Pronta às pressas, Arena Pantanal exibe falhas em jogo-teste
A Arena Pantanal, em Cuiabá, ainda não está em condições de receber seus quatro jogos da Copa do Mundo de 2014. Foi isso que apontou o jogo-teste desta quarta-feira, entre Mixto-MT e Santos, que terminou com empate por 0 a 0 pela Copa do Brasil.
Os portões só foram abertos com 1h15 de atraso. O secretário extraordinário da Copa, Maurício Guimarães, confirmou que a demora ocorreu porque os aparelhos validadores dos ingressos foram importados de Goiânia. "O voo atrasou, e também demoramos muito para instalar, tanto que começamos a operar manualmente. No próximo jogo, já vamos ter o validador aqui, com um dia de antecedência", disse o secretário, que passou a tarde no estádio resolvendo pendências, sempre com expressão de tensão no rosto.
Às 15h, sete horas antes da partida, ainda havia gente limpando o local e diversos operários fazendo outros serviços. Por volta de 16h30, caiu um temporal que alagou por alguns minutos a área externa da Arena. A água também começou a invadir o hall de entrada. Funcionários usaram rodos comuns para escoar a enxurrada. Nas redes sociais, começaram a surgir fotos ironizando o alagamento.
"Tivemos um dia atípico, caiu um toró d'água. Graças a Deus tivemos a chuva, atrapalhou um pouco as obras, mas alguém estava precisando da chuva. Uns mais e outros menos. Vocês viram o que está acontecendo na Bahia, os produtores perdendo safra, e São Paulo convivendo com o racionamento. Então a chuva é abençoada e Deus sabe o que faz", alegou o governador Silval Barbosa (PMDB).
Na área interna, dava para ver locais de infiltração, com água pingando. Uma sala ao lado do Espaço Mídia, destinado à imprensa, estava cheia de poças de água e fiação espalhada. O secretário Maurício disse que "tudo isso será resolvido".
Cadeiras em falta e torcedores de pé
O representante comercial Antônio Torquato, 49 anos, de Cuiabá, teve a impressão de que foram vendidos mais ingressos do que as 20 mil cadeiras disponibilizadas. "Faltou organização. Tinha gente em pé, e isso gerou um tumulto no intervalo entre o primeiro e o segundo tempo".
Outra coisa que ele destacou é que as cadeiras não valem o preço cobrado (R$ 340), porque oferecem um conforto normal. Ainda na opinião dele, elas poderiam ter sido dispostas com um pouco mais de espaço.
Os espaços vazios, ainda no cimento, em toda a arquibancada superior, indicavam os lugares onde deveriam existir assentos esportivos já instalados. Somente na quarta-feira os funcionários instalaram, às pressas, pelo menos 400 cadeiras, como admitiu o secretário. Um funcionário da Kango, empresa responsável pelo serviço, disse que o número foi bem maior - cerca de 800.
Sobre a numeração das cadeiras, o secretário avisou que isso só será providenciado para os próximos eventos. Desta vez, cada torcedor sentou onde havia vaga.
Segurança reforçada
Chamou a atenção também a revista na entrada. Homens e mulheres de todas as idades, exceto crianças, passaram por revista pessoal. O oficial da Polícia Militar R. Carvalho, responsável pela área da portaria, disse que isso estava ocorrendo porque faltaram equipamentos, como o detector de metais. "Esses equipamentos evitariam a revista pessoal. Nós estamos procurando armas ou instrumentos cortantes, que possam usar para ferir".
Segundo Carvalho, a Fifa que vai disponibilizar os detectores de metal porque a Polícia Militar do Mato Grosso não tem esses equipamentos. "Isso é para a segurança de todo mundo que está entrando".
Arieli Caroline, 26 anos, secretária, passou pela revista e não viu nenhum constrangimento nisso. "Melhor assim, mais seguro", disse ela.
O que incomodou o engenheiro agrônomo Nei Saraiva dos Santos, 44 anos, de Sorriso, a 466 km de Cuiabá, é que ainda havia muitos restos de material de construção no entorno da arena. "Logo na chegada vi muita coisa a ser realizada ainda. Para a Copa vão ter que trabalhar bastante. Muito entulho em volta dela. Depois que você adentra, aí sim é muito bonito. Mas o que mais me interessa aqui é verificar se tem segurança, conforto, a questão de banheiros e se é um lugar onde eu posso levar a família", afirmou, ao lado da mulher e da filha.
O que funcionou
Júnior Almeida, 32 anos, sofre desde os sete de distrofia muscular, uma doença progressiva que compromete o desenvolvimento e os movimentos corporais. Hoje em dia, após superar vários traumas, ele trabalha com informática.
Na entrada da arena, ele já estava contente com a acessibilidade. "Fui ao banheiro e é adaptado, e também já vi onde vou sentar. Em relação ao Verdão (apelido do Estádio José Fragelli, demolido para a construção da Arena Pantanal), está muito melhor. O que falta melhorar são as calçadas do lado de fora", sugeriu.
Uma coisa que funcionou, na opinião do secretário Maurício Guimarães e de torcedores, foi o estacionamento na Acrimat, parque de exposições agropecuárias. De lá, os torcedores seguiram para a arena em ônibus especiais. Porém, o trânsito ficou muito tumultuado para quem foi de carro até as proximidades do estádio e não chegou antes das 18h.
Paulo Cabral, 28, contador, reclamou que deixou o carro a cerca de 200 m e seguiu a pé. "Mas para eu chegar próximo ao estádio, estava muito tumultuado e foi estressante". Ele chegou quase na hora do jogo.
Já o representante comercial Antônio Otávio, 63 anos, morador de Cuiabá, foi um dos primeiros torcedores a chegar. Às 15h, estacionou o carro em uma rua próxima e caminhou até a entrada A, com seu rádio inseparável. Sobre a arena comentou: "um espetáculo, estrutura de nível mundial".
Por ironia, ele é torcedor do Santos e do Mixto. "Fiquei na dúvida para quem torcer, mas como o Santos só vem a Cuiabá a cada dez anos, resolvi vestir a camisa santista, que uso desde que vi Pelé jogar", contou.