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Peres promete auditorias, fim do Comitê e mais "2 Robinhos"

25 nov 2014 - 10h38
(atualizado às 15h19)
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José Carlos Peres, candidato da chapa Santos Vivo
José Carlos Peres, candidato da chapa Santos Vivo
Foto: Divulgação Facebook oficial da Santos Vivo

José Carlos Peres não é figura nova na vida política do Santos. Aos 66 anos, o executivo do G4 Paulista, empresa que negocia contratos para os quatro grandes clubes do estado, trabalhou diretamente e indiretamente nas gestões dos dois últimos presidentes, Luis Álvaro Ribeiro e Marcelo Teixeira. Agora candidato à presidência, entra na mais disputada eleição da história do clube desatrelado de grupos já conhecidos, mas com promessas de revolução.

Após Nabil Khaznadar, o Terra segue nesta terça-feira com a série de entrevistas com os cinco candidatos à presidência do Santos, que responderão aos mesmos 15 questionamentos propostos pela reportagem.

Entre os seus principais planos, o candidato da Santos Vivo, primeira chapa a ser registrada, promete auditorias para checar os atuais números do clube, principalmente com relação as dívidas e aos associados. Peres diz que irá propor o fim do Comitê Gestor, que em sua admistração dará lugar a um Conselho Administrativo, com menos poderes, além de por fim as terceirizações de departamentos. O candidato ainda quer retomar o futsal e o futebol feminino e acredita não só que conseguirá manter Robinho, a quem diz "se pagar", mas como conseguir trazer até mais "um ou dois jogadores como o Robinho".

Veja, na íntegra, a entrevista exclusiva com o candidato José Carlos Peres:

Terra - Por que deseja ser presidente do clube e quais são seus projetos a curto prazo?

José Carlos Peres - Tenho uma vida ligada ao Santos e acho que pude contribuir bastante em algumas ocasiões, como na luta pelo reconhecimento dos títulos brasileiros e na criação da subsede da capital em minha própria casa, absolutamente de graça, o que resultou em milhares de novas associações. Fui superintendente do clube e diretor da FPF. Me sinto maduro e preparado. Desejo ser presidente em função de um projeto e de um grupo que conseguimos montar nos últimos anos. É um grupo de pessoas apaixonadas pelo clube com perfis diversos, que vão de empresários consagrados em seus ramos de atividade à jovens lideranças que ainda serão muito importantes ao clube, mas todos com uma característica comum que é não ter vínculo político com as forças que já administraram o clube. Conseguimos construir uma candidatura sem vínculos com o passado e com o presente, e isso pra mim é fundamental. A curto prazo será necessário realizar uma reengenharia financeira que tire o clube da vergonhosa situação de mau pagador e que traga de volta credibilidade. Isso virá com uma auditoria profunda e transparente que mostrará quanto o clube deve, para quem e o porquê. Planejar o elenco para que se gaste de forma qualificada, teremos um time competitivo porque, do contrário, comprometeríamos o processo de recuperação financeira. Além disso, trabalharemos para que fontes de receita que hoje são praticamente nulas, como marketing, licenciamento e bilheteria, passem a gerar recursos ao clube.

Terra - O Santos vive uma série crise financeira que resultou em atrasos salariais em 2014. Há um plano emergencial caso vença a eleição?

José Carlos Peres - Já temos uma equipe debruçada sobre essa questão composta de figuras de renome no mercado financeiro. Há uma dificuldade adicional que é a dúvida sobre a real situação financeira. De qualquer forma, sabemos que a situação não será fácil, mas estamos prontos para enfrentá-la. A dívida incomoda, mas não nos assusta.

Terra - Acredita que, em um primeiro momento, precisará apelar para empréstimos bancários ou vender jogadores para fazer caixa e amenizar os quase R$ 400 milhões em dívidas?

José Carlos Peres - Volto a frisar a importância da auditoria profunda como o primeiro passo. É preciso entender o tipo de dívida para que possamos planejar o pagamento, entender o quanto se deve em impostos, o que são dívidas de curto prazo com atletas, bancos etc.

