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Jogos Inverno 2010

Skeleton e bobsled mantêm percurso da "pista da morte"

17 fev 2010 - 14h46
(atualizado às 20h39)
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Jonathan Abrams

Enquanto a programação olímpica deixa para trás o luge, passando para as competições de skeleton e bobsled, uma constante permanece: os competidores irão descer por uma rampa gelada no Whistler Sliding Centre, considerada a pista mais rápida do mundo, onde um atleta de luge da Geórgia morreu na semana passada em um acidente de treinamento.

Oficiais olímpicos e o órgão regulador internacional do esporte responderam à morte de Nodar Kumaritashvili optando por encurtar o percurso para reduzir a velocidade. No entanto, essas precauções não serão tomadas para o skeleton e o bobsled, que também podem chegar a velocidades acima de 137 km/h e possuem seus próprios acidentes violentos, incluindo dúzias na mesma pista desde que ela está aberta, há dois anos.

Esses esportes são regulados por uma federação internacional conhecida como FIBT (sigla em francês), que é separada da Federação Internacional de Luge.

A federação de bobsled e skeleton afirmou que encurtar o percurso não era uma opção. "Bobsled e skeleton precisam de um ponto de largada constante", disse o porta-voz do grupo, Don Krone. "Para competições, não existem largadas que não comecem no topo".

Com exceção de pelo menos uma sessão de treinos, a linha de largada para os atletas de skeleton foi a mesma usada pelo luge feminino. Depois de analisar o número de corridas de treino que cada atleta teve na pista - a atleta russa de skeleton Elena Yudina, por exemplo, nunca havia feito o percurso -, a federação de bobsled e skeleton apresentou uma oportunidade de treinamento adicional durante o encontro de capitães de equipe no domingo.

Treze dos 48 atletas de skeleton olímpicos aceitaram a oferta. "No encontro de capitães de equipe, dissemos às federações nacionais e aos capitães que eles não podem entrar no evento de modo leviano e precisam avaliar a competência dos atletas", Krone disse.

Competidores do bobsled, que inclui eventos de duplas femininas e masculinas e uma competição por equipes de quatro integrantes, pulam no trenó após uma corrida de 50 metros. O atleta no comando então manobra pelo percurso. No skeleton, os atletas correm e então mergulham de cabeça na pista. Nessa posição, os competidores manobram os trenós com o peso do corpo.

O ponto de largada do luge pôde ser mudado porque os atletas já começam a corrida sentados nos trenós. Em Whistler, as corridas de bobsled e skeleton irão cobrir 1.450 metros, 16 curvas e uma queda vertical de quase 50 andares.

Entre os esportes de deslize, as equipes de quatro atletas do bobsled e os competidores do luge se revezam na obtenção das maiores velocidades. O atleta de bobsled Janis Minins, da Letônia, obteve a velocidade mais rápida por equipes de quatro do esporte em Whistler, a 153 km/h. O skeleton é o esporte mais lento dos três. Jon Montgomery, do Canadá, tem o recorde da pista, de 140,81 km/h.

"A primeira vez que desci a pista de Whistler foi uma das melhores corridas que já fiz no bobsled", disse Lascelles Brown, do Canadá. "Senti como se estivesse num tobogã a mais de 300 km/h".

Como no luge, as batidas também são consideradas parte do bobsled e do skeleton. "Estaremos viajando no limiar de uma medalha de ouro ou uma batida, isso é garantido", disse Mellisa Hollingsworth, atleta canadense de skeleton.

O skeleton foi retirado das Olimpíadas duas vezes antes de ser reintroduzido em 2002 nos Jogos de Salt Lake, após uma ausência de 54 anos. Em outubro de 2001, um atleta de skeleton da Letônia morreu ao bater de cabeça num trenó desgovernado a quase 58 km/h.

