANSO

“Os números do Santos são transparentes, estão nos balanços na internet, no site do Santos. O que aconteceu com o dinheiro da venda do Ganso? Entrou no fluxo de caixa do Santos. Ao mesmo tempo que só vendemos pelo valor da multa, e teve que vender. Teve pressão para vender por menos, pelas propostas anteriores, mas resisti até a vender pela multa. Mas o Santos fez contratações, não foi barato trazer o Elano de volta na primeira vez.

Os salários dos jogadores foram altamente inflacionados nos clubes brasileiros. Com o fim do Clube dos 13, que nós brigamos para que o Santos tivesse uma participação maior, causou uma ilusão porque veio muito mais dinheiro. A Globo fez uma proposta que era irrecusável e imaginou-se que o futebol iria viver anos dourados. E anda mais trágico que isso na cabeça do jogador. É uma roda-viva que não tem fim e que consome dinheiro.

O que os clubes fazem para manter o caixa? Vendem atletas. Eu defendia uma tese contrária, tinha a convicção de que o que está no contrato vale. Se pagasse a multa, tinha direito de ir jogar onde quisesse.”

RESPONSÁVEL PELO O QUE O ODÍLIO FEZ?

“Você imagina que você é um jogador do Santos. E por alguma razão fica com uma contusão que te tira da próxima partida e o time toma uma goleada. Ele é responsável? Claro que não. Eu só não estive no Santos em 2013 e 2014 porque estava fora de combate. Não sou eu que julgo o Odílio nem nada. Ele foi indicado por pessoas que me apoiavam. Eu não conhecia o Odílio. Ele era do grupo do ex-presidente e acharam que era um bom nome, secretário de Santos. Me convenci e convidei para ser vice sem conhecê-lo. Durante o período do primeiro mandato ele não participava das reuniões em São Paulo do Grupo Guia, mas sempre foi um cara que participava. Depois que eu consolidei por razões médicas a saída do Santos, ele assumiu plenamente o poder. Eu tenho só números a falar. A situação do balanço do Santos, o número de sócios que aumentou e o número de títulos. Depois que saí, não ganhamos mais. Eu sou o Luís Álvaro, ele é o Odílio, mas somos pessoas diferentes, idades diferentes, profissões diferentes. Não dá para comparar ponta esquerda com goleiro. “

PORRE COM ODÍLIO?

“Não tem nenhuma interferência. Isso se deu porque um dos poucos telefonemas que o Odilio me deu depois que me afastei foi no fim do ano passado, em setembro e outubro, quando me ligou preocupado falando dos avais pessoas que ele tinha no Santos e alguns que eu era também avalista de operações de aquisição de jogadores. E daí chorou as pitangas, falou que a vida dele estava em um inferno, que estava em uma van com a família e vândalos jogaram pedra, sentiu a família ameaçada de morte, que não podia mais andar pela cidade e que a pior decisão que ele tomou foi ter aceitado assumir a presidência do Santos.

Eu falei: ‘Odílio, nossos pontos são convergentes neste caso, também acho que o período que fiquei foi maravilhoso e depois que eu saí as cobranças vieram e vi meu time iniciar um processo de recuo’. Aí ele falo que a gente devia conversar e chamei para jantar, independente das divergências nas eleições. e falei: 'quem sabe no jantar a gente toma um porre'. O Odílio falou para a imprensa e tomou como um insulto, pois não bebia, o que pra mim não faz diferença. Não falei no sentido de nos embebedarmos, mas de chorar as mágoas. Mas isso foi interpretado errado. “

PAI DE NEYMAR

O Neymar pai moveu um processo. Eu já tinha me desiludido quando li pela imprensa essa informação documentada do dinheiro o que tinha recebido antes da final do Mundial. você imagina o conflito ético de entrar no gramado para a partida mais importante da tua vida já compromissado com o adversário. Mas não dei importância, ele era muito jovem, mas confirmou a impressão que eu tinha do pai dele de que é um cara que só via o dinheiro e tinha interesses. Uma pessoa que falava uma coisa e fazia outra.

Eu dei uma entrevista em tons informais e falei em tom de brincadeira o que o Neymar teria feito com o dinheiro, ainda estava impactado com a notícia de ter sido traído. E fiz brincadeiras com o que ele devia ter feito com o dinheiro. Falei algumas coisas que pareciam que era do domínio público e fui processado. Ele pede uma indenização e aí entra uma ironia do destino. Um homem que recebe alguns milhões de euros de um clube europeu processando um cara que está vendendo o apartamento para alugar um menor. Um cara que vendeu o escritório e trabalha no quarto com uma secretária. Ele pedir indenização para mim... Pode ser amanhã que eu seja condenado a pagar um valor que eu não tenho. “

ARREPENDE-SE DE TER SIDO PRESIDENTE DO SANTOS?

“Se eu soubesse o que viria depois, teria pensado 100 vezes antes de assumir. Essa é uma pergunta que eu não tenho resposta. Me sinto dividido. Tem um lado maravilhoso que se eu morresse amanhã levaria essa lembrança comigo, que é ter ajudado meu time a ser campeão da Libertadores depois de 40 anos, ter reconhecimento internacional, ter jogadores convocados para a Seleção, ter sido chamado pelo presidente da República para ser elogiado. Isso tudo me deixa feliz.

Mas não sei se o preço compensa. O preço da minha saúde foi muito alto. Eu tenho um medo de morrer proximamente. Acho que sou um paciente de alto risco, tomo uma grande quantidade de remédios. Tenho insuficiência cardíaca. só um transplante renovaria o meu coração, mas eu não sobreviveria à cirurgia.  Conto os dias para quando for enterrado com a bandeira do Santos enrolada. Já até compraram a bandeira. Mas acho que vou em paz, fiz o que possível.”

Laor comenta sobre saúde, venda de Neymar e crise no Santos:

Fonte: Terra
Compartilhar
Publicidade
Publicidade