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Copa América

Chile peca como anfitrião da Copa América; sul é exceção

Atendimento deixa a desejar, e poluição chegou a índices para lá de críticos. Simpatia do povo do sul salva quesito hospitalidade

4 jul 2015 - 12h36
(atualizado às 12h42)
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Quando argentinos e chilenos entrarem em campo logo mais, às 17h, no Estádio Nacional, em Santiago, chegará ao fim a Copa América 2015. E a sensação é de que se o clima foi de Copa do Mundo na capital e demais sete sedes do torneio continental, você, que aí do Brasil tanto usou o chavão “imagina na Copa” para ironizar possíveis atrasos no Mundial da Fifa, ano passado, deveria era ficar orgulhoso do Brasil. Pois o Chile, nem de longe, foi um bom anfitrião.

Não estamos falando aqui de aeroportos e nem comparando os dois torneios – e sim, fazendo uma análise geral de como foi a receptividade, o calor humano para com os estrangeiros que se não invadiram o país, tiveram sérios problemas diante de um serviço incapaz de suprir a demanda de turistas. Santiago, a capital, que recebeu oito dos 26 jogos da competição, simplesmente é uma cidade que não conseguiu receber o turista da Copa América com conforto.

Vista do treino da seleção brasileira em Santiago: recomendação para que não se fizesse atividades ao ar livre, pero...
Vista do treino da seleção brasileira em Santiago: recomendação para que não se fizesse atividades ao ar livre, pero...
Foto: André Naddeo / Terra

A começar pelo serviço: muito ruim. Você, brasileiro apreciador do bom serviço em restaurantes, bares, supermercados, cuidado. Pois aqui alguns garçons te atendem mal, a comida demora para chegar em grande parte dos restaurantes e é preciso ter muita paciência com quem parece que está te prestando um favor. Numa cidade em que as pessoas na rua te olham com ar imperial, é nítido o despreparo de quem não está acostumado com rostos do lado do Atlântico, por exemplo.

Um grupo de jornalistas brasileiros, aliás, se viu envolvido numa senhora confusão justamente pelo péssimo atendimento num bar do pátio Bellavista – simplesmente um reduto de bares dos mais conhecidos, presentes em todos os guias de turismo que abordam cidade. Teve conta rasgada na cara do gerente, cerveja derramada em repórter, dentre outras falhas claras de atendimento.

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Falando em comida: a variedade de frutos do mar é enorme e, para quem pode gastar um pouco a mais, o Chile é uma benção com seus mariscos e pescados em geral. Mas não é tão simples assim: em geral, a fartura está mais no sul do país. Santiago não é uma cidade litorânea, parte das pessoas come mal, abusando do fast food e tem a péssima mania de botar a mão na comida sem usar qualquer tipo de proteção. Quem passou pelos estádios e padarias sabe do que estamos falando.

A abundância de sanduíches e ‘papas fritas’ (batatas fritas) coloca os chilenos em 11o lugar no ranking mundial da Organização Mundial de Saúde (OMS) de obesidade – é o quarto país da América Latina com o maior número de pessoas obesas (29,1%). México é líder em população obesa, com 32,8%. Em segundo lugar está a Venezuela (30,8%) e em terceiro aparece a Argentina (29,4%).

Vista da cidade de Temuco: hospitalidade faltou em alguns momentos no lugar que recebeu o maior evento da sua história com a vinda da Seleção Brasileira
Vista da cidade de Temuco: hospitalidade faltou em alguns momentos no lugar que recebeu o maior evento da sua história com a vinda da Seleção Brasileira
Foto: André Naddeo / Terra

Sobre os preços? Bom, que os valores subiram durante a Copa América, em rápida conversa com qualquer cidadão chileno, isso é fato e, nem de longe, é novidade para quem viu a inflação que ocorreu na Copa do Mundo do Brasil. Mas o fato é que o Chile é um país caro.

