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Jogos Inverno 2010

Realista, esquiador brasileiro mira argentinos em Vancouver

12 jan 2010 - 16h50
(atualizado às 16h54)
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Julio Simões

Será possível ter motivação para competir sabendo, antes mesmo da largada, que não vai terminar a prova nem entre os 30 primeiros colocados? Para Leandro Ribela, sim. O esquiador é um dos representantes do esqui cross country brasileiro nos Jogos de Inverno de Vancouver e tem outro objetivo traçado para a competição: superar os argentinos e buscar o melhor resultado brasileiro na modalidade até agora.

Nesta entrevista exclusiva ao Terra, Leandro contou como tem sido a preparação para a competição mais importante dos esportes de neve e o que imagina encontrar em Vancouver, além de relembrar seu começo na modalidade e as dificuldades enfrentadas por praticar um esporte tão pouco difundido em um país sem neve ou inverno rigoroso.

Terra: Como está sua expectativa para Vancouver?

Leandro Ribela: É difícil esperar qualquer resultado pela realidade que a gente vive hoje. O cross country é um esporte muito recente no Brasil. O primeiro atleta que a gente teve participando de competição oficial foi em 2001, se não me engano. Ou seja, estamos falando de um esporte que não tem nem 10 anos de prática no país. A gente está muito atrás dos países "top", que são Noruega, Suécia, Alemanha. Então, a expectativa de terminar entre os 10 ou entre os 30 não existe. O que a gente tem é a expectativa pessoal, porque até agora a evolução tem sido constante, tenho quebrado todos os recordes brasileiros. Em Vancouver, espero ter o melhor resultado Brasileiro até agora e brigar com os países que estão no mesmo patamar que a gente, como a Argentina, Chile, alguns países do Leste Europeu, alguns da Ásia.

Terra: Em 2006, Hélio Freitas foi o 93º entre os 97 atletas que terminaram a prova nos últimos Jogos de Inverno de Turim. Acha possível melhorar este desempenho em Vancouver?

Leandro Ribela: Com certeza. Pelos resultados que eu estou tendo, sim. Na Olímpiada de Turim ainda não existia a classificação por índice olímpico, mas uma cota por país. Ele era o melhor brasileiro na época e acabou entrando. Em 2010, foi a primeira vez que teve a classificação por índice, e acabei conseguindo e o Hélio não. No momento, dos cinco brasileiros que estavam brigando pela vaga, só eu alcancei.

Terra: Na época de Turim, você chegou a disputar uma vaga com o Hélio?

Leandro Ribela: Comecei no cross country na temporada 2005-06, mas não participei de nenhuma prova. Na época, dava aulas de esqui nos Estados Unidos e só treinava, então não competi com ele.

Terra: E como foi o seu começo no esporte?

Leandro Ribela: Fui instrutor de esqui alpino durante cinco temporadas de inverno. Sempre gostei de correr e gostava também de triatlo, mas durante o inverno sentia muita falta de praticar esses esportes, já que é muito frio para correr ou pedalar. Foi assim que comecei no cross country, como uma forma de exercitar e fazer os treinamentos para manter a forma para o triatlo no inverno.

Terra: Como você se sente praticando um esporte com pouca tradição no Brasil?

Leandro Ribela: Vou ser claro, me sinto orgulhoso. Sinto que estou abrindo portas para o esporte no país. Infelizmente comecei tarde para chegar aonde eu gostaria de chegar. Claro que cada conquista nossa é uma realização, mas infelizmente não vamos disputar os top 30 do mundo enquanto eu competir. Mas espero que isso abra as portas para as próximas gerações. Como o esporte é muito recente, o aprendizado é muito lento no começo. Quando deixar o esporte, quero ver alguma forma de colaborar com o esporte, seja como treinador ou alguma outra função.

Terra: Como é competir contra atletas com mais torcida e mais dinheiro?

Leandro Ribela: É complicado, pois a estrutura que eles tem é muito maior. Eles têm treinadores, equipe por trás que testa cera, centro de treinamento, equipamento para treinos durante o verão, companhia para treinar, tudo isso é importante. E quando a gente vem para a Europa, sente a melhora por ter um pouco dessa estrutura, esse acompanhamento. Tudo isso é importante para a nossa evolução.

Terra: E como tem sido os seus treinamentos na Europa?

