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Vitória argentina evidencia que Sampaoli se tornou figura decorativa

A classificação para as oitavas de final não encerrou a longa crise entre os jogadores e a comissão técnica

28 jun 2018 - 05h06
(atualizado às 05h06)
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O gol da classificação da Argentina retratou descompasso da seleção na Rússia. Enquanto o técnico Jorge Sampaoli corre para o centro do gramado pulando sozinho, todo o restante do elenco vai abraçar o zagueiro Marcos Rojo, autor do gol da vitória sobre a Nigéria, no canto do gramado. Treinador e jogadores foram em direções opostas. Sintomático. Sampaoli não foi em direção aos jogadores. Ficou sozinho. No final do jogo dramático, nova separação. Sampaoli cumprimentou os membros da comissão técnica e foi rapidamente para o vestiário. Os jogadores ficaram sete minutos no gramado aproveitando o momento mágico. Sampaoli estava feliz, mas só.

A apaixonada torcida argentina já escolheu seu lado nessa história. Todos os jogadores foram aplaudidos no momento em que seus rostos surgiram no telão da Arena Zenit, em São Petersburgo. Só vieram as vaias diante da figura do treinador. O treinador está com a popularidade baixa também entre os fanáticos torcedores.

As cenas mostram que a classificação para as oitavas de final não encerrou a longa crise entre os jogadores e a comissão técnica. A tensão já dura uma semana. Tudo começou quando os jogadores pediram que o treinador simplificasse o esquema e escolhesse uma base titular. Era um motim que quase derrubou o treinador. O problema é que, para mandar Sampaoli embora, a federação teria de pagar a multa rescisória de US$ 16 milhões (R$ 61 milhões) ao treinador. Inviável. Sampaoli cedeu seu poder a Messi para salvar a Argentina na Copa. Tudo isso aconteceu após a derrota doída para a Croácia.

Messi, acompanhado por Mascherano, assumiu o comando informalmente. Isso ficou claro quando as câmeras de tevê argentina flagraram o instante em que Sampaoli consultou Messi sobre a entrada de Agüero. O jogo estava empatado por 1 a 1, Argentina fora da Copa. Sampaoli perguntou: "Coloco o Agüero?". Messi concordou com a cabeça e, em minutos, o treinador colocou mais um atacante.

Só como comparação: é difícil imaginar Tite consultando Neymar sobre a entrada de Firmino na seleção porque o jogo está difícil. Por outro lado, a situação não parece tão absurda na seleção portuguesa: dá para imaginar uma consulta de Fernando Santos a Cristiano Ronaldo sobre substituições.

Embora jogadores, comissão técnica e assessores de imprensa se esforcem ao máximo para mostrar uma imagem sempre positiva e de união, outros sinais indicam o contrário na campanha argentina. Nos momentos de crise, existe certo alinhamento entre o que diz o treinador e o que falam seus comandados. Todo mundo repete a mesma ladainha para não ter ruído de comunicação nas entrevistas. Na Argentina, quem define a linha de discurso é Messi e não mais o treinador. Os jogadores discordam abertamente de seus comentários. A grosso modo, Sampaoli ocupa uma figura decorativa.

NO BRASIL

Não é a primeira vez que Messi divide o comando técnico do time com o treinador. Essa situação já aconteceu em 2014, ainda na fase de grupos. Mas não foi tão acintoso. A escalação no segundo tempo da vitória contra a Bósnia, no Maracanã, ficou conhecida como o "time de Messi" pelo fato de o craque do Barcelona ter cobrado publicamente sua utilização.

Vários jogadores também se manifestaram favoráveis ao esquema mais ofensivo com o quarteto Messi, Higuaín, Agüero e Di María. No primeiro tempo da estreia, o treinador Alejandro Sabella havia optado por uma formação mais cautelosa, abrindo mão de um avante para escalar um zagueiro. Messi ficou tiririca. O time do craque foi até a final e ficou com o vice-campeonato. Sabella nunca comentou o fato.

PREPARAÇÃO

Nesta quarta-feira, 27, a seleção argentina retomou os trabalhos em Bronnitsy, cidade nos arredores de Moscou. Como a equipe viajou na noite terça-feira de São Petersburgo, depois de ganhar da Nigéria por 2 a 1, o treino foi leve, com os reservas no campo auxiliar e os titulares fazendo trabalho regenerativo.

Estadão
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