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ATP

Treinador lamenta desperdício com Lindell: teve a chance dos sonhos

15 jun 2012 - 18h33
(atualizado em 16/6/2012 às 08h14)
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Felipe de Queiroz
Henrique Moretti

Frustrante. Assim pode ser descrita a breve passagem de Christian Lindell pelo centro de treinamento do Itamirim Clube de Campo, no Vale do Itajaí, em Santa Catarina. Nesta quinta-feira, veio à tona a notícia de que o tenista - que em fevereiro anunciou que deixaria de defender a Suécia para "vestir as cores" do Brasil - voltou atrás e escolheu mais uma vez jogar pelo país escandinavo.

» Veja entrevista exclusiva com Christian Lindell sobre o caso

Foram cerca de quatro meses deste carioca como tenista brasileiro; um projeto que afundou deixando um rastro de controvérsias e decepções, especialmente na equipe do Itamirim, chefiada por Patrício Arnold, diretor de alto rendimento da Confederação Brasileira de Tênis (CBT), e pelo ex-tenista Marcos Daniel.

Lindell, 20 anos, é o atual número 433 do mundo e teve como melhor posicionamento o 288º posto em julho de 2011. Considerado uma das principais promessas da modalidade entre as nascidas no País, ele foi repatriado pela CBT em fevereiro.

"Ele veio, mas praticamente não veio", define Marcos Daniel, ex-número 102 do ranking mundial a atualmente técnico do centro catarinense, que integra o Projeto Olímpico Rio-2016 da Confederação Brasileira de Tênis. O técnico, que classifica sua relação com Lindell como muito boa, concedeu entrevista exclusiva ao Terra, deu sua versão do caso Lindell e lamentou a oportunidade perdida pelo tenista.

"Ele teve a chance que muitos sonham, mas ficou em cima do muro", afirmou Marcos Daniel, destacando a estrutura disponível em Santa Catarina para o atleta, que se recusou, porém, a mudar-se para a região sul do Pais.

Menino do Rio

Lindell, apesar de defender a Suécia na maior parte da carreira, é nascido e sempre viveu no Rio de Janeiro e, ironicamente, foi o amor pela cidade cartão postal do Brasil que atrapalhou o caminho como aposta da CBT.

O jovem - que tem namorada e família na capital fluminense - nunca treinou rotineiramente em Santa Catarina e foi esse um dos fatores que pesou para que a parceria não desse certo.

"Não é legal expor a vida dele. Mas se ele realmente quisesse, o clube tem os melhores treinadores e preparadores físicos", afirmou Marcos Daniel, ao ser questionado sobre o fato de o tenista não querer deixar o Rio, onde tem família e namorada.

"Simplesmente não queria se mudar para Santa Catarina, preferia morar no Rio de Janeiro", disse ainda o gaúcho, que destaca a infra-estrutura de treinamento, moradia e alimentação que a CBT preparou para que Lindell se desenvolvesse no Projeto Olímpico Rio-2016.

"Já existia uma casa, com os outros atletas. O Christian não pagaria um real, o que nunca aconteceu com nenhum atleta", relatou, questionando a dedicação do atleta ao tênis. "Ele não estava disposto de abrir mão de tudo para treinar". Marcos Daniel trabalhou com Lindell por três semanas apenas, e acompanhou o tenista em dois torneios: Futures de Itajaí e Florianópolis.

O pai

Lars Lindell, pai de Christian, é personagem protagonista na novela envolvendo o carioca. Sueco, o patriarca da família Lindell chegou a fechar a parceria com a CBT e com a equipe do Itamirim durante o Brasil Open, em fevereiro deste ano, mas, de acordo com Marcos Daniel, fez, desde então, várias restrições ao projeto da CBT.

"A verdade é que o pai do Christian não estava satisfeito", afirmou. "O pai queria ser uma espécie de manager da carreira dele (Lindell). Mas não entendia nada de tênis", acrescentou.

Descontente com as condições de trabalho propostas pela CBT, Lars teria feito uma contraproposta, sugerindo participação restrita de Marcos Daniel e Arnold na carreira do filho.

"O pai queria que eu treinasse ele só nas viagens. Eu não ia colocar meu nome e o nome do clube se não pudesse treiná-lo diariamente", ponderou Marcos Daniel, que lamenta ainda a perda de tempo de ambas as partes no caso Lindell. "O pai ficou dando um 'enrrolation'. A gente estava há dois meses nessa novela, o Patrício entrou em contato com o pai e ele decidiu voltar a jogar pela Suécia".

Antigo treinador

O sueco Julius Demburg, técnico do tenista há cinco anos, é outra figura preponderante no história Lindell. Demburg é amigo próximo de Thomas Enqvist, atual capitão da Suécia na Copa Davis.

O treinador, segundo o próprio Lindell, foi o principal motivo para a nova troca de nacionalidade. "Se fosse em Itajaí da maneira como trabalha o Patrício (Arnold, coordenador técnico do Itamirim Clube de Campo), não poderia ter contato nenhum com o Julius, não poderia jogar giros na Europa. Estou com ele desde 2007, quando vou para a Europa. Assim, eu simplesmente não queria e no Rio eu poderia continuar com ele", disse Lindell, que falou com o Terra nesta sexta-feira.

Na mesma entrevista, Lindell definiu a CBT como radical e justificou a escolha pela Federação Sueca pelo fato de os europeus serem mais liberais. Sobre a decisão do atual sueco, a opinião de Marcos Daniel é implacável. "Ele voltou para a Suécia porque lá ele faz o que quiser. Aqui ele tem que prestar conta. Como a CBT viu que ele não tava comprometido, rompeu".

Marcos Daniel em partida contra Roger Federer, em 2005
Marcos Daniel em partida contra Roger Federer, em 2005
Foto: Getty Images
Fonte: Terra
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