Terra - Sobre o Damião, ele foi comprado pela Doyen Sports. O que achou do negócio e o que pensa em fazer sobre? A relação com a Doyen será mantida para outros investimentos?

José Carlos Peres - Até onde sabemos, ele foi comprado pelo Santos com dinheiro emprestado pela Doyen. Juros de 10% ao ano, em euros, e sem qualquer proteção quanto a desvalorização cambial. Dá pra imaginar o que acontece se tivermos uma desvalorização do real frente ao euro? Pois bem, tudo isso para em caso de venda bem sucedida ficar com 20% do lucro! Além disso, há a questão das garantias, sabe-se dos direitos de TV de 2017, mas será que é só isso? Outra dúvida, será que esse dinheiro todo tinha necessariamente que ser investido em um único jogador? Não me ocorre que qualquer outra equipe tenha investido tanto em contratações esse ano. Nem o Cruzeiro, atual bicampeão brasileiro. Sobre o jogador em si é importante observar que ele não tem culpa do péssimo negócio que o envolveu, é patrimônio do clube. Torcemos e daremos condições para que recupere seu melhor futebol e volte a fazer os gols que já mostrou que sabe fazer. Sobre a Doyen temos uma visão clara. Os investidores são uma realidade no futebol brasileiro e mundial, parcerias com regras claras onde os dois lados ganhem serão sempre bem-vindas, mas o Santos não repetirá esse tipo de negócio. Quem quiser investir no clube sob esse tipo de regras não precisa nem perder tempo de ir a Vila Belmiro. A reposta será não.

Terra - O senhor é a favor do Comitê de Gestão? Pensa em uma possível nova reformulação estatutária para acabar com o formato? Quem serão os sete integrantes do Comitê?

José Carlos Peres - Proporemos ao Conselho Deliberativo a extinção do Comitê de Gestão. Em seu lugar, queremos a criação de um Conselho Administrativo que seja responsável pelo planejamento estratégico, que auxilie no planejamento financeiro, mas sem interferência na gestão do dia a dia. Independente da proposta de alteração estatutária que também incluirá o fim da reeleição e da cláusula de barreira para composição do CD, os componentes do nosso CG comprometem-se a atuar como integrantes de um Conselho de Administração. Temos quatro nomes definidos e trabalhando conosco há um bom tempo: Urubatan Helou, Fabio Gaia, Eugênio Singer e Flávio Benatti. As outras três vagas serão preenchidas após as eleições com nomes escolhidos por mim, provavelmente, oriundos de outros grupos políticos. Nossa gestão irá unir o clube novamente..

Terra - Como vê a relação entre o clube e a CBF, o que pensa? Pretende modificar algo? Incumbir alguém para se aproximar da entidade?

José Carlos Peres - O clube precisa ser melhor representado não apenas em relação a CBF, mas também a FPF, os outros clubes, emissoras de TV, Fifa e etc. Nesse sentido, com todo respeito, não vejo ninguém melhor preparado do que eu. Além de já ter sido diretor da FPF, como superintendente do G4 Aliança Paulista negociei os direitos de TV do Campeonato Paulista em que os quatro grandes clubes recebem o mesmo valor. Diferente do que acontece no Brasileiro em que o Santos negociou sozinho e conseguiu, em 2013, receber menos que Grêmio, Cruzeiro, Inter, Botafogo, Fluminense, Vasco entre outros. Lidero, atualmente, dois projetos importantes, o da ABRAC (Associação Brasileira de Clubes, que reunirá como fundadores os quatro grandes de SP e RJ, os dois de MG, e os dois do RS) e o da ACA (American Club Association, que reunirá clubes das 3 Américas). Fui eu quem lutou pelo justo reconhecimento dos títulos brasileiros de 1959 a 1971, envolvendo vários clubes, e que trouxe de volta seis títulos de campeão brasileiro ao Santos, além de outros clubes. Tudo isso me trouxe experiência e o respeito de todas essas entidades. Na nossa gestão, o Santos não apenas será melhor representado junto as instituições, como será protagonista em ações para o desenvolvimento do futebol brasileiro. Será incumbência direta do presidente.

