Djokovic encanta público, se veste de Guga e esbanja irreverência no RJ
17 nov2012 - 21h41
Compartilhar
André Naddeo
Direto do Rio de Janeiro
No Rio de Janeiro, existe o jargão popular do "pinto no lixo", quando alguém se sente livre, leve e solto, como se estivesse em casa, aproveitando tudo ao máximo. Como se não houvesse amanhã. Foi exatamente desta forma que o sérvio Novak Djokovic se sentiu no Rio de Janeiro, mais especificamente no ginásio do Maracanãzinho, no duelo de exibição contra o brasileiro Gustavo Kuerten neste sábado.
Afinal, que tenista ocupando o posto de melhor do mundo cairia no samba, ficaria rodeado de bumbuns de mulatas, tiraria a camisa para fotos ao lado de modelos em quadra, e, brincando, ainda faria o torcedor sair com o sentimento de que valeu cada centavo gasto ao disparar bolas precisas, quando tentava jogar mais seriamente?
Além disso, qual tenista não só imitaria o anfitrião com uma peruca e seus trejeitos como entraria, ao final do embate, com uma camisa em sua homenagem, puxaria o coro do público e proporcionaria a Guga, como se revivesse Roland Garros, a oportunidade de desenhar um coração no saibro e se jogar ao chão agradecido? Mais que um tenista profissional, Novak Djokovic provou neste sábado que é um verdadeiro showman. Isso tudo, vale lembrar, num esporte tido como de elite.
"É sua terra, seu povo, você merecia ganhar", disse o sérvio em resposta ao brasileiro, ciente de que o atual número um do mundo não deu seu máximo na vitória de Kuerten por 2 sets a 0, parciais de 7/6 (11-9) e 7/5. "O Guga é um dos caras mais amáveis e carismáticos e hoje ele provou isso. Vem de um país com um grande coração e espírito. O Brasil possui 200 milhões de habitantes; a Sérvia, apenas sete milhões. Mas somos muito parecidos, somos felizes, engraçados e temperamentais. Muito obrigado por esta noite", completou Djokovic.
Crônica de um espetáculo de tênis
Logo no primeiro game do confronto-exibição, Novak Djokovic provou que seu talento para a modalidade, que o elevou ao status de melhor tenista do mundo, é proporcional aos seus dotes artísticos. A ponto de deixar o carismático e maior tenista brasileiro de todos os tempos em segundo plano, como se ele fosse tímido.
Na recepção do saque de Guga, a dancinha tradicional com o bumbum rendeu assovios da arquibancada, devidamente agradecidos pelo sérvio, obviamente. Kuerten, por sua vez, seguia uma outra missão: tentava provar acima de tudo que ainda pode dar trabalho a grandes nomes do circuito. E, de fato, suas esquerdas ainda surpreendem e renderam diversos aplausos do sérvio. Claro que não faltaram os tradicionais gritos na hora da devolução.
O público, que lotou o ginásio do Maracanãzinho, ainda um pouco desacostumado com o silêncio que impera nos jogos de tênis, vira e mexe, soltava um "vai pra cima dele, Guga!". O fato é que, em todo o momento, quem guiou as ações da partida - quer dizer, do show particular - foi ele, Djokovic. Pouco importava o resultado.
Mesmo com uma quebra de saque do brasileiro, Novak se manteve firme para se divertir em quadra e ainda bajular os torcedores com uma bandeira do Brasil no banco de descanso. Também não se conteve aos chamados de um setor das arquibancadas, todo enfeitado com as cores da Sérvia, e correu para o abraço.
Ao observar um garoto nas arquibancadas segurando uma raquete de tênis, tratou de de paralisar a partida e levou a criança para o saibro. Ausentou-se e o deixou batendo bola com Guga. O fã mirim não se intimidou, devolveu as bolas fracas lançadas e levou os torcedores ao delírio. Em outro momento "fanfarrão", o número 1 do mundo trocou de lugar ainda com pegadores de bola. Tomou-lhe a toalha, as bolinhas e, com as mãos para trás, fez a pose clássica de quem aguarda o profissional servir para o jogo. Papéis totalmente invertidos.
Quando um torcedor gritou justamente na hora do seu serviço, o sérvio não fez por menos: após a rebatida de Guga, devolveu o mesmo grito, no mesmo tom. Até quando usou da seriedade não deixou de fazer travessura: acertou em cheio a cabeça do juiz de linha. Desculpou-se, colocou a culpa na raquete, devidamente trocada.
Contando com o clima de férias do tenista número 1 do mundo, Guga dava o tom de nostalgia nas arquibancadas, com fãs ainda saudosos de quase 12 anos atrás, quando o posto mais alto do topo da ATP pertencia ao brasileiro.
Mesmo se revoltando com algumas bolas que o sérvio o obrigava a correr, reclamando que "dez anos atrás alcançaria", ao devolver a quebra de serviço de Djokovic, Kuerten levou o jogo para o tie-break. E, com dois belos serviços, venceu o primeiro set - para "desespero" do sérvio, que se jogou no chão, como se estivesse sofrendo.
pós nova performance no intervalo, com os dois protagonistas, claro, dançando ao som de Michel Teló, com 'Ai, se eu te pego', a fanfarronice teve o seu ponto alto. Djokovic foi ao banco de descanso, sacou sua peruca encaracolada e passou a imitar Kuerten. Primeiramente, o giro no quadril, como quem sente as mesmas dores. Depois, os trejeitos do catarinense. E, claro, os gritos de devolução.
Nem importava mais o resultado da partida, vencida por Guga, após levar também os segundo set. Novak Djokovic provou que não é só o melhor tenista do mundo da atualidade. É também o melhor nome, sem sombra de dúvidas, para partidas de exibição como essa. Afinal, monotonia não é com ele. De jeito nenhum.
