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Jogos Inverno 2010

Capitão canadense de curling tem fama de astro do rock

25 fev 2010 - 12h37
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Greg Bishop

A fila se estendia para fora da porta do Vancouver Curling Club, na tarde de segunda-feira, e a entrada estava protegida por um segurança musculoso, como costuma ser o caso quando um homem com fama de astro do rock está presente do lado de dentro.

Os torcedores vieram para ver Kevin Martin, o mais famoso, vitorioso, e talvez, o mais careca jogador da história do curling no Canadá. Para sair em público, ele se disfarça. Emprega os serviços de um agente de imprensa, e sua popularidade se aproxima do nível conquistado por atletas como o astro do hóquei Wayne Gretzky.

"Sou só um atleta", diz Martin, e é exatamente isso que o torna tão interessante. Porque tem 43 anos e uma calva cada vez mais ampla no topo da cabeça. Quem o visse poderia pensar que seu esporte é o boliche, regado a cerveja.

Mas em lugar disso ele é o célebre capitão da seleção canadense de curling, que chegou invicta e em primeiro lugar às semifinais dessa modalidade, e enfrentará a Suécia, que derrotou o Reino Unido, na quinta-feira.

No Canadá, um país louco por curling, Martin conquistou legiões de fãs com seu sorriso franco, charme rural e humor autodepreciativo. A torcida o chama de K-Mart, e grita "não acorde o urso" quando ele está na pista. No ginásio em que o curling está sendo disputado, ele foi aplaudido de pé por três minutos, depois de uma partida recente. Gretzky fez questão de lhe desejar boa sorte.

A popularidade de Martin se estende a todas as faixas etárias, sexos e etnias. Mas ele conta com um apreço especial da parte das mulheres mais velhas. Muito, muito mais velhas.

"As avós o adoram", disse Jules Owchar, que treina Martin há muitos anos. "Sempre que ele realiza uma sessão de autógrafos, todas as avós em um raio de 100 quilômetros querem tirar uma foto ao lado dele".

Martin cresceu em Killam, uma cidade pequenina a duas horas de distância de Edmonton, na província de Alberta, na fazenda de sua família. Seus pais criavam porcos, galinhas, perus e gado e também cultivavam cereais.

A vida de Martin é típica da experiência canadense nas regiões rurais e cidades pequenas. Jogou como pivô em um time de hóquei. Quando menino, usava a camisa de Bobby Clarke no Philadelphia Flyers, com o número 16. E tinha sete anos de idade quando pela primeira vez entrou na pista para lançar uma pedra de curling.

"Há um clube de curling em cada cidade do Canadá", diz Martin. "Todo mundo joga curling. Todo mundo joga hóquei. O Canadá é assim, e foi dessa maneira que todos nós crescemos".

A população de Killam era de cerca de 200 pessoas, e a classe de Martin na escola era formada por sete crianças, com um total de cinco meninos. Todos eles precisavam jogar em todos os esportes, porque faltavam alunos, e por isso ele aprendeu badminton, vôlei, futebol, beisebol, hóquei, curling e golfe.

Para Martin, a matemática é um talento natural, e ele sempre preferiu os esportes com algo de matemático - qualquer coisa que se relacione a ângulos, geometria, cálculo.

Começou a bilhar assim que chegou a uma altura suficiente para ver o topo da mesa. Ele jogava por horas, nas mesas do centro de terceira idade em sua cidade. Depois que os funcionários se cansaram de levantar para abrir a porta para ele fora do período, decidiram lhe dar uma chave.

O ídolo de Martin era Ed Lukowich, campeão de curling natural de Calgary, Alberta. Martin apreciava a trajetória calculada e a mecânica impecável de seu jogo. Lukowich integrava a matemática aos movimentos do curling.

Os adversários descrevem Martin exatamente da mesma maneira, como um artesão soberano, calmo, certeiro, preciso nos cálculos de ângulos, e dotado de uma visão perfeita. O astro canadense encara o seu esporte com sensibilidade de agricultor e humor de matemático.

Mas ele quase desistiu do curling para jogar hóquei, uma das decisões que ele considera como mais difíceis em sua vida. Por fim, terminou preferindo as pedras aos discos, porque desejava treinar sob o comando de Owchar, técnico que tinha 30 anos de experiência no Instituto de Tecnologia do Norte de Alberta e que Martin considerava como o melhor do país.

"Sempre senti a mesma coisa que um técnico que tenha podido treinar Wayne Gretzky em sua juventude", diz Owchar. "Era possível ver desde o começo que Kevin era um atleta especial".

Owchar cercou seu pupilo predileto com os melhores jogadores do país. Seis meses mais tarde, eles já haviam garantido um campeonato canadense na categoria júnior. O técnico admirava a capacidade atlética de Martin e seu desempenho excelente em outros esportes que requerem cálculo, como o badminton, boliche e golfe.