Terra - Sobre a Vila Belmiro, quais são seus projetos para o estádio? Pensa na reforma para ampliação? Reestrutução completa em formato das novas arenas?

José Carlos Peres - Não se pode fazer demagogia em busca de votos. O clube que não paga salário vai transformar a Vila numa arena "padrão Fifa"? Nossa primeira providência será a de criar condições para a volta de público. Nossa renda líquida média no Brasileirão 2013 foi, na Vila, de pouco mais de 44 mil reais! Além disso, tivemos uma relação despesa x receita de mais de 70%, ou seja, a cada 10 reais na bilheteria, sete iam pra pagar despesas do próprio jogo. Uma temeridade. Iremos readequar a Vila Belmiro, pensar em seus diversos usos inclusive como um atrativo turístico dos mais importantes. Não faz sentido que um prédio de 100 anos abrigue toda a administração do clube, não faz sentido que ainda sirva de alojamento para categorias de base. Com isso, teremos espaço para abrigar restaurantes e camarotes que possam ter uso corporativo quando não houver jogos. Elitizaram o estádio sem qualquer critério, o estádio está cheio de camarotes "de vidro", normalmente vazios. Isso tudo será revisto. A Vila completa 100 anos na próxima gestão, nós garantimos sua readequação, sua requalificação para comemoração de seu centenário que não será desprezado como foi o centenário do clube. Mais que isso só se conseguirmos investidores e estaremos atentos a isso e sempre ouvindo o torcedor e, principalmente, o associado. Iremos também discutir possibilidades com a prefeitura. Tenho dito e cumprirei, se eleito estarei no dia 2 de janeiro no gabinete do prefeito, com ou sem convite. Quero saber o que finalmente a cidade fará pelo Santos Futebol Clube.

Terra - Com o senhor, o Santos seguirá mandando jogos em São Paulo? Qual o projeto sobre o Pacaembu?

José Carlos Peres - Seguirá mandando? O que acontece hoje é uma aberração. Joga-se de vez em quando, sem qualquer planejamento ou critério. Marca um jogo, desmarca em seguida. Comigo o Santos mandará jogos no Pacaembu e, mais que isso, terá uma política clara a esse respeito. O torcedor saberá no início de cada competição quantos e quais os jogos na Vila, no Pacaembu e até em outras praças, se for o caso. Com isso, finalmente poderemos negociar season tickets (carnês) para todos os jogos ou para todos os jogos em Santos, por exemplo. Sobre participar da gestão do Pacaembu, queremos conhecer as intenções da prefeitura de São Paulo, acreditamos que o clube esteja numa posição favorável para negociar já que o estádio tende a ficar vazio nos próximos anos. Se for vantajoso ao Santos, discutiremos com o associado. Uma coisa posso assegurar, o Santos não colocará um real no Pacaembu. Essa é uma condição inicial para qualquer negociação que venha a ocorrer, através de investidores.

Terra - Pensa em fazer muitas mudanças no elenco, comissão técnica e com relação aos dirigentes? Zinho, André Zanotta e Sandro Orlandelli ficam? E pretende manter o técnico Enderson Moreira?

José Carlos Peres - É natural e até esperado que mudanças ocorram, mas não iremos comentar nada a esse respeito com um campeonato ainda em andamento. Tem que se respeitar os profissionais que lá estão. Podem ter certeza, entretanto, que estamos muito atentos a performance dos profissionais em questão e observando com muito critério o mercado. Surpresas boas virão.

Terra - O Santos teve um rápido crescimento em seu quadro associativo nos últimos, mas estagnou. O que pretende mudar ou acrescentar no programa Sócio Rei?

José Carlos Peres - Há controvérsias sobre o crescimento rápido. É comum ver repercutirem o número fornecido ao Movimento por um Futebol Melhor. É um número irreal, que será também alvo de auditoria. Pretendemos, após análise do contrato, retomar a gestão do programa de sócios, não vemos sentido em terceirizá-lo e não conseguimos ver qualquer vantagem no atual modelo que prometeu experiências que não entregou. Não pouparemos esforços para aumentar, de fato, a base de sócios. Teremos um programa acessível, popular, com faixas de preços menores para quem resida longe de Santos ou da capital, valorizando o associado mais assíduo.

