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Atletismo

Relatório McLaren denuncia "conspiração institucional" do doping na Rússia

9 dez 2016 - 17h47
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A segunda parte do Relatório McLaren, divulgada nesta sexta-feira em Londres, denunciou a "conspiração institucional" do doping na Rússia e revelou que mais de mil atletas olímpicos do país, com o consentimento das autoridades, se envolveram com ou foram beneficiados por manipulações para ocultar seus testes positivos entre 2011 e 2015.

Em um luxuoso hotel do centro da capital britânica, e diante de mais de 100 jornalistas, o canadense Richard McLaren, professor de Direito da Western University de Ontario, no Canadá, acompanhado do investigador Martin Dubbey e da advogada Diana Tesic, apresentou a segunda parte de seu relatório, solicitado pela Agência Mundial Antidoping (Wada).

Cinco meses após a revelação da primeira parte, na qual McLaren concluiu que os laboratórios de Sochi e Moscou, supervisionados pelo Ministério de Esportes da Rússia, encobriram o uso de substâncias proibidas e manipularam os resultados das análises dos atletas russos durante os Jogos de Inverno de Sochi, em 2014, o responsável pelo relatório mostrou que o Estado russo também usou este sistema durante os Jogos Olímpicos de Londres, em 2012, e o Mundial de Atletismo de 2013.

Nesta segunda divulgação, McLaren afirma que mais de 500 testes positivos se passaram por negativos, em um "encobrimento que evoluiu até níveis sem precedentes" e cuja extensão "provavelmente não poderá ser nunca plenamente estabelecida".

"Podemos confirmar o que anunciamos no primeiro relatório: existiu um encobrimento que começou em 2011 e que se manteve até depois dos Jogos Olímpicos de Inverno de Sochi", explicou o canadense.

"Esta conspiração institucional existiu entre atletas, com o consentimento de oficiais russos do Ministério de Esporte e o apoio da Agência Antidoping Russa (Rusada), do CSP (Centro de Treinamento dos Times Nacionais russos) e do laboratório de Moscou para manipular controles de doping. Estes atletas não agiram sozinhos, mas dentro de uma infraestrutura", explicou.

Mais de mil atletas russos pertencentes a 30 federações esportivas se beneficiaram de manipulações para esconder testes positivos de doping durante quatro anos. Essa foi a conclusão principal do professor McLaren em seu relatório, realizado em cinco meses após analisar mais de quatro mil documentos, revisar e-mails e realizar dezenas de entrevistas.

Na entrevista coletiva de divulgação do estudo, que contou com a presença de vários veículos da imprensa russa, que se queixaram publicamente durante a parte de perguntas sobre por que não recebiam a palavra, McLaren confirmou e ampliou as descobertas da primeira parte do relatório a respeito de todo o sistema de manipulação dos frascos de urina usado nos laboratórios de Moscou e Sochi durante os Jogos de Inverno de 2014.

Através deste método, conhecido como "Salvo ou Quarentena", e que foi utilizado para transformar as amostras positivas em negativas, os dirigentes identificavam, com a ajuda da Rusada, os proprietários dos exemplares e os catalogavam como "salvo" ou "em quarentena".

Se a amostra fosse dos "salvos", era escondida e registrada como negativa no sistema pelo qual a Wada e as federações informam os controles. Por outro lado, se fosse dos "em quarentena", o procedimento era seguido.

"A prática de mudtrocar frascos com urina de atletas dopados por urina 'limpa' não parou depois dos Jogos de Sochi, se tornou uma tarefa mensal no laboratório de Moscou. As análises de DNA e de sal confirmam isso", detalhou McLaren.

Grigory Rodchenkov, antigo diretor do laboratório de Moscou, foi o encarregado de mudar e trocar os frascos, acrescentando sal ou café solúvel para tentar igualar a consistência e a densidade das amostras originais.

"Ele (Rodchenkov) alterou as amostras 'A' as diluindo em água, acrescentando sal e café solúvel quando era preciso igualar a gravidade e o aspecto das amostras 'B", explicou.

Segundo o relatório, nos frascos de urina de dois atletas que conquistaram quatro ouros em Sochi e de uma medalhista de prata foram encontrados níveis de sal "fisiologicamente impossíveis para o ser humano". Também há indícios de que as amostras de outros 12 medalhistas nos Jogos de Inverno foram modificadas.

Além disso, duas jogadoras da equipe russa de hóquei sobre gelo apresentaram amostras de urina nas quais haviam traços de DNA masculino.

De acordo com o professor, "o desejo de conquistar medalhas substituiu a moral coletiva, o limite ético e os valores olímpicos do fair play".

"É impossível saber até quanto tempo atrás remonta esta conspiração e quanta gente está envolvida. Durante anos, as competições internacionais foram manipuladas pelos russos. Treinadores e atletas competiram em condições desiguais. Os amantes do esporte têm o direito de se sentir decepcionados e já está na hora disso acabar", argumentou.

No entanto, após revelar o "segredo obscuro" da equipe olímpica russa, McLaren reiterou que "é possível confiar na Rússia", embora seja necessária uma reforma considerável.

"Se é possível confiar? Acredito que a resposta seja 'sim'. Mas é preciso fazer uma grande reforma. Estive falando com oficiais russos nos últimos meses e sei que eles têm em mente um programa que poderia ser muito importante. Confio que a Wada e outras associações vão se assegurar de que tudo funcione bem", concluiu.

O Ministério de Esportes da Rússia negou nesta sexta-feira a existência de um sistema de doping de Estado no país, mas imediatamente prometeu que averiguará as denúncias incluídas na segunda parte do relatório McLaren.

"O Ministério de Esportes afirma com toda responsabilidade que não existe um programa estatal de promoção do doping no esporte e continuará a luta contra o doping com postura de tolerância zero. Os órgãos competentes estão analisando todas as circunstâncias incluídas na primeira parte do relatório e o Ministério recomendará que os órgãos façam uma profunda investigação sobre a segunda parte", afirmou um comunicado oficial.

EFE   
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