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Após acusações, Gutemberg pede desculpas e faz as pazes com Corrêa

20 set 2012 - 10h05
(atualizado às 10h52)
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Era difícil acreditar que, do outro lado da linha do telefone, estava o mesmo homem que fez graves denúncias contra a Comissão Nacional de Arbitragem (Conaf) no início do ano. Poucos meses após divulgar a existência de uma "sujeirada" na entidade, o ex-árbitro carioca Gutemberg de Paula Fonseca usou um tom de voz extremamente calmo para dizer que "tudo aquilo ficou no passado". Inclusive a sua rusga com Sérgio Corrêa, a quem havia desferido insultos como "mentiroso, mariquinha e corrupto" em entrevista à Rádio Jovem Pan.

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Presidente da Conaf na época das acusações e agora chefe do recém-criado Departamento de Arbitragem da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Corrêa se encontrou com Gutemberg na semana passada, em uma audiência judicial. Foi o último episódio do processo que o dirigente movia contra o ex-árbitro. "O Gutemberg me pediu desculpas na frente da juíza por tudo aquilo que havia falado de mim na mídia. Eu aceitei. Não estou a fim de ganhar o dinheiro de ninguém. Não preciso disso. Da minha parte, é um assunto resolvido", garantiu.

A outra parte também não quer mais controvérsia. Apesar de ter preferido não se alongar em suas respostas quando ouviu o nome de Sérgio Corrêa, Gutemberg avisou: "O caso foi definido. Ficou tudo como deveria". Para falar sobre a briga judicial, mais duas frases do ex-árbitro: "Foram vários processos. De tudo isso, prevaleceu a integridade dos homens". E, por fim, outras duas para negar que o pedido de desculpas (além da obrigatoriedade de doar uma cesta básica ao Instituto Nacional do Câncer) tenha transformado um desafeto em um amigo próximo: "Nunca mais nos falamos, até porque ele fica em São Paulo, e não no Rio. Quando conversávamos, era em encontros de arbitragens".

Em janeiro, Gutemberg propagou uma polêmica conversa que teria mantido com Corrêa. Seu superior, nas palavras do ex-árbitro, havia dito antes da vitória por 5 a 1 do Corinthians sobre o Goiás, pelo Campeonato Brasileiro de 2010: "Boa sorte. Vai apitar o jogo do Timão, hein?". O ex-árbitro encarou a suposta declaração como uma prova de que a Conaf desejava o favorecimento da equipe paulistana naquela partida.

Para os atingidos por Gutemberg, ele só havia desabafado com tanta veemência por ter perdido o status de árbitro internacional no momento da promoção do também carioca Pericles Bassols. Sérgio Corrêa ainda pensa assim. "Ele estava sob forte emoção quando saiu do quadro da Fifa", relevou o ex-presidente da Conaf, relatando que o rebaixamento de categoria costumava ser angustiante para os profissionais.

"Até o episódio Edílson Pereira de Carvalho, era muito raro um árbitro deixar de pertencer à Fifa. Na minha gestão, eu disse que discordava disso. É preciso ter regularidade para se manter. Passamos a promover árbitros mais novos e a tirar aqueles que deveriam sair", disse.

Corrêa deixou o comando da Conaf há menos de um mês. A última grande discussão sobre arbitragem que ocorreu durante a sua passagem pela presidência foram os três impedimentos consecutivos ignorados pelo assistente Emerson Augusto e Carvalho no lance do segundo gol da vitória do Santos sobre o Corinthians, por 3 a 2, em jogo válido pela 18ª rodada do Campeonato Brasileiro. Hoje com um cargo burocrático na CBF, ele alega que as dores provocadas pelo vírus da herpes-zóster motivaram a mudança de posto.

Os erros de Emerson Augusto de Carvalho contra o Corinthians (o mesmo clube que Gutemberg dizia ter sido incitado a ajudar contra o Goiás) foram exaustivamente comentados e reprisados nas últimas semanas. "Mas, cara, juro para você que não vi esse lance", garantiu o carioca, argumentando que surpreende muita gente com o seu distanciamento do futebol.

"Confesso que me afastei mesmo. Venho mantendo a minha condição física por questão de saúde, mas evito ver os jogos. Não quero sentir saudades da arbitragem. Alguns amigos me ligaram em 11 de setembro, Dia do Árbitro, para me elogiar e parabenizar. Mas é só isso. Nas ruas, os torcedores me reconhecem e pedem para comentar algumas coisas. Eu digo que não vi, poxa. Eles acham que estou mentindo porque não quero dar opinião", sorriu.

Gutemberg não se furta a opinar sobre a troca de comando na arbitragem nacional, com o seu conterrâneo Aristeu Leonardo Tavares no lugar de Sérgio Corrêa. "Isso me surpreendeu por ter acontecido no meio do campeonato, mas não pela capacidade dos homens. Temos a expectativa de que o nível da arbitragem melhore, mas não vamos deixar de dar atenção ao legado que ficou na comissão. Por mais que os críticos digam que as coisas não vinham bem, alguma coisa de bom está aí. É só dar continuidade", afirmou, agora na contraditória condição de defensor do trabalho exercido por Corrêa.

Quando atacou o ex-presidente da Conaf, no entanto, Gutemberg alardeava que possuía um dossiê de 1.100 páginas sobre a "sujeirada" na arbitragem nacional. "Ah, deixa isso para lá. Vou colocar os papéis no meu baú, trancados, com outras lembranças da carreira. Tive algumas tristezas, alegrias, ganhei medalhas... Fica tudo guardado para eu mostrar para os meus netos futuro", desconversou, negando qualquer arrependimento pelas acusações de meses atrás.

"Só me arrependo daquilo que não faço. Pauto as minhas coisas em cima daquilo que busco para a minha vida. Sempre fui atrás do melhor. Quero que meus filhos saibam que têm um pai correto com as suas obrigações. Gestor público de formação, Gutemberg de Paula Fonseca atualmente trabalha como assessor parlamentar do vereador carioca Fernando Moraes, além de dirigir uma agência de publicidade. Nas horas vagas, apita jogos de várzea no bairro de Jacarepaguá, onde iniciou a trajetória como árbitro.

"É bem gostoso voltar ao local onde nasci e fui criado. Trabalhei pela primeira vez em uma partida profissional em 2004. De lá para cá, nossa liga amadora continuou igual, com estádio cheio. Sou eu quem administra o campeonato. As cobranças são as mesmas de antes, talvez até maiores do que em uma Série A. E ainda arrecadamos toneladas de alimentos para doações", divulgou, com satisfação.

Sérgio Corrêa avisou que também faria benemerência se recebesse dinheiro na ação contra Gutemberg de Paula Fonseca. Mas o pedido judicial de desculpas já foi suficiente para satisfazê-lo. Ele não faz questão nem de uma retratação pública. "Se aquilo tudo me causou danos, não há mais problema. Isso não está me incomodando. Um pedido de desculpas na mídia não vai resolver nada para mim nem para o Gutemberg. A partir de agora, cada um toca a sua vida", finalizou.

O árbitro fez graves denúncias contra a Comissão Nacional de Arbitragem (Conaf) no início do ano
O árbitro fez graves denúncias contra a Comissão Nacional de Arbitragem (Conaf) no início do ano
Foto: Getty Images
Gazeta Esportiva Gazeta Esportiva
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