Sem falar português, jovem adotada defenderá Brasil em Vancouver
- Mariana Lanza
- Direto de São Paulo
Adotada por um casal de estrangeiros quando tinha apenas um ano de vida, a brasileira Maya Harrisson, 17 anos, mantém um vínculo que vai além do sangue com o seu País de origem. Sem falar muito bem a língua portuguesa, a esquiadora representará o Brasil nos Jogos Olímpicos de Inverno, em Vancouver, no Canadá.
Ela foi convidada especialmente pelo presidente da Confederação Brasileira de Desportos na Neve, Stefano Arnhold, para fazer parte da equipe e se animou com a oportunidade de competir na modalidade esqui alpino (Slalom Especial e Slalom Gigante).
"Ele (Stefano) foi muito legal comigo e me motivou bastante. Estou orgulhosa por correr pelo Brasil. Quando ficam sabendo disso, as pessoas falam: 'é muito legal representar um país exótico em um esporte de inverno'", disse Maya, em entrevista por e-mail ao Terra.
Em casa, o incentivo para que a atleta defenda sua terra natal nas competições também é grande.
"Eu vi um mundo de esperança e de enriquecimento de experiências de vida se abrindo para a minha filha", afirmou a italiana Letizia Toscani, sobre o convite feito há dois anos pelo presidente da confederação. Ela e o ex-marido, o canadense Pierre Harrisson, adotaram Maya em março de 1993, quando ele trabalhava para a Organização das Nações Unidas, em Brasília.
Apesar do interesse em competir pelo Brasil, a adolescente conhece muito pouco sobre o País e nunca mais retornou à sua cidade natal: Rio de Janeiro.
"Eu fui a São Paulo para estudar português e fiquei decepcionada porque queria voltar ao Rio. Sei do Carnaval de lá, das praias de Ipanema e Copacabana, que existem favelas e conheço um pouco da música brasileira, mas não falo português. Tive algumas aulas, então, só consigo me apresentar e dizer se fui bem ou não em uma corrida. Para ser sincera, não sei muito sobre o Brasil. Eu gostaria de saber mais."
E não será na véspera dos Jogos de Inverno que a esquiadora se dedicará à cultura brasileira. A menos de um mês do início da competição, a estreante segue firme com seus treinamentos, mas ainda não sonha em conquistar um lugar no pódio.
"Eu só vou para Vancouver por experiência e me considero uma pessoa de sorte por isso. Claro que espero fazer uma boa corrida, mas quero pelo menos terminar as provas", disse.
Trajetória no esqui
Maya Harrisson começou a esquiar aos três anos nas montanhas de Bogève, na França, e aos sete já participava de competições. Pouco tempo depois, a esquiadora mudou-se com a família para Genebra, na Suíça, onde fez parte de uma equipe formada pelos melhores atletas de clubes da região.
"Eu queria que meus três filhos aprendessem a esquiar bem, porque isso é importante para a integração social na Suíça", afirmou Letizia.
Por volta dos 13 anos, Maya venceu três corridas e ficou entre as três primeiras colocadas durante toda uma estação.
"Logo nas primeiras competições, nós podíamos ver que a Maya era boa, mas acho que ela se sairia bem em qualquer esporte que exigisse força e flexibilidade", disse a mãe da atleta.
Os bons resultados serviram de estímulo para que a esquiadora continuasse treinando e há um ano ela conseguiu uma vaga na escola francesa Lycée du Mont Blanc, especial para atletas olímpicos. De manhã, Maya se dedica aos estudos e no período da tarde faz treinos físicos. Em compensação, no inverno é liberada para se concentrar nas competições.
"A Maya teve um resultado excepcional no Campeonato Brasileiro de esqui em Valle Nevado, no Chile, em agosto de 2009. Ela fez o melhor resultado de esqui brasileiro nos últimos 43 anos e tem apenas 17 anos. Então, promete muito", afirmou o presidente da Confederação Brasileira de Desportos na Neve, Stefano Arnhold.
Também no ano passado, a atleta foi vice-líder do Ranking Latino Americano de Slalom Gigante, tornou-se a mais jovem participante do Campeonato Mundial de Esqui, em Val d'Isère, na França, e bateu três recordes brasileiros, em slalom, slalom gigante e downhill.
A paixão pelo esporte é tão grande que até no verão europeu Maya arruma um jeito de praticá-lo. "Nos últimos dois verões, eu fui para a América do Sul esquiar no Ushuaia, Valle Nevado, El Colorado e La Parva."