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Tênis

Fãs vaiam argentino, implicam com Maradona e recebem "beijinhos"

18 fev 2012 - 07h53
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Henrique Moretti
Direto de São Paulo

Segundo o site oficial da ATP (Associação dos Tenistas Profissionais), se Leonardo Mayer não fosse tenista gostaria de ser "goleiro". Pois ele encontrou na noite desta sexta-feira uma espécie de Bombonera no Ginásio do Ibirapuera, em São Paulo, que "pulsava" e vibrava a cada lance como se não ocorresse ali uma partida de tênis do Aberto do Brasil e sim uma de futebol. O argentino acabou vaiado em quadra até perder a concentração e ser derrotado pelo brasileiro Thomaz Bellucci. Sobrou até para Diego Armando Maradona.

Toda a polêmica com a torcida começou no quarto game do segundo set. Mayer havia vencido a primeira parcial por 6/3 e servia em 1/2 e 40-15 quando alguns poucos espectadores começaram a gritar repetidamente: "tempo! Tempo!". O protesto era motivado pela demora do argentino para sacar - que conforme cronometrou o Terra realmente superava os 25 s regulamentares da ATP.

Instantes antes da manifestação dos torcedores o próprio Bellucci havia reclamado com o juiz de cadeira, o espanhol Félix Torralba, a quem fez um sinal indicando um relógio imaginário no punho. "Eu acho que ele (Mayer) estava passando do limite em algum momento ali, mas a minha intenção não era atiçar a torcida, não. Às vezes mesmo quando a torcida atrapalha tem que sacar (dentro do tempo) porque isso acontece. Se ficar parando toda hora, o jogo não vai rolar", disse Bellucci, em entrevista após a vitória por 3/6, 6/2 e 7/5 que o classificou à semifinal do torneio.

Mayer, de 1,88 m, faz todo um ritual para sacar. Ele pede geralmente três bolinhas e descarta uma até se dirigir à área de saque. Então dá três pequenos saltos em um só pé, bate a bolinha no chão, inclina o corpo à frente apoiado na perna esquerda e bate a bolinha de novo. Segundo cronometrou o Terra, o tenista jamais respeitou os 25 s para recolocar a bola em jogo quando serviu em 3/2, 4/3 e 5/4 no terceiro set - demorou no mínimo 27 s e no máximo 44 s, sendo que as marcas de 33 s, 34 s e 36 s apareceram mais de uma vez nos games citados.

É verdade, também, que raramente os juízes dão uma advertência aos jogadores por abuso de tempo. Atualmente número um e dois do mundo, o sérvio Novak Djokovic e o espanhol Rafael Nadal são constantemente flagrados por cronômetros gerados por emissoras de televisão ultrapassando o limite regulamentar. Mais raro ainda é um árbitro aplicar a regra da reincidência, o que acarretaria perda de um ponto.

Justa ou não, a reclamação dos fãs no Ibirapuera apenas disparou o gatilho. Os cerca de 7.300 espectadores passaram a vibrar muito a cada erro de Mayer, incluindo nos equívocos no primeiro saque. O tenista perdeu a concentração imediatamente e também o segundo set por 6/2, mas se recuperou e controlava a pressão da torcida até sacar em 5/4 e 15-0 na terceira parcial. Nesse momento, sentiu o clima hostil e cometeu uma dupla-falta no 15-15 que recolocou Bellucci no jogo.

Até o primeiro grito de "tempo!" vindo da plateia, a torcida já criava um certo clima de Copa Davis, com comemoração nos erros do tenista "adversário", mas de forma mais contida. O argentino só tinha ouvido vaias efetivas quando, durante o aquecimento para a partida, o locutor o apresentou como um grande fã de Maradona.

O ex-jogador do Boca Juniors é citado no site da ATP como "a pessoa mais inspiradora na vida" de Mayer. O atleta, que mora em Buenos Aires e tinha sido aplaudido na entrada no ginásio, foi hostilizado na saída. Ele caminhou para deixar a quadra logo depois de cometer uma dupla-falta no match point e ainda mandou beijinhos para a torcida, em tom irônico, fazendo um gesto com a mão, e depois batendo no peito.

Um papel foi atirado em sua direção quando ele já entrava no túnel que dá acesso aos vestiários. O argentino não apareceu na sala de imprensa do Ibirapuera para falar sobre o comportamento dos fãs brasileiros - ele seria obrigado a dar a entrevista se houvesse o número mínimo de pedidos por escrito da parte dos jornalistas. Nem os repórteres previam que por um dia o Ibirapuera pudesse se transformar na Bombonera.

Público do Brasil Open não perdoou Mayer, bastante vaiado na derrota para Bellucci
Público do Brasil Open não perdoou Mayer, bastante vaiado na derrota para Bellucci
Foto: Gaspar Nóbrega/ Inovafoto / Divulgação
Fonte: Terra
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