O carisma de dois dos maiores tenistas do século, as palhaçadas de Djokovic e a nostalgia das jogadas geniais de Gustavo Kuerten embalaram o desafio de tênis no Maracanãzinho neste sábado, entre um ex-número 1 do mundo e o atual líder do ranking da ATP
Foto: Mauro Pimentel / Terra
De maneira surpreendente, Guga, 36 anos e aposentado há quatro, derrotou o atual número 1 do mundo por 2 sets a 0, parciais de 7/6 (11-9) e 7/5
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Um dos momentos mais divertidos do show de Djokovic foi quando o sérvio resolveu imitar Gustavo Kuerten - com direito a uma peruca meio Guga, meio McEnroe
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Imitando Guga, Djokovic até imitou o desconforto no quadril que o brasileiro sente há anos
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Mas o sérvio também soube imitar as virtudes de Guga - o que dizer, por exemplo, desta esquerda paralela?
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Guga aprovou a brincadeira de Djokovic
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Djokovic, campeão do ATP Finals diante de Roger Federer na segunda-feira, não atuou em seu melhor nível - o que tornou a partida equilibrada
Foto: Mauro Pimentel / Terra
No saibro do Maracanãzinho, a torcida carioca pôde matar a saudade das jogadas geniais de Guga, como a esquerda na paralela
Foto: Mauro Pimentel / Terra
O que mais marcou a exibição no Rio de Janeiro, contudo, foi a interação entre os ídolos e a torcida
Foto: Mauro Pimentel / Terra
O menino Enzo Flores, 4 anos, foi convidado por Djokovic para entrar em quadra e bater bola com Guga. E, para surpresa geral, o menininho aplicou um lob sobre o tricampeão de Roland Garros
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Enzo, embora tenha apenas 4 anos, mostrou intimidade com a raquete - e aplicou um lob em Guga
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Tenistas brincam com o garotinho Enzo, uma das atrações da noite
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Kuerten não se importou em ter sido batido pelo menininho de 4 anos: abraçou Enzo e o ergueu
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Logo depois, Djokovic chamou um dos pegadores de bola para disputar um ponto contra Guga. O garoto errou um lob e recebeu orientações personalizadas do sérvio
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Djokovic nunca escondeu a idolatria que tem por Guga e a felicidade por poder enfrentar o único brasileiro que liderou o ranking da ATP na história
Foto: Mauro Pimentel / Terra
O sérvio mostrou carinho pelo Brasil e até ostentou uma bandeira nacional durante uma virada de quadra
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Em troca, ele ganhou o carinho do público brasileiro. E até viu um cartaz com uma mensagem em sérvio: "Djokovic, hoje é meu aniversário. Quer comemorar comigo?", constava. Não sabemos se o tenista número 1 do mundo aceitou
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Os dois astros retribuíram o carinho da torcida
Foto: Bruno Turano/Agif / Gazeta Press
Juiz de linha observa Djokovic, durante uma das brincadeiras do tenista sérvio
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Djokovic chegou a acertar a cabeça de um dos juízes da partida, mas se desculpou e colocou a culpa na raquete
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Djokovic interagiu bastante com as fãs
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Irreverente, o atual número 1 do mundo deu a oportunidade de pegadores de bola baterem uma bola com Guga
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Já Guga vibrou muito com as grandes jogadas que conseguiu encaixar diante de Djokovic
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Djokovic, ao perder o primeiro set, fingiu sofrimento
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Gustavo Kuerten também levou à quadra a filha, Maria Augusta
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Mãe de Guga, Dona Alice compareceu ao Maracanãzinho
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Djokovic bateu papo com pegador de bola durante a partida
Foto: Mauro Pimentel / Terra
O sérvio, fã de Michel Teló, também dançou 'Ai, se eu te pego'
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Ao final da partida, Djokovic deixou o molde das mãos para a Calçada da Fama do complexo do Maracanã
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Ao final da partida, Djokovic caiu no samba, cercado por mulatas
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Passistas tiraram Djokovic para sambar, e o sérvio não se intimidou
Foto: Mauro Pimentel / Terra
O sérvio arriscou alguns passos de samba, mas sem muito êxito
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Mulata fez trenzinho com Djokovic
Foto: Mauro Pimentel / Terra
O duelo acabou sendo Sérvia x Brasil, já que do outro lado estavam o veterano Carlos Alberto Kirmayr e o ator global Luigi Baricelli, famoso também por ser um praticante da modalidade; posteriormente, já além da metade do confronto, foi substituído pelo tenista e também comentarista Narck Rodrigues; mesmo com algumas "bolas furadas" e problemas sérios no saque, Petkovic usou do parceiro profissional para fazer valer a força sérvia e vencer a partida disputada em único set: 7/4 (melhorde onze)
Foto: Mauro Pimentel / Terra
A programação inicial do duelo previa o sérvio-boleiro atuando ao lado de Dácio Campos, comentarista da modalidade no canal SporTV; a organização não informou os motivos da alteração, mas o fato é que Petkovic surgiu com uma carta na manga: ao invés de Dácio, foi a quadra ao lado do compatriota Nenad Zimonjic, duplista profissional, com três títulos de Grand Slam no currículo
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Grande promotor da ida do atual tenista número um do mundo, Djokovic, que logo mais enfrenta o brasileiro Gustavo Kuerten em partida de exibição, Petkovic mostrou que até leva jeito para a coisa, mas para vencer o primeiro duelo do dia, acabou "apelando" no Maracanãzinho
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Depois de jogar, o ator Luigi Baricelli foi mestre de cerimônias