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ATP

Com US$ 1,5 mi em prêmios, Ricardo Mello cita gastos e vê valor irreal

12 fev 2013 - 07h39
(atualizado às 07h55)
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<p>Mello conseguiu US$ 1.479.249 em prêmios na carreira</p>
Mello conseguiu US$ 1.479.249 em prêmios na carreira
Foto: Fernando Borges / Terra

Ricardo Mello, 32 anos, recebeu de amigos próximos o apelido de “papagaio” em um paradoxo proposital, que brinca com o fato de o jogador geralmente ser reservado e calado. Na noite desta segunda-feira ele teve de falar bastante: derrotado pelo argentino Martín Alund na primeira rodada do Brasil Open, o brasileiro encerrou a carreira e falou ao público, em homenagem ainda na quadra do Ginásio do Ibirapuera, e aos jornalistas.

Foram pelo menos 30 minutos de entrevistas. “Passava um filme pela cabeça”, disse Mello mais de uma vez, citando as dificuldades para se concentrar durante a partida contra Alund. Relembrando a carreira, ele admitiu a “confusão mental” quando encarou a expectativa da mídia – e de amigos, familiares e dele mesmo – para substituir Gustavo Kuerten e surpreendeu ao citar a derrota mais dura no circuito: nada de Grand Slams, Brasil Open ou Copa Davis e sim o revés por 4/6, 7/6 (11-9) e 6/2 para o eslovaco Dominik Hrbaty nas quartas de final do ATP de Los Angeles após desperdiçar cinco match points seguidos no tie-break do segundo set.

Ambos os episódios datam de 2005, ano em que desbancou Guga como número 1 do país. Em julho dessa temporada, o campineiro ocupava a 50ª posição do ranking mundial, a melhor da carreira, e em outubro já estava na 104ª após perder os pontos ganhos por seu único título de ATP, ganho em Delray Beach em setembro de 2004.

Ele deixa as quadras como um dos sete brasileiros a ter conquistado eventos desse nível na história, ao lado de Kuerten, Thomaz Koch, Luiz Mattar, Fernando Meligeni, Jaime Oncins e Thomaz Bellucci. Mello ostenta ainda 15 títulos de challenger (segundo escalão do circuito), um atrás do recorde do japonês Takao Suzuki.

Aos 32 anos, o agora ex-jogador ainda não sabe o que lhe reserva o futuro – fala em estar ligado ao esporte, possivelmente como treinador, e por meio do instituto Ricardo Mello –, mas de uma coisa está seguro: chegou ao limite de sua capacidade.

Com a calma de quem parece se concentrar para puxar histórias do fundo da memória, Ricardinho, como também é conhecido, concedeu entrevista exclusiva ao Terra. Ele relatou a dificuldade de, com 1,75 m, encarar os gigantes que passaram a dominar o circuito. E contou ainda que o valor de US$ 1.479.249 (R$ 2,9 milhões, segundo a cotação atual) acumulado em premiação na carreira não é tão alto como parece – sua carreira foi fechada com mais US$ 4.670 (R$ 9.214) pela participação na primeira rodada do Brasil Open 2013.

<p>Ricardo Mello não tem futuro definido - fala em estar ligado ao esporte, possivelmente como treinador, e por meio do instituto Ricardo Mello </p>
Ricardo Mello não tem futuro definido - fala em estar ligado ao esporte, possivelmente como treinador, e por meio do instituto Ricardo Mello
Foto: Fernando Borges / Terra
Terra - Você tem um jogo marcante em Grand Slam contra o argentino Guillermo Coria na segunda rodada do Aberto da Austrália de 2005. Coria era o número 6 do mundo e, após vencer uma batalha de quase quatro horas por 6/4, 6/7 (3-7), 6/3 e 7/6 (7-3), disse que você tinha condições de ser top 10. Você acha que chegou ao limite de suas possibilidades?

Ricardo Mello - Você falando agora desse jogo me lembro de algumas situações. Ele até em viradas falava: “tá jogando como top ten”, meio que provocando por um sentido, mas de outra forma eu levei para um lado bom, que ele realmente estava falando que eu estava bem. Foi um jogo que me marcou, fiz uma grande partida. Ele estava jogando um tênis incrível, infelizmente acabei perdendo ali, mas de qualquer maneira fica marcado na minha memória como um dos grandes jogos.

Terra – E sobre a questão de o Coria especular o top 10 para você?

Ricardo Mello - É difícil, né? Você estar entre os 10 primeiros realmente é um nível acima, um nível de resultado que você tem de manter muito alto durante o ano todo. Tenho essa sensação de que estou encerrando a carreira agora e fiz tudo que estava dentro de minhas possibilidades. Poderia ter melhorado um pouco mais o ranking? Pode ser, pode não ser, mas acho que em geral fiz tudo o que podia ter feito. É com essa sensação que realmente eu encerro.

