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De "quadra de m..." a "bola de coco", entenda polêmica no Brasil Open

Gerente geral do Brasil Open, Roberto Burigo conversou com o Terra e disse que durante o dia não recebeu nenhuma reclamação por parte dos tenistas. Ele agregou, todavia, que "se as condições não estivessem jogáveis com certeza a ATP não permitiria que o jogo fosse iniciado"

14 fev 2013 - 16h18
(atualizado em 15/2/2013 às 01h35)
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<p>Paul Capdeville venceu Horacio Zeballos após desistência em jogo que ficou marcado pelo conserto que precisou ser feito na linha da quadra</p>
Paul Capdeville venceu Horacio Zeballos após desistência em jogo que ficou marcado pelo conserto que precisou ser feito na linha da quadra
Foto: Fernando Borges / Terra

Uma polêmica marcou a quarta-feira no Brasil Open. Os alemães Christopher Kas e Dustin Brown se irritaram com as condições do saibro da Quadra 2 do Ginásio Mauro Pinheiro, em São Paulo, e disseram durante um jogo de duplas as palavras "quadra de m...". Logo depois, receberam como punição do árbitro de cadeira a perda automática de um ponto.

Nesta quinta, a mesma quadra teve interrompidas as atividades programadas para a realização de manutenção no local, segundo a assessoria de imprensa do evento. A previsão é que ela retorne ao funcionamento normal na sexta-feira.

Brown e Kas foram dois dos que reclamaram de forma mais veemente contra as quadras do torneio, que é sediado no Conjunto Desportivo Constâncio Vaz Guimarães e tem como arena principal o Ginásio do Ibirapuera. Durante o dia e também no início da semana, outros jogadores fizeram protestos parecidos.

Gerente geral do Brasil Open, Roberto Burigo conversou duas vezes com o Terra na quarta, uma no início e uma ao fim da rodada. Ele disse que durante o dia não recebeu nenhuma reclamação por parte dos tenistas, o que havia ocorrido anteriormente. E agregou que "se as condições não estivessem jogáveis com certeza a ATP não permitiria que o jogo fosse iniciado", lembrando que o piso é checado pelo supervisor da entidade, pelo árbitro geral e pelos juízes de cadeira do torneio.

Ele disse que houve um problema no Mauro Pinheiro com goteiras, o que atrasou a finalização das quadras. Sobre o Ibirapuera, também alvo de críticas, apontou que houve "um prazo curto para ser construída uma quadra de saibro" devido a outros eventos ocorridos no local em janeiro, como o UFC SP.

Durante a tarde, o espanhol Rubén-Ramírez Hidalgo tropeçou e torceu o tornozelo direito no ginásio principal, desistindo da partida contra o brasileiro João Souza, o Feijão. Este considerou o incidente uma "fatalidade", mas colegas como o argentino David Nalbandian e o português Gastão Elias analisaram que as condições irregulares do saibro culminaram com o escorregão – hipótese na qual Burigo não acredita.

<p>Alemães Dustin Brown (à esq.) e Christopher Kas se irritaram com as condições do saibro do Ginásio Mauro Pinheiro e disseram durante o jogo as palavras "quadra de m..."</p>
Alemães Dustin Brown (à esq.) e Christopher Kas se irritaram com as condições do saibro do Ginásio Mauro Pinheiro e disseram durante o jogo as palavras "quadra de m..."
Foto: Fernando Borges / Terra

A opinião de Burigo também é defendida por Armando de Fanti, gerente da Brascourt, empresa contratada pela Koch Tavares, promotora do Brasil Open, para montar as quadras. "O espanhol escorrega com o pé de lado, e o tênis breca. Com o pé de lado você não desliza nem no gelo, os caras deslizam com o bico, vão e voltam. Foi uma pena", disse De Fanti.

Ao contrário do colega, De Fanti não vê o prazo de dez dias que teve como um problema para a montagem das quadras. A quadra é feita a partir da colocação de 7 cm de saibro sobre o piso PU original do Ginásio Ibirapuera e, segundo ele, está "normal".

Ele admitiu que no último domingo, após uma "reclamação generalizada dos atletas do qualificatório" do torneio, houve uma reunião com membros da Associação dos Tenistas Profissionais (ATP) "e chegamos a um consenso que para agradar os jogadores" em fazer "uma manutenção que durou oito horas para sanar possíveis imperfeições". Ele diz que foram "achadas quatro imperfeições no fundo da quadra", que acabaram corrigidas.

"Não vou dizer que está 100% porque nunca está, mas estamos fazendo o máximo possível para deixar melhor para os jogadores", apontou De Fanti. "Estamos entrando em todo jogo, arrumando com um socador buracos que os pés deles (tenistas) criam porque são muito pesados, no termo de jogo - um cara desses dá uma corrida para lá e para cá e machuca a quadra, tanto é que no qualificatório, quando foi jogado no Círculo (Militar, clube que serve de apoio ao torneio), chegou a fazer buraco de 3 cm na quadra e aqui (no Ibirapuera) era de 0,5 cm".

