Caion não é titular absoluto do Mirassol. Não fosse uma contusão do volante Glauber, talvez ele nem entraria em campo nesta quarta-feira, contra o Palmeiras. Mas o técnico Ivan Baitello resolveu ser ousado, trocou um meio-campista defensivo por um atacante e acertou em cheio: Caion marcou dois gols aos 9min e aos 11min do primeiro tempo e foi fundamental na vitória histórica por 6 a 2 contra o alviverde paulista. Em entrevista exclusiva ao Terra nesta quinta, ainda empolgado pela atuação histórica, o jovem de 22 anos revelou que é flamenguista, mas também se candidatou a resolver os problemas do ataque palmeirense.
Palmeiras é humilhado pelo Mirassol; veja os gols do jogo:
Questionado se teria o sonho de atuar em algum clube específico do Brasil, Caion nem hesitou: "minha família inteira é flamenguista, eu sou flamenguista, então seria o Flamengo, com certeza", afirmou ele, que rapidamente fez uma ressalva: "eu estava vendo que o Palmeiras precisa de um centroavante agora, então poderia jogar lá. O importante é ir para um time grande e subir um novo patamar", sonhou.
O Mirassol faz campanha ruim no Campeonato Paulista. Antes do jogo, era o primeiro time fora da zona de rebaixamento. Agora soma 15 pontos em 15 jogos e ainda precisa batalhar nas últimas quatro rodadas para escapar da Série A2. Porém, de acordo com Caion, nada disso passou pela cabeça dos jogadores antes de enfrentar o Palmeiras: "acho que não tinha motivação maior do que enfrentar o Palmeiras. Era a chance de mostrar que a gente não estava no lugar onde deveria estar".
Mas toda essa motivação ainda contou com o "empurrão" especial: as mulheres e namoradas dos jogadores do Mirassol prepararam um vídeo com mensagens de apoio e incentivo, para que fosse apresentado a todos no vestiário. Isso emocionou o time e foi fundamental na goleada: "a minha esposa é quem está sempre do meu lado, e esse vídeo ajudou bastante. Tudo que a gente fez foi pelas nossas mulheres, porque já entramos querendo fazer o jogo da vida, querendo atropelar. E foi o que aconteceu", comemorou Caion, entre risadas.
Apesar do Mirassol ter feito três gols em onze minutos, o Palmeiras reagiu, marcou dois gols e fez o time do interior temer uma virada: "eles podiam ter virado sim, mas o goleiro Gustavo acalmou a gente, falou para colocar a bola no chão e foi o que fizemos. Depois saiu o gol de falta e isso foi muito importante", destacou Caion.
Depois do apito final e com o placar de 6 a 2 confirmado, os jogadores ficaram mais incrédulos do que empolgados. "Ninguém acreditava, foi uma felicidade muito grande. Mas não teve nada de anormal na festa. Cada um foi para sua casa para descansar, porque agora temos que continuar trabalhando. Deixa para comemorar depois, se tivermos coisas melhores", amenizou o algoz do Palmeiras, mostrando que ainda está preocupado com o possível rebaixamento - o Mirassol abriu quatro pontos para o primeiro time que está na degola, o Ituano.
Depois que acabar o Campeonato Paulista, além de livrar o Mirassol da queda, Caion terá condições de sonhar com um "novo patamar" na carreira. Após jogar em times mais modestos, como Icasa, Ferroviário, Caxias e Bragantino, ele deve enfrentar uma pressão maior. Mas promete não se importar com isso: "eu acho até melhor jogar com pressão. Jogador que não quer pressão está na profissão errada", concluiu, mostrando a mesma habilidade que furou a defesa palmeirense nesta quarta.
Paulista 2012: o time alviverde protagonizou fiasco histórico no Estadual ao levar uma goleada de 6 a 2 do Mirassol, com todos os gols marcados ainda no primeiro tempo. Em situação complicada na Libertadores, o técnico Gilson Kleina viu a pressão por sua saída, pedida por parte da torcida, aumentar. Relembre outros vexames da história recente do Palmeiras:
Foto: Célio Messias / Gazeta Press
Brasileiro 2012: pela segunda vez em dez anos, o Palmeiras foi rebaixado à Série B do Campeonato Brasileiro. A péssima campanha veio justamente depois do time conquistar a Copa do Brasil com Felipão, que deixou o comando para Gilson Kleina a 13 jogos do fim da competição. A equipe esboçou reação, mas a queda foi consumada após um empate por 1 a 1 com o Flamengo, na 36ª rodada
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Copa do Brasil 2011: na segunda maior goleada sofrida em sua história, o Palmeiras de Luiz Felipe Scolari tomou 6 a 0 do Coritiba no jogo de ida das quartas de final, no Couto Pereira. O time ainda conseguiu tirar uma longa invencibilidade dos paranaenses na partida de volta ao ganhar por 2 a 0, mas o triunfo foi inútil diante do vexame de Curitiba
Foto: Agência Lance
Copa Sul-Americana 2010: nas semifinais, o time de Luiz Felipe Scolari precisava apenas eliminar o Goiás, recém-rebaixado no Campeonato Brasileiro. Apesar de ter vencido fora de casa por 1 a 0 (gol de Marcos Assunção) e de entrar com força máxima na partida de volta, no Pacaembu, perdeu de virada por 2 a 1 e deixou escapar uma vaga praticamente certa.
