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Tenista brasileiro deixa projeto olímpico e volta a defender Suécia

14 jun 2012 - 12h20
(atualizado em 15/6/2012 às 18h41)
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Felipe de Queiroz
Henrique Moretti

O tênis brasileiro tem uma promessa a menos defendendo suas cores no circuito profissional. O carioca Christian Lindell, 20 anos e número 433 do mundo, voltou a defender a Suécia. A informação foi confirmada ao Terra por Paulo Moriguti, gerente de alto rendimento da Confederação Brasileira de Tênis (CBT).

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Segundo Moriguti, Lindell já deixou há cerca de um mês o Projeto Olímpico Rio-2016 da Confederação Brasileira de Tênis, que conta com o apoio de Gustavo Kuerten e a coordenação do técnico Larri Passos. A iniciativa, lançada em 2011, selecionou 15 atletas para fazer parte do convênio, que utiliza um aporte financeiro de R$ 2 milhões dado pelo Ministério do Esporte e o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) para trabalhar na evolução dos tenistas.

Depois da decisão, tomada porque o tenista não quis cumprir um acordo com a CBT, ele voltou a atuar oficialmente pela Suécia. Essa informação ganhou destaque nesta quinta-feira, quando um comentarista sueco do canal Eurosport postou a seguinte mensagem no Twitter: "notícias... fantástico. Christian Lindell de volta como sueco!!!!". Horas depois, o sueco Robin Soderling retuitou a mesma mensagem.

O site da Associação dos Tenistas Profissionais (ATP) já traz a mudança de nacionalidade do jogador, que atualmente está disputando futures (torneios de terceiro escalão no circuito profissional, atrás dos challengers e dos ATPs) no Brasil.

Lindell, filho de pai sueco com mãe brasileira, defendeu o país europeu por quatro anos até fevereiro de 2012. Nesse período, ele ainda morava no Rio de Janeiro, mas passava cerca de três meses por temporada treinando na Suécia, onde desfrutava de apoio e estrutura da federação local.

Após um período de indefinição, Lindell chegou a um acordo com a CBT em fevereiro, passando a integrar o Projeto Olímpico Rio-2016, porém não cumpriu com o que havia se compromissado, segundo Paulo Moriguti.

"Não foi um problema diretamente de indisciplina, não chegou a ofender ninguém. Ele fazia parte do Projeto Rio 2016, nossa comissão técnica tinha orientado que ele seguisse para o centro de treinamento (de Itamirim) de Santa Catarina, e ele disse que não se mudaria. Era a condição que a gente impôs para fazer um bom trabalho e melhorar o rendimento dele", explica.

De acordo com Moriguti, ao final Lindell passou menos de um mês trabalhando no CT em questão, localizado em Itajaí, sob a orientação de Patrício Arnold, diretor de alto rendimento da CBT, e do ex-tenista e atualmente técnico do centro, Marcos Daniel.

De acordo com o dirigente da CBT, após participar em fevereiro do ATP 250 de São Paulo, do Challenger de Florianópolis e do Future de Itajaí com o acompanhamento dos dois profissionais, o tenista telefonou solicitando passagens aéreas para viajar à Turquia, onde participaria de futures, cumprindo segundo o atleta um planejamento que ele já havia determinado com um treinador sueco.

"Ele queria passagem sem acompanhamento técnico (da CBT). Existe um calendário aprovado, não é chegar e vai, ele queria tomar as rédeas. Somos cobrados por resultados e temos prestação de contas", diz Moriguti. Após oo episódio, na volta ao Brasil, o dirigente recebeu uma ligação do pai de Lindell dizendo que o atleta não queria se mudar para Itajaí.

A partir daí veio o corte do projeto e, como consequência, a nova mudança de nacionalidade. Em 6 de fevereiro, o jovem havia utilizado o Twitter para anunciar que voltaria a defender as cores verde e amarela: "foi uma decisão muito difícil a ser tomada, mas estou muito feliz em poder voltar a defender o Brasil, o País onde moro e minha familia vive. Me sinto muito mais brasileiro", disse ele, que desde então não tinha se manifestado na rede social informando sobre a mais recente alteração.

