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Invicto com Nadal no videogame, Mónaco relembra "maldição nas finais"

23 mar 2013 - 08h01
(atualizado às 11h53)
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<p>Em fevereiro de 2013, Juan Mónaco e Rafael Nadal foram vice-campeões do torneio de duplas do ATP 250 de Viña del Mar</p>
Em fevereiro de 2013, Juan Mónaco e Rafael Nadal foram vice-campeões do torneio de duplas do ATP 250 de Viña del Mar
Foto: AFP

Juan Mónaco não é conhecido apenas por ser o número 14 do mundo no tênis. O argentino, 28 anos, é também um dos melhores amigos de Rafael Nadal, o qual conhece desde a época em deixou seu país para treinar na Espanha, 13 anos atrás. Ao lado do espanhol, Mónaco forma ainda a melhor dupla do circuito – no videogame.

Jogando futebol no PlayStation com Nadal, Mónaco conta ao Terra que a parceria está invicta há seis anos. A entrevista foi concedida durante o Brasil Open, em fevereiro, quando o argentino, bem-humorado, dizia que procurava “profissionais” para enfrentar visto que os colegas tenistas já não estavam mais à altura do desafio.

Em São Paulo, Mónaco ganhou em 2004 um challenger, no Parque Villa Lobos, que alavancou sua carreira, levando-o a pular da 324ª posição do ranking mundial para a 227ª. Neste ano, ele não teve a mesma sorte na cidade, sendo eliminado do ATP 250 na estreia, pelo italiano Simone Bolelli.

O argentino sofria com dores na mão direita, lesão que o faria desistir nas semanas seguintes de participar do ATP 250 de Buenos Aires e do ATP 500 de Acapulco. Com duas vitórias e cinco derrotas na temporada, ele não repete a grande fase vivida em 2012, temporada na qual conquistou quatro títulos e encerrou um jejum de cinco anos sem erguer um troféu.

<p>Nadal foi campeão do Brasil Open, no segundo torneio após ficar sete meses parado devido a uma lesão no joelho; Mónaco caiu na estreia</p>
Nadal foi campeão do Brasil Open, no segundo torneio após ficar sete meses parado devido a uma lesão no joelho; Mónaco caiu na estreia
Foto: Fernando Borges / Terra

Nesse período de tabu, Mónaco sofreu com problemas físicos e perdeu sete finais consecutivas, chegando a pensar que jamais voltaria a ganhar um torneio. Se voltou, parte desse mérito o argentino divide com Nadal, que o convidou para duas semanas de treinamento na Tailândia, em outubro de 2010.

Pouco depois disso, Mónaco atingiu em Xangai a primeira semifinal de Masters 1000 da carreira, retornou ao top 30 do ranking e iniciou uma arrancada que culminou com a décima posição alcançada em julho passado, a melhor da carreira.

Na entrevista, Mónaco disseca a amizade com Nadal e também fala sobre a Copa Davis, admitindo que os tenistas argentinos sofrem uma grande pressão por nunca terem vencido a competição – o que ele atribui ao sucesso obtido em outras modalidades pelo país campeão mundial de futebol em 1978 e 1986, de basquete em 1950 e de hóquei feminino em 2002 e 2010. 

Nação que mais vezes chegou à final da Davis sem nunca levantar o troféu, a Argentina foi vice em 1981, 2006, 2008 e 2011. Nesta temporada, recebe a França em Buenos Aires entre 5 e 7 de abril, pelas quartas de final, sem contar com Juan Martín del Potro. Como o número 7 do mundo se ausentará da competição em 2013 para priorizar os torneios de simples do circuito, cabe a Mónaco liderar a equipe alviceleste. Mais uma "maldição das finais" pode ser quebrada.

Veja a entrevista com o tenista argentino Juan Mónaco:

Terra - Você integrou o top 20 em 2007 e 2008 e demorou até o ano passado para voltar ao grupo. O que aconteceu nesse período?

Juan Mónaco - Bom, olhe, o tenista tem etapas em sua carreira, lembro que em 2007 e 2008 joguei muito bem e que em 2009 tive lesões importantes: tive pneumonia e fiquei quatro meses parado, com problemas no joelho e no punho. O ano passado foi o primeiro em que pude jogar todo o calendário e por sorte foi bastante bom, porém talvez atribua isso ao fato de que ganhei torneios. Isso faz somar muito mais pontos, faz ganhar confiança, seu nível de jogo se incrementa. Diferentemente dos anos anteriores em que jogava muito bem, mas me custava ganhar as finais, foram sete seguidas em que vinha perdendo - isso ao final do ano marca um pouco. Mas tampouco me desconcentrava muito: eu sabia que isso iria mudar e o ranking iria melhorar.

Terra - Quando você perdia tantas finais seguidas era um período complicado, né? Você chegou a pensar: “nunca mais vou vencer uma?”.

Juan Mónaco - Sim, complicado. Em um par de finais estive muito perto, mas também meus rivais jogavam muito bem. Recordo finais muito duras que perdi, contra (Robin) Soderling (em Bastad 2009), (Nikolay) Davydenko (em Poertschach 2008), que no momento eram jogadores muito bons, eram top 5 ou 6 e perdi de forma equilibrada. Em Buenos Aires contra (Tommy) Robredo (em 2009), que estava jogando um tênis espetacular. São partidas duras, mas a gente começa a pensar muito: ‘quando vou voltar a ganhar outro torneio?’ A bola vai ficando cada vez maior. Por sorte e à base de constância e trabalho, o tênis vai dando oportunidade todo o tempo. Passou Viña del Mar (em 2012), pude ganhar, relaxar um pouco, jogar muito mais tranquilo e depois tive o ano que tive.