Terra - Mas ele ficava falando com você durante o jogo, gostava de provocar?

Ricardo Mello - Falava (sorri)... ele gostava. Gostava de provocar durante o jogo, tem varias situações, se for ver em Copa Davis o jogo dele contra o (Lleyton) Hewitt lá na Austrália, um provocando o outro, então ele gostava de uma confusão assim (Hewitt ganhou o jogo em questão, também em 2005, por 7/6, 6/1, 1/6 e 6/2). Como eu estava jogando realmente muito bem, ele pensou que de uma maneira ou outra eu fosse sentir mais rápido ou que ele fosse vencer rapidamente por 3 a 0. Ele sentiu que eu realmente não baixava o nível e estava dando trabalho. Ele sentiu: “você está pensando que é quem, que é top 10?”. Ele estava entre os primeiros colocados e não admitia de certa forma fazer um jogo duro comigo. Mas eu levei numa boa. Me encontrei algumas vezes com ele, uma pessoa super legal, não tem problema nenhum, tranquilaço.

Coria ocupou a terceira posição do ranking em 2004, ano em que foi vice-campeão de Roland Garros. Ele encerrou a carreira em 2009, após série de problemas físicos, com nove títulos de ATP conquistados.

Terra - O tênis tem-se tornado mais físico desde que o americano Michael Chang (com 1,75 m) foi o número 2 do mundo em 1996. Você acha que é mais difícil um jogador da sua altura, de 1,75 m, jogar em alto nível hoje do que no início de sua carreira? No top 20 atual são oito tenistas com 1,90 m ou mais e só dois com menos de 1,80 m. Isso é ruim para o tênis?

Ricardo Mello - Eu acho, ah... não diria que é ruim para o tênis, mas é a tendência, o lado para o qual o esporte está se encaminhando. Está muito físico, os jogadores estão muito altos, batendo muito. Até jogadores que eram muito altos antes não tinham agilidade e hoje em dia já estão se mexendo muito bem. Então realmente é complicado para os jogadores mais baixos, como no meu caso, que ganham um ou dois pontos no set com o saque. O resto tem de estar o tempo todo trabalhando o ponto, e isso faz muita diferença ao longo do jogo. Então realmente essa é a tendência e está cada vez mais difícil para os baixinhos.

Terra - Você fecha a carreira com quase US$ 1,5 milhão em prêmios. É uma quantia que salta aos olhos, mas os gastos são muito altos, não? Quanto ela representa na verdade?

Ricardo Mello - Realmente os gastos são altos, você constantemente tem de reinvestir esse dinheiro na sua carreira. É um valor que, se você tem esse apoio, não tem os gastos, se guarda o tempo todo, consegue guardar uma grana boa. Mas a partir do momento em que tem de investir o tempo todo é realmente um gasto muito alto. São viagens, porcentagem de prêmios para técnico, taxas nos próprios torneios, então esse valor realmente não é o que você ganha no final.

Ricardo Mello se esforçou, mas perdeu nesta segunda-feira e fez o último jogo da carreira
Ricardo Mello se esforçou, mas perdeu nesta segunda-feira e fez o último jogo da carreira
Foto: Fernando Borges / Terra
Terra - Você diria que um top 100 consegue se manter bem financeiramente?

Ricardo Mello - No top 100 hoje os prêmios estão aumentando cada vez mais. Se o jogador se mantém no top 100 durante vários anos ele consegue ganhar um bom dinheiro. Claro que se você for comparar o tênis com outros esportes – vamos colocar o mais próximo que é o golfe –, o golfe paga muito melhor. (No tênis) é um grupo seleto de jogadores que ganha muito bem realmente, acho que poderia ser mais bem distribuído esse dinheiro nos torneios. Mas de qualquer maneira se você tem um bom ranking e está toda semana jogando consegue ganhar um bom dinheiro.

Terra - E hoje em dia está mais fácil para conseguir apoio de empresas? Você dizia que no início da carreira montava seu calendário ao lado do seu pai, que nunca jogou tênis. Era mais “paitrocínio”, né?

Ricardo Mello - Com certeza, total. Ou você tinha um amigo de alguma empresa que conhecia, sempre (precisava de) um contato muito forte para alguém te apoiar ou senão era seu pai te ajudando o tempo todo. Você vê hoje muitas empresas patrocinando, envolvidas com o tênis. A gente tem aqui no Brasil a Copa do Mundo e a Olimpíada e realmente o esporte está muito visado pelas empresas. É um momento muito bom e tem que aproveitar.

Fonte: Terra
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