Foto: Ricardo Matsukawa / Terra
Copa do Brasil 2010: o Palmeiras buscava uma vaga nas semifinais da competição, em duelo contra o Atlético-GO. Depois de uma vitória por 1 a 0 em São Paulo, o time perdeu por 1 a 0 em Goiânia com um homem a menos (Pierre havia sido expulso) e levou a decisão para os pênaltis. Nas cobranças, de nada adiantou a noite inspirada de Marcos: Danilo, Figueroa (para fora), Ivo e Cleiton Xavier desperdiçaram as cobranças e o time foi eliminado.
Foto: Djalma Vassão / Gazeta Press
Brasileiro 2007: o Palmeiras do técnico Caio Júnior dependia apenas de si para garantir uma vaga na Libertadores do ano seguinte. Para isso, precisava vencer em casa o Atlético-MG, que apenas cumpria tabela na última rodada do Campeonato Brasileiro. Os mineiros, porém, surpreenderam e venceram por 3 a 1, tirando os palmeirenses do torneio sul-americano e classificando o Cruzeiro.
Foto: Fernando Pilatos / Gazeta Press
Copa do Brasil 2007: o Ipatinga venceu o primeiro confronto entre os dois times na segunda rodada por 2 a 0 no Vale do Aço, mas perdeu em São Paulo pelo mesmo placar, com gols ainda no primeiro tempo. Sem balançar as redes na etapa final, o Palmeiras precisava apenas vencer nos pênaltis, mas um chute de Edmundo para fora na cobrança decisiva manteve vivo o time mineiro. Nas alternadas, Amaral bateu na trave e Luciano Sorriso carimbou a eliminação.
Foto: Djalma Vassão / Gazeta Press
Copa do Brasil 2004: nas quartas de final, o time empatou o primeiro jogo diante do Santo André por 3 a 3 no ABC Paulista. Assim, precisava apenas vencer em São Paulo para conseguir a vaga, que viria também com empates por 0 a 0, 1 a 1 e 2 a 2. Os andreenses só avançariam se vencessem ou em caso de um pouco provável empate por 4 a 4 - que foi exatamente o que aconteceu.
Foto: Marcelo Ferrelli / Gazeta Press
Campeonato Paulista 2004: em boa fase no Estadual, o time de Jair Picerni precisava apenas vencer o Paulista de Jundiaí nas semifinais para garantir a vaga na decisão contra São Caetano ou Santos. Apesar de terem empatado por 3 a 3 e evitado a eliminação com um gol nos acréscimos, disputada em Araras, os palmeirenses fracassaram nos pênaltis e foram eliminados pelo time de Jundiaí.
Foto: Djalma Vassão / Gazeta Press
Copa do Brasil 2003: o ano de reconstrução do Palmeiras começou de maneira positiva, com a classificação nas primeiras fases da Copa do Brasil sobre Operário-MT e Criciúma. Nas oitavas de final, porém, uma derrota por 7 a 2 para o Vitória no Parque Antártica praticamente eliminou o time - que conquistou uma vitória inútil por 3 a 1 na partida de volta, em Salvador.
Foto: Djalma Vassão / Gazeta Press
Campeonato Brasileiro 2002: uma combinação de resultados na última rodada poderia salvar o Palmeiras do rebaixamento à Série B. O Paraná ainda fez sua parte, empatando com o Figueirense (2 a 2), mas o time de Levir Culpi não fez o mesmo e perdeu para o Vitória em Salvador por 4 a 3, selando a queda. O Inter, igualmente candidato à queda, venceu o Paysandu fora de casa por 2 a 0.
Foto: Gazeta Press
Copa do Brasil 2002: o Palmeiras (na foto, em jogo no Rio-São Paulo) estreava na Copa do Brasil diante do modesto ASA, que vencera a primeira partida do confronto por 1 a 0 em Alagoas. Na volta, precisando vencer por dois ou mais gols de diferença, o time fez apenas 2 a 1 e foi eliminado em casa. O ASA caiu na fase seguinte, goleado pelo Confiança-SE por 4 a 0. Era um prenúncio do péssimo ano alviverde, para alegria dos rivais.
Foto: Gazeta Press
Copa Mercosul 2000: um dos maiores vexames da história do Palmeiras. O time vencia a final da Copa Mercosul contra o Vasco em casa por 3 a 0, com gols de Arce, Magrão e Tuta no primeiro tempo; porém, em uma virada poucas vezes vista, o time carioca marcou quatro vezes na etapa final, com três de Romário e um de Juninho Paulista, e ficou com o título em pleno Parque Antárctica.