<p>Assessor do espanhol Rafael Nadal, principal nome do Brasil Open 2013, preferiu se calar com relação às quadras de SP</p>
Assessor do espanhol Rafael Nadal, principal nome do Brasil Open 2013, preferiu se calar com relação às quadras de SP
Foto: Fernando Borges / Terra

Quanto às duas quadras do Mauro Pinheiro, De Fanti indicou um "agravante", lembrando que desde o ano passado há mais reclamações dos jogadores porque o ginásio é "muito mais quente que o Ibirapuera", com "pouca entrada de ar" e o teto mais baixo. "A quadra fica um pouco mais seca. Você molha às 8h da manhã e às 11h precisa molhar porque está muito seca", relatou.

Nesta quarta, parte da linha de base da Quadra 2 do Mauro Pinheiro chegou a se desprender na vitória do chileno Paul Capdeville sobre o argentino Horacio Zeballos. Sobre o assunto, De Fanti disse que "você tem de ver a situação acontecer para ver se o jogador raspou o pé na linha, às vezes escorrega e bate bem no bico da linha" e lembrou que ocorreram muitas partidas de duplas no local, nas quais "os jogadores jogam muito próximo da linha".

Ele explicou que, como se trata de um ginásio indoor no qual o piso original não pode ser danificado, o prego de aço usado para prender a fita de PVC no saibro não tem comprimento de 10 cm – como normalmente aconteceria ao ar livre –, sendo de 4 cm.

A mesma empresa foi a responsável por montar as quadras do Brasil Open em 2012, primeira edição do torneio em São Paulo após 11 seguidas na Costa do Sauípe. Não houve reclamações tão veementes quanto às condições na ocasião, o que o tenista Gastão Elias explica citando as bolas do torneio, as quais comparou a um "coco". O fornecedor do material foi trocado entre as duas temporadas.

<p>Bellucci, principal nome do tênis do Brasil na atualidade, analisou que comparações com Roland Garros não são cabíveis</p>
Bellucci, principal nome do tênis do Brasil na atualidade, analisou que comparações com Roland Garros não são cabíveis
Foto: Fernando Borges / Terra

Segundo Elias e também outros atletas como Nalbandian e Simone Bolelli, a bola perde muito pelo, ficando pequena e difícil de ser controlada. "Alguns jogadores realmente contestaram um pouco a escolha da bola", afirmou Burigo. "Mas é escolha do torneio, sempre foi informado que a bola seria essa, não houve reclamação antes do torneio. Lógico que trocar uma bola depois do evento iniciado não é viável", completou, dizendo que o material "foi enviado para a ATP e é aprovado pela Federação Internacional de Tênis (ITF) para torneios oficiais".

O Terra entrou em contato com a Wilson, fornecedora das bolas da competição. Por meio da assessoria de imprensa, a empresa informou que não se pronunciaria, afirmando que o torneio é o responsável pela escolha do material e que só a competição e a ATP poderiam se manifestar.

A reportagem enviou requisições formais para entrevistar o supervisor da ATP que está no Brasil Open, o sueco Lars Graf, mas não teve sucesso. Nesta quinta, recebeu a informação de que Graf não se pronunciaria sobre o assunto. Um porta-voz afirmou que a entidade "está trabalhando junto ao torneio para melhorar as condições das quadras".

O Terra entrou em contato na noite de quarta com o assessor de imprensa de Rafael Nadal, cabeça de chave 1 e principal atração do torneio, e recebeu a informação de que o jogador não tinha "nenhum comentário" a fazer sobre as quadras. O espanhol tem programada uma entrevista para esta quinta, após a partida contra o brasileiro João Souza, o Feijão, marcada para as 20h (de Brasília) no Ginásio do Ibirapuera.

Confira declarações dos jogadores sobre as condições do Brasil Open:

"As quadras aqui no @brasilopen2013 são uma m... eu torço meu tornozelo durante o jogo e digo 'é uma quadra de m...' e recebo a penalização de um ponto".

Dustin Brown, após derrota em duplas no Ginásio Mauro Pinheiro, no Twitter

"Quando cheguei (na sexta) acho que era a pior quadra da história, com goteira, um dia não pudemos jogar, estava molhada. Melhorou um pouquinho. Admiro as pessoas tentando melhorar, sei que trabalham duro. Honestamente, o torneio é fantástico, a atmosfera no estádio é ótima, mas seria melhor para os jogadores se as condições (das quadras) fossem melhores".

Christopher Kas, após derrota em duplas no Ginásio Mauro Pinheiro, ao Terra

"Creio que não se possa jogar um ATP 250 nessas condições: as linhas saltam, são milhares de buracos, não tem quique regular, e as bolas são muito pequenas, com um pouco de altura (São Paulo tem altitude média de 760 m) fica difícil de controlar. A quadra central (Ibirapuera) se salva um pouco, mas onde jogamos hoje (quarta) creio verdadeiramente que não seja regular".