Martin se tornou profissional em 1987 e passou quatro anos sendo derrotado constantemente. Mas em 1991 venceu o campeonato nacional canadense e chegou à sua primeira Olimpíada de Inverno no ano seguinte.

Os jogadores canadenses que chegam aos Jogos já superaram concorrentes de elite para conquistar vaga. No cálculo de Martin, há pelo menos 20 jogadores no país capazes de vencer um medalha olímpica.

Com isso, ele chegou aos Jogos de Inverno quando o curling ainda era apenas uma modalidade em demonstração, em 1992; e repetiu a dose em 2002 e 2010; o curling passou a valer medalhas em 1998.

Martin ficou com uma medalha de prata em Salt Lake City e perdeu o ouro por uma distância de apenas um centímetro. A derrota continua a incomodar, passados oito anos. Ele mostra a distância ínfima separando dois dedos, para enfatizar a recordação. "Eu gostaria de galgar mais um degrau naquele pódio", disse ele.

Não importa o que aconteça, ele chegará à semifinal como favorito, e seu lugar na história do curling já está garantido. Seu histórico é quase que uma coroa real do curling: campeão do mundo, campeão canadense, campeão de Alberta. Só falta uma medalha de ouro olímpica para completar o quadro.

Com, o avanço do curling no mundo do esporte, a posição de Martin conquistou maior destaque. Na plateia de recentes competições, pessoas conhecidas como o astro do atletismo Carl Lewis e Vernon Davis, jogador de futebol americano do San Francisco 49ers, estiveram presentes. Martin também diz ter sido informado de que o primeiro-ministro canadense Stephen Harper assistiria às semifinais olímpicas. Até mesmo "Os Simpsons" mostrou Homer e Marge jogando curling.

"Não resta muita dúvida de que o curling esteja ganhando popularidade", disse Owchar. "E nem se discute que Martin provavelmente é o melhor jogador de todos os tempos". Ao final de cada torneio, Owchar e Martin trocam olhares, e Martin sempre se pergunta "quantas vitórias mais poderemos conquistar"?

Mais de duas décadas dedicadas ao esporte não deixaram de causar destaque. Martin já não treina por oito horas consecutivas. Seu corpo demora mais a se recuperar. E as viagens o cansam com mais facilidade, em um período no qual os torneios se espalharam por todo o mundo.

Martin, o rei do curling canadense, é três anos mais velho que o armador Brett Favre, do futebol americano e, como o sempre hesitante Favre, ele ocasionalmente entretém a possibilidade de se retirar do esporte. Martin é dono de três empresas, entre as quais uma açougue de carnes congeladas e a Kevin's Rocks and Racquets, uma loja de materiais esportivos em Edmonton.

"Tenho muita coisa rodando ao mesmo tempo, e por isso não quero ficar tempo demais na parada", diz Martin. "Mas continuo a amar o jogo. É uma espécie de dilema".

Martin prometeu ao seu atual time, aquele que conta com o talento e temperamento que sempre desejou, que persistirá por ao menos mais dois anos. Tampouco descartou a possibilidade de participar de um novo ciclo olímpico. Mas um dia pretende se aposentar e abandonar os óculos e chapéus que usa como disfarces.

Primeiro, no entanto, ele tentará de novo garantir o único título que lhe escapou. E os fãs canadenses, especialmente as avós, estarão acompanhando.

Entenda a prova de curling dos Jogos de Inverno

Espécie de "bocha no gelo", o curling foi modalidade olímpica em 1924 mas depois só voltou ao programa em 1998, com provas masculinas e femininas que são disputadas em uma pista regular de gelo por times formados por quatro jogadores.

O objetivo do esporte é deixar as bolas que pesam cerca de 19 kg o mais perto possível de um círculo localizado no centro da pista (quanto mais próximo, mais pontos). Cada partida tem 10 "finais". Durante elas, os jogadores fazem as pedras deslizarem pelo gelo esfregando a superfície para controlar suas direções.

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O Terra transmite ao vivo a competição em 15 canais simultâneos de vídeo. Além disso, os usuários têm a possibilidade de assistir novamente a todo o conteúdo a qualquer momento. Todo o acesso é gratuito.

Uma equipe de 60 profissionais está encarregada de fazer a cobertura direto de Vancouver e dos estúdios do Terra, em São Paulo, no Brasil, com as últimas notícias, fotos, curiosidades, resultados e bastidores da competição.

A equipe conta com a participação do repórter especialista em esportes radicais Formiga - com 20 anos de experiência em modalidades de neve -, e o pentacampeão mundial de skate Sandro Dias, que comenta a competição em seu blog no Terra.

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Tradução: Paulo Migliacci

Curling (M) - CHN 3 x 10 CAN:
The New York Times
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