Um bom exemplo: em média, os dois sucos naturais mais vendidos, de framboesa e chirimóia (uma espécie de graviola, mas não tão denso) saem em média por 2.500 pesos chilenos. Em qualquer lugar. Isso dá em média uns R$ 13. Cerveja então: em qualquer bar as nacionais saem em média pelo mesmo preço. Importadas, por volta de 3 mil pesos (R$ 15). Ah, por uma long neck! Na balada, então, pode coçar o bolso e sacar “vintão”.

O pisco, a chacaça dos caras, em geral é servida no que eles chamam de “piscola”, com algum refrigerante. Em média, por 4 mil pesos (R$ 20). Até um reles café, que na verdade é um “chafé”, já que é fraco como o americano, não sai por menos de mil pesos (R$ 5).

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O metrô é bom, pero...

O metrô de Santiago possui cinco linhas e atende muito bem mesmo a quem quer se deslocar com transporte público na capital chilena. Entre Viña del Mar e Valparaíso, também existe o transporte subterrâneo bem a contento. O cartão “bip” também agiliza o entra e sai das catracas – se você tiver créditos nele, obviamente. No entanto, a questão da poluição e do próprio torneio em si deixou o sistema do metrô bastante sobrecarregado.

Às explicações: com Santiago vivendo a rotina de pré-emergência ambiental – e uma situação de emergência, que não ocorria havia 16 anos – se restringiu, em média, em 20% a circulação de veículos. E claro que o metrô ficou sobrecarregado. Nos dias de jogos do Chile, com aquela ânsia de deixar logo o trabalho, os congestionamentos poluíam ainda mais a cidade, e os vagões eram verdadeiras latas de sardinha, mesmo nos finais de semana.

Cachorros vivem soltos em Santiago: capital chilena é a capital dos cães sem dono pelo mundo. Mas, em geral, eles são simpáticos
Cachorros vivem soltos em Santiago: capital chilena é a capital dos cães sem dono pelo mundo. Mas, em geral, eles são simpáticos
Foto: André Naddeo / Terra

Isso sem falar na questão de que esta foi a Copa América mais poluída da história – o governo local recomendava que a população não saísse para atividades físicas ao ar livre, enquanto que os atletas treinavam diariamente e os jogos aconteciam naturalmente. Tudo... ao ar livre. Por fim, os ônibus funcionam em esquema de corredores, mas são antigos e você ainda correu o risco de ficar preso em algum protesto no meio do caminho. Isso sem falar nos táxis que, a exemplo do Brasil, abusaram das corridas com preço fechado, sem taxímetro.

A exceção do sul

Se a falta de jeito com o turista estrangeiros não fez com que as cidades mais famosas do Chile atendessem a contento nessa Copa América, o mesmo não se pode dizer das cidades do sul do país, especialmente Temuco e Concepción. Mesmo sem jeito e sem tanta estrutura, é verdade, o sorriso no rosto dos locais e boa vontade em querer ajudar foram determinantes para não manchar 100% o quesito anfitrião dos chilenos no torneio continental.

Experiência única da equipe do Terra no litoral sul do Chile: nunca ninguém ali tinha visto um leão marinho solto, na natureza. Quanto mais vários
Experiência única da equipe do Terra no litoral sul do Chile: nunca ninguém ali tinha visto um leão marinho solto, na natureza. Quanto mais vários
Foto: André Naddeo / Terra

Em Temuco, a reportagem do Terra, quando passava perto do hotel da Seleção Brasileira, antes da estreia contra o Peru, foi por duas vezes abordado por pessoas indagando se precisavam de alguma e dizendo o quão orgulhosos estavam de receber o Brasil por aquelas bandas. Um taxista que nos levou até o mirante oficial da cidade, para uma registro em foto, confirmou que “aquele jogo era a maior coisa que ocorreria na cidade em toda a sua história”. A cereja no bolo foi a transmissão ao vivo no dia da partida: com a chuva, um morador local se ofereceu para segurar um guarda-chuva, enquanto tentávamos proteger os equipamentos. Ele ficou ali