Itajaí "adota" equipe só de mulheres da "F1 dos mares"
Um time formado por cinco nacionalidades diferentes tem chamado a atenção da cidade de Itajaí (SC) nos últimos dias. Nenhum brasileiro está no barco da equipe da SCA que disputa a Volvo Ocean Race, a maior e mais tradicional regata de volta ao mundo. O curioso é que um esquadrão 100% feminino decidiu desafiar a força física masculina no trajeto que atravessa os cinco oceanos, 39 mil milhas aquáticas e passa por 10 países.
Imagine 11 mulheres reunidas durante nove meses dentro de um barco com extensão de 20 m e que pesa em torno de 13 toneladas. Com condições extremas de tempo e temperatura que variam de -15 a 44°C, sem direito a banho, trabalhando no limite físico e mental, levando apenas o que é necessário de alimentação e roupas, além de poucas horas de sono diárias. Por essas e outras que esta equipe conquistou Itajaí, que recebe a "perna" brasileira da competição conhecida também como "Fórmula 1 dos mares".
"Isso mostra que as mulheres estão se posicionando em áreas antes dominadas pelos homens. Essa é mais uma conquista das mulheres, que estão igualando os homens em várias atividades e agora na vela também", comemorou Adriana Teodoro, profissional de comércio exterior. "Eu velejo e é sempre curioso ver mulheres na vela, ainda mais uma equipe só de mulheres e de volta ao mundo. É importante", disse a publicitária Thalita Posella.
Outro motivo que fez Itajaí "adotar" o time SCA, que é formado por Estados Unidos, Holanda, Suécia, Suíça e Inglaterra, são dois nomes de destaque: a velejadora "quase brasileira" Carolijn Brouwer e o técnico Joca Signorini. A presença dos dois na Vila da Regata transforma o público que observa os treinos e deve bater o recorde de participação em uma única edição: mais de 300 mil pessoas são esperadas até domingo.
"Torço muito pelo brasileiro (Andre Fonseca "Bochecha", da equipe MAPFRE), mas não tem como não ficar também do lado das meninas. Chama muito a atenção", disse o aposentado Eloy Engel, que estava ao lado da sobrinha, a professora Ana Maria Campos. "Tem que ter muita coragem pra fazer isso. Coragem e força. Ainda mais disputando com um monte de homens", afirmou.
A chegada do barco em Itajaí, após o trecho mais desgastante da competição, saindo de Auckland (Nova Zelândia), foi logo recompensada, mesmo que fosse numa manhã de terça-feira. "O brasileiro tem muito esse lado de torcedor, de abraçar o atleta da casa independente do esporte. E o carinho aqui é algo fora do comum", lembra Joca. "Em anos anteriores, eu não conseguia andar. Eram fotos, autógrafos, algo que ninguém espera. Itajaí tem uma atmosfera diferente".
Caroljin também se impressionou com a receptividade. Quem conversa com ela nos bastidores da competição, não imagina que nasceu na Holanda. Seu português impecável, com toques de "carioquês," entrega os anos vividos no Rio de Janeiro. "Para mim foi especial porque é mais ou menos como se eu tivesse chegando em casa. A recepção aqui foi a melhor que tivemos. O povo brasileiro é muito alegre e ficou muito contente de nos ver".
A "quase brasileira" contou que adiantou para o restante do grupo da SCA o que as esperava em solo brasileiro. "Eu preparei as meninas dizendo que seria uma coisa que nunca tinham visto antes, algo inesquecível. Foi uma recepção enorme, um povo que dá muito calor", disse Caroljin, adiantando que já programam férias para o Brasil e o que esperam para os momentos de folga: "muita praia e muita caipirinha".
Sobre a Volvo Ocean Race
A principal competição de vela do planeta teve largada em Alicante, Espanha, em outubro do ano passado. Desde então, passou por Cape Town (África do Sul), Abu Dhabi (Emirados Árabes), Sanya (China) e Auckland (Nova Zelândia). Os sete veleiros partirão de Itajaí no próximo domingo com destino a Newport (EUA) e em seguida passarão por Lisboa (Portugal), Lorient (França) e finalizam em Gotemburgo, na Suécia, no final de junho.
* O repórter viajou a convite da SCA.