Relembrando aquele anúncio, Moriguti admite que talvez Lindell tenha se "precipitado em anunciar a mudança sem experimentar" o treinamento em Itajaí. "Ele tem família lá (no Rio de Janeiro), a gente entende, eu ainda falei: 'quer ser atleta profissional não dá para abrir mão desse esforço, você não vai deixar de visitar o Rio'. Mas isso acaba pesando", afirma o dirigente.

De novo sueco, Lindell teve como melhor ranking na ATP a 288ª posição em julho de 2011. Nos períodos longe da Suécia, ele costumava treinar no CT de Ricardo Accioly, ex-capitão do Brasil na Copa Davis, mas, segundo Moriguti, não era acompanhado pelo técnico (o mesmo de João "Feijão" Souza) no circuito, viajando "sozinho".

Em Itajaí, o tenista ficaria próximo ao centro de treinamento dirigido por Larri Passos, em Balneário Camboriú, onde trabalha Bia Haddad Maia, 16 anos, vice-campeã de duplas juvenil na última edição de Roland Garros. De acordo com Moriguti, foi oferecida "uma residência separada" a Lindell "ao lado do clube" Itamirim, além de "refeição e uma excelente estrutura". O gerente da CBT afirma que ainda não haviam sido discutidos valores, mas uma boa parte das despesas na nova cidade seria paga pelo projeto.

Capitão da Suécia na Davis, Enqvist não via Lindell há um ano

A nova mudança de nacionalidade de Lindell parece ser uma novidade também para os suecos. Há pouco mais de um mês, em 12 de maio, Thomas Enqvist - capitão da equipe sueca da Copa Davis que esteve em São Paulo para disputar um torneio de veteranos - comentou sobre a deserção e se disse decepcionado com aquela atitude do tenista, divulgada em fevereiro.

"Obviamente eu me senti bastante desapontado com a atitude dele, mas não posso criticá-lo", afirmou Enqvist, em entrevista exclusiva ao Terra. "O importante é ele fazer o que o coração dele manda".

Sem mágoas, Enqvist não fez criticas mais duras ao então brasileiro, mas evitou comentar a respeito da carreira de Lindell. "Não me sinto à vontade para comentar o futuro do Christian. Não sei como está o jogo dele. Não o vejo há mais de um ano", disse o capitão, aparentemente ignorando o retorno do garoto ao tênis sueco, que estava em vias de acontecer naquele momento.

Apesar do retrospecto ainda modesto no circuito, Lindell é uma das apostas da Suécia, tradicional escola europeia de tênis que - com exceção de Robin Soderling - não tem nenhum tenista bem colocado no ranking da ATP no momento. Fora o ex-top 5 Soderling, atualmente afastado das quadras devido a uma mononucleose, o jogador mais bem posicionado do país é Michael Ryderstedt, número 339 do planeta.

"Sim. Existe uma grande pressão na Suécia por grandes jogadores", admitiu Enqvist, vice-campeão do Aberto da Austrália em 1999 e ex-número 4 do mundo, que lembrou que a federação local de tênis tem feito um grande esforço para encontrar talentos que levem à frente a modalidade na nação.

"Estamos fazendo um trabalho com os clubes que está sendo coordenado por grandes nomes", contou Enqvist, falando sobre o projeto de descobrimentos de talentos que envolve estrelas como os ex-líderes do ranking mundial Mats Wilander e Stefan Edberg.

Hoje vivendo dias de vacas magras, a Suécia está entre os países mais tradicionais do tênis nos últimos 40 anos, com astros como Bjorn Borg, Mats Wilander, Stefan Edberg, Thomas Johansson e Thomas Enqvist.

O Terra tentou entrar em contato com Christian Lindell e com a direção do centro de treinamento de Itajaí para comentar o assunto, mas não havia obtido sucesso até a publicação desta reportagem.

Christian Lindell já havia mudado de nacionalidade no começo do ano
Christian Lindell já havia mudado de nacionalidade no começo do ano
Foto: AFP
Fonte: Terra
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