Simone Bolelli, após vitória em duplas no Ginásio Mauro Pinheiro, ao Terra

"O porquê eu não sei, mas as quadras estão piores (do que em 2012) e a bola é pior: muito rápida e à medida que vamos jogando os games a bola piora em vez de melhorar e fica mais veloz. Com um pouquinho de altura (de São Paulo) fica impossível controlar. (A quadra) não está nas melhores condições, escorrega muito, não se freia, um dos jogadores (Rubén-Ramírez Hidalgo) ficou muito mal do joelho e isso é produto desse mau estado".

David Nalbandian, após vitória em simples no Ginásio do Ibirapuera, em entrevista coletiva

"Essa bola perde muito pelo e parece que estamos jogando com um coco. É muito viva, bem dura e fica pequena. Com essa bola se nota muito o nível da quadra, porque você não controla tão bem a bola. Ano passado talvez (as quadras) estivessem no mesmo nível mais ou menos, mas a bola era grande e segurava, então não precisava bater perfeito na bola porque ela salvava. Esta não salva, não agarra o efeito, então você bate a bola não desce, vai ,continua subindo e não desce mais, então se melhorarem a bola já ajuda. (A lesão de Hidalgo) tem a ver com a quadra com certeza, do jeito que travou (o pé direito)".

Gastão Elias, após derrota em duplas no Ginásio Mauro Pinheiro, ao Terra

"Achei que (a lesão de Hidalgo) foi fatalidade. Ouvi bastantes reclamações dos jogadores, mas acho que a quadra está normal. Não está em perfeitas condições, mas não é qualquer quadra de saibro que é igual Roland Garros. Vários torneios do ano não são os melhores do mundo. Se a quadra é ruim é para os dois, vai pingar errado para mim e para o outro. Agarrar-se a uma coisa tão pequena não vai mudar o resultado de um jogo. Ninguém é obrigado a ficar aqui e ficar metendo o pau na quadra. Os atletas têm a opção de não vir, tem mais dois torneios para jogar. Defendo sim, é o único torneio ATP do meu País. (Os jogadores) têm hotel cinco estrelas, comida à vontade, transporte, grande público, grande energia."

João "Feijão" Souza, após vitória em simples no Ginásio do Ibirapuera, em entrevista coletiva

"Lamentavelmente para um torneio ATP e para os grandes jogadores que há no torneio as quadras não estão na melhor condição. A linha se rompeu, se levantou, lamentavelmente não é condição muito ótima para um torneio desse nível. Sei que a maioria (dos tenistas) não está conforme nem com quadras nem com bolas, que lamentavelmente são muito rápidas, ficam muito pequenas e perdem pelo rapidamente. Os pontos duram pouco, não há ralis, é puro saque, lamentavelmente não ajuda nem o público nem os jogadores. Não sei se houve uma queixa formal à ATP, mas seguramente deve haver".

Horacio Zeballos, após derrota em simples no Ginásio Mauro Pinheiro, em entrevista coletiva

"A crítica da bola não pode ser direcionada ao torneio e sim à ATP, porque permite jogar com essa bola. Não vi problema nenhum na bola, logicamente é rápida para essas condições de indoor e altitude. De repente não é a mais apropriada. Acho que a quadra poderia estar bem melhor em todos os aspectos. Não é só um jogador reclamando, é 100%: muitos vieram me perguntar porque a quadra é assim. Não consigo responder porque não sei".

Marcelo Melo, após derrota em duplas no Ginásio Mauro Pinheiro, em entrevista coletiva

"A quadra não está boa. Ela está com muito buraco, está toda hora quicando errado".

Guilherme Clezar, após derrota em simples no Ginásio do Ibirapuera, em entrevista coletiva

"Muitos jogadores têm reclamado, mas as condições são iguais para todo mundo. Comparar Roland Garros com aqui não tem como, mas acho que também não é motivo de desculpa"

Thomaz Bellucci, após vitória em simples no Ginásio do Ibirapuera, em entrevista coletiva

"Realmente não está fácil de jogar. Tem muita gente que reclama demais, mas é ruim para os quatro".

Bruno Soares, após vitória em duplas no Mauro Pinheiro, em entrevista coletiva

"Talvez nãos sejam as melhores bolas, não é a melhor quadra em que joguei, é a verdade. Porém as quadras e as bolas são para os dois jogadores, tanto para mim quanto para meu rival (Bolelli). Meu rival soube se adaptar melhor a isso e, bom, eu não. Tive dificuldades na troca de bolas, foi difícil, um pouco de altura (da cidade) faz com que as bolas sejam muito mais rápidas e é difícil controlar as bolas. O que pude falar com alguns jogadores é um denominador comum - aos jogadores está custando jogar tênis”.

Juan Mónaco, após derrota em simples no Ginásio do Ibirapuera, em entrevista coletiva

Fonte: Terra
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