Terra - Nessa sequência também houve uma derrota na final de Santiago, em 2010, para o brasileiro Thomaz Bellucci. 

Juan Mónaco - Foi uma final muito dura, com 6/4 no terceiro (set). No papel eu deveria ter ganhado, tinha mais experiência e ele era mais jovem, mas em uma final pode ganhar qualquer um.

Terra - Você já disse que para a retomada de sua confiança foi importante um período em que você treinou com Rafael Nadal na Tailândia, em 2010. Como foi isso?

Juan Mónaco - Sim. Eu vinha de perder na semifinal da Copa Davis contra a França e Rafael vinha de ganhar o US Open. Eu não estava num bom momento e Rafael me convidou a ir à Tailândia. Estivemos uma semana, tranquilos, treinando, depois me chamou uma semana para Bangcoc, onde não joguei, mais fiquei treinando. Na verdade me serviu muitíssimo porque depois disso melhorei bastante, pude jogar a semifinal de Xangai, fui bem em Valência e em Paris no fim do ano. Me deu um ânimo bastante bom. Passamos por um bom momento.

Terra - Como começou sua amizade com Nadal?

Juan Mónaco - De criança. Fui à Espanha com 15 anos, comecei a jogar torneios, era a inserção ao profissionalismo, com (torneios) futures e satélites. Rafael também estava jogando ao mesmo tempo. Começamos a nos conhecer e depois tivemos uma evolução no tempo parecida quando nos metemos nos torneio grandes – ele em sua escala, eu na minha. Bom, compartilhamos muitas coisas desde crianças e aí temos essa relação, desde os 15, 16 anos.

Terra - Sabemos que vocês costumam jogar futebol no PlayStation.

Juan Mónaco - Isso sempre vai seguir. Sempre digo que fora do clube de tênis ou das partidas somos caras normais, como qualquer outro que gosta de se divertir. Alguns gostam de sair, outros de ver futebol, outros de jogar Play. Como temos pequenos tempos livres por aí e estamos nos hotéis, tratamos de compartilhar dessa maneira, desfrutando como com qualquer amigo nosso de vida cotidiana, jogando Play.

Terra - E quem ganha mais de quem?

Juan Mónaco - Não, jogamos em dupla! Rafael e eu jogamos contra Murray e seu treinador, Dani (Vallerdu), que conhecemos há muito tempo. Em seu momento jogamos contra (David) Ferrer. (David) Nalbandian também joga muito, sempre há rivais a todo tempo, nós vamos tomando nosso tempo.

Terra - E o histórico de vocês é positivo?

Juan Mónaco - Sempre, nunca perdemos. Faz seis anos que não perdemos. Verdade (ri).

Terra - E jogaram no Brasil Open também?

Juan Mónaco - Aqui? Sim, trouxemos o Play, vamos jogar, mas não temos rivais. Temos que buscar, especialistas, profissionais já. Nos conhecemos demasiado, é a verdade.

<p>Com ausência de Del Potro, Mónaco assume a responsabilidade de ser o número 1 argentino na Copa Davis</p>
Com ausência de Del Potro, Mónaco assume a responsabilidade de ser o número 1 argentino na Copa Davis
Foto: Getty Images
Terra - Falando sobre Copa Davis, você foi o número 1 da Argentina no confronto contra a Alemanha, em fevereiro. Você sente a responsabilidade de liderar a equipe?

Juan Mónaco - Talvez não veja dessa maneira. Obviamente que tenho mais experiência, mas Nalbandian também tem, este ano Juan Martín (Del Potro) não vai estar, teremos que nos adaptar à falta de nosso melhor jogador. Temos de formar a melhor equipe possível e se deu bastante bem contra Alemanha. Fiz uma boa partida contra (Florian) Mayer, depois os rapazes fizeram um bom trabalho e passamos a série por 5 a 0. Sem Del Potro esperavam que ia ser muito mais complicado, mas passamos e agora temos a mente na França. Vai ser muito duro, mas já estamos nas quartas, o que era o obetivo principal este ano.

Terra - Sempre na Copa Davis se debate muito a união do grupo da Argentina. Isso realmente já foi um problema? Após a vitória contra a Alemanha, parte da imprensa argentina publicou que vocês teriam cantado músicas no vestiário contra Del Potro, ironizando o fato de ele não ter se prontificado a jogar.

Juan Mónaco - Sinto que na Argentina se viva de uma maneira muito especial a Copa Davis. Fomos campeões do mundo no futebol, campeões do mundo no basquete, campeões do mundo no hóquei, somos muito bons no rúgbi, e no tênis teoricamente somos muito bons, mas perdermos quatro finais e não somos campeões. Então nos é exigido muito o tempo todo, a imprensa coloca demasiada pressão na equipe argentina e as pessoas também, nós a sentimos. Entao, por aí, quando Del Potro não joga, as pessoas pensavam que fosse ser muito dificol, que perderíamos. Ganhamos, e de uma maneira muito boa, mas se vê muitas vezes que isso não vende – vende que haja problemas. Então a imprensa às vezes fala demais. E nesse momento disseram que tínhamos cantado contra Del Potro, tudo absolutamente mentira. Foi uma invenção da imprensa porque eles não têm acesso ao vestiário, então é impossível que tenham escutado algo ou digam isso. Tratamos de nos adaptar, pensar no grupo que formamos agora e olhar para frente. Focados, sabendo que Del Potro não vai estar, que temos de nos adaptar a um monte de coisa, e tratando de melhorar, mas a explicação é que a estou dando. A imprensa pode falar bem ou mal de nós, não há um problema. Porém nós vivemos dessa maneira.

Fonte: Terra
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