Alguns atletas de bobsled e skeleton expressaram preocupação sobre a velocidade da pista de Whistler antes dos Jogos de Vancouver. Steven Holcomb, capitão da equipe de bobsled americana, apelidou a curva 13 de "Curva 50-50" depois de assistir a oito descidas de trenó, das quais quatro acabaram em uma batida na pista.

"Quando isso acontece, em 99% das batidas, os atletas saem bem e não há problema", disse Darrin Steele, chefe-executivo da Federação de Bobsled e Skeleton dos EUA e atleta olímpico de bobsled. "No 1% em que a coisa é séria, bem, você espera que isso nunca aconteça".

"Há uma parte de mim que se preocupa com os atletas toda vez que eles entram no gelo", ele acrescentou. "É um esporte perigoso. É uma das coisas que nos atrai sobre ele e é a razão de colocarmos a segurança em primeiro lugar".

Embora algumas medidas de segurança em esportes de deslize tenham melhorado, acidentes sérios continuam ocorrendo. O capitão americano de bobsled Todd Hays se aposentou após sofrer um sério trauma cerebral em dezembro, num acidente durante um treino na Alemanha.

Atletas de bobsled e skeleton ficam menos vulneráveis em batidas do que seus colegas do luge, em que os atletas deitam de costas e ficam expostos a altas forças gravitacionais quando levantam a cabeça para visualizar o percurso.

Em acidentes de bobsled, os atletas geralmente são protegidos pelo trenó e raramente são lançados para fora. "Quase não se tem notícia disso", disse Steele.

Os corredores de skeleton deitam com a barriga para baixo. Nessa posição, as forças gravitacionais facilitam o controle do trenó em relação ao que acontece no luge. Eles também estão numa posição em que podem arrastar os pés para diminuir a velocidade."No skeleton, você desce de cabeça, por isso parece que o perigo é maior", Steele disse. "Mas na verdade você tem mais controle. Você pode se livrar do trenó se estiver em apuros".

Os organizadores também resistem em mudar o percurso porque isso poderia afetar os resultados. Na competição masculina individual de luge, Tony Benshoof, dos Estados Unidos, terminou em oitavo e disse que o percurso mais curto havia favorecido os alemães, pois eles tinham uma largada forte. Num percurso mais curto, os atletas de luge que não largam bem podem ter menos chance de compensar o tempo.

Bandeiras voavam a meio mastro no domingo, em homenagem a Kumaritashvili, quando Felix Loch, da Alemanha, que possui uma forte largada, ganhou a medalha de ouro. Armin Zoeggeler, da Itália, duas vezes ganhador da medalha de ouro nessa modalidade nas Olimpíadas, ficou em terceiro. Zoeggeler, tecnicamente hábil, não é conhecido por ter largadas fortes.

"Sabia que estava começando com uma desvantagem de dezenas de segundos", Zoeggeler disse, depois afirmando: "A redução do percurso - e quero dizer isso claramente - foi a decisão certa".

No bobsled e no skeleton, o percurso continuará igual, o que os organizadores também afirmam ser a decisão certa. "Um novo percurso é um processo de aprendizagem", Steele disse. "Velocidade máxima é sempre um problema. Em cada nova pista, existem essas preocupações".

Entenda o caso

O georgiano Nodar Kumaritashvili, 21 anos, morreu na última sexta-feira após sofrer um grave acidente no treinamento do luge, no Whistler Sliding Center. O atleta estava em uma velocidade de 144 km/h quando perdeu o controle de seu trenó, bateu contra a parede de gelo e, depois, contra uma haste na pista.

A equipe médica dos Jogos de Vancouver tentou realizar procedimentos de reanimação, como massagem cardíaca e respiração boca a boca, antes de chamar um helicóptero para transferir Kumaritashvili ao hospital. O atleta, que havia iniciado a carreira profissional há dois anos, teve a morte anunciada horas depois pelo Comitê Olímpico Internacional (COI).

Tradução: Amy Traduções

Whistler Sliding Centre
Whistler Sliding Centre
Foto:
The New York Times
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