Terra - Como tem visto as terceirizações de alguns departamentos pelo clube? Pretende acabar com isso?

José Carlos Peres - Sim. O que é essencial não se terceiriza. O que o clube ganha terceirizando uma área vital, que pode inclusive ser vista como fonte de receita, como Comunicação, por exemplo? Economia de encargos trabalhistas? Isso é pensar muito pequeno.

Terra - Pensa em retomar modalidades como o futsal e o futebol feminino, extintos na atual gestão? O que pode falar sobre os projetos?

José Carlos Peres - O clube não soube explorar o potencial comercial de ter, ao mesmo tempo, referências como Marta, Falcão e Neymar. Como resultado acabou com as modalidades. Nós as retomaremos e elas serão capazes de sobreviver com recursos próprios oriundos de parcerias com empresas e com legislação de incentivo, quando for o caso. O mesmo vale para esportes olímpicos que se mostrem viáveis em parceria, como o vôlei por exemplo. Além disso, nosso projeto é o de associar a marca Santos àquelas modalidades mais ligadas a identidade e a alma da cidade. Esportes como surf, corridas de rua e modalidades de praia.

Terra - A que atribui a falta de um patrocínio master há quase dois anos? O que pretende fazer e melhorar no marketing para conseguir um acordo?

José Carlos Peres - Em primeiro à falta de credibilidade. Você não quer investir milhões para associar sua marca a um clube cujo noticiário trata da falta de pagamento de salários, das inúmeras idas e vindas da negociação de Neymar e até da falta de alimentação para jogadores da base. Em segundo, há um problema conceitual. A simples exposição de uma marca no uniforme, sem ações de ativação, sem engajamento, sem ser uma real parceria da marca com a torcida, mostra-se cada dia mais ineficaz. Além de profissionalizar com mais qualidade o departamento, nossa gestão pretende ter uma agressiva política de licenciamento e internacionalização. Desenvolver propriedades além do uniforme que permitam trazer um maior número depatrocinadores e parceiros comerciais. O mundo mudou e é preciso, mais do que nunca, "pensar fora da caixa".

Terra - Acredita que conseguirá manter o Robinho para 2015? Planeja o que para fazer isso? Trará outros jogadores de nome para a temporada?

José Carlos Peres - Sim, ainda que não tenhamos detalhes de seu contrato, Robinho é muito ligado ao Santos e é essencial para o projeto que pretendemos manter. Queremos inclusive ampliar seu contrato para que ele não precise mais sair do clube. É midiático, capaz de atrair investidores, torcida e novos sócios. O tipo de jogador que, com o trabalho certo, "se paga" sozinho. Um clube como o Santos precisa de midiáticos e faremos o possível para ter mais um ou dois jogadores como Robinho. Isso sem deixar de valorizar as categorias de base e contratações pontuais, de custo benefício, oriundas de clubes menores e com potencial de negociação futura.

Terra- Quais são suas propostas para as categorias de base? O que precisa mudar?

José Carlos Peres - Duas mudanças essenciais. A primeira é de infraestrutura. Precisamos de um novo CT, com alojamento e todas as condições para desenvolvimento do atleta e do cidadão. Podemos fazer isso com parceiras e utilização de leis de incentivo. Faremos. A segunda, e não menos importante, está na regulamentação da relação com empresários. Aqueles que forem sérios e se comportarem como verdadeiros parceiros do clube serão bem-vindos, até porque, a legislação atual os favorece. Entretanto, aqueles que nada contribuem e rondam o CT para se apropriar de jogadores que o clube formou, os famosos pescadores de aquário, terão os dias contados. A festa acabará.

Fonte: K.R.C.DE MELO & CIA. LTDA – ME K.R.C.DE MELO & CIA. LTDA – ME
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