Leandro Ribela: Duros. Nessa temporada fizemos muitas provas, acho que mais de dez em seis ou sete semanas. Aqui, as primeiras semanas foram de adaptações e preparação, depois veio um bloco de competições. Agora no Natal e no Ano Novo não tive provas e pude fazer treinos mais longos e intensos. Na semana que vem, tenho outro bloco de provas na Alemanha, na República Checa e na Macedônia. São as últimas competições antes de Vancouver.

Terra: E como foi passar o Natal e o Ano Novo longe do Brasil? Difícil?

Leandro Ribela: Sim, mas já é a minha quarta temporada fora. Desta vez, a minha mulher veio passar o Natal e o revèillon comigo, mas logo volta para o Brasil. Ainda tenho dois atletas comigo aqui, a Milene e o Leandro, que correm cross country e biatlo. É uma época que eu gostaria de estar lá com a família, claro, mas se você volta para o Brasil não tem a neve para treinar e são semanas importantes para o treinamento. Vale o sacrifício.

Terra: E quando você vem para o Brasil, tem como treinar?

Leandro Ribela: Os treinamentos no verão são muito importantes. Como o cross country é um esporte de resistência, a preparação do verão é essencial para um bom desempenho no inverno. Não adianta ter a técnica do esqui se você não está em uma boa condição física. Este ano (2009), treinei muito corrida, pedal, musculação no Brasil. Isso sem contar o rollerski, que é tipo um patins que você usa a mesma bota e bastão do cross country e é muito usado na Europa durante o verão. Aí no Brasil a gente treina o tempo todo com isso, complementando com a bicicleta e a corrida. Em São Carlos tem um lugar muito bom para treinar.

Terra: E quanto tempo você passa no Brasil e na Europa?

Leandro Ribela: Geralmente, estou na Europa de novembro a março, o resto passo no Brasil, com uma temporada mais curta no Chile e na Argentina, onde tem os campeonatos sul-americanos e brasileiro.

Terra: Quais são os adversários diretos do Brasil na modalidade?

Leandro Ribela: No cross country, a Argentina. No ranking sul-americano, estou em segundo lugar, atrás de um argentino.

Terra: Como foi a confirmação? Como você soube?

Leandro Ribela: Só foi divulgado no dia 22 de dezembro, e até lá eu falava para os amigos que só ia acreditar quando viesse a convocação oficial. Na verdade, eu já sabia pelos resultados que tinha, já tinha conquistado o índice desde março (de 2009) e os outros estavam muito abaixo. Mas realmente só acreditei quando veio a confirmação oficial.

Terra: E você estava na Europa quando soube? Como foi a reação?

Leandro Ribela: Fiquei muito contente, afinal foram quatro anos de dedicação pensando neste objetivo. É uma realização, a confirmação de que chegou a hora.

Terra: Já imagina como será o dia da abertura, você entrando no evento?

Leandro Ribela: Putz, não. A todo momento perguntam isso, mas a verdade é que eu estou querendo não criar muita expectativa para aproveitar o momento e me surpreender com aquilo que é. É lógico que você tem que se preparar no sentido de se programar em relação a treino, local onde vai ficar, como vai ser a alimentação, essas coisas. Mas não quero criar uma expectativa sobre como vai ser para não chegar e ver que é diferente. Quero deixar acontecer na hora. Já conversei com algumas pessoas que me dizem para curtir cada momento em que estiver nada porque passa muito rápido, mas não pergunto muita coisa. Quero deixar para ter minha opinião depois de ter vivido.

Terra: Já tem data para chegar lá?

Leandro Ribela: Tenho: 4 de fevereiro. Não volto para o Brasil antes, só depois.

Terra: E sobre a equipe do Brasil, o que você acha?

Leandro Ribela: Tenho pouco contato com eles, está cada um em um lugar e são modalidades diferentes. Tenho mais contato com a Jaqueline (Mourão), que compete no cross country e tem resultados excelentes. É difícil comentar muito, mas pelo que a gente acompanha, a Isabel tem bastante expectativa de resultado, e os outros dois, o Johnny (Longhi) e a Maya (Harrisson) encontrei pouco e acho difícil falar.

Leandro Ribela disputa sua primeira Olimpíada de Inverno
Leandro Ribela disputa sua primeira Olimpíada de Inverno
Foto: Divulgação
Fonte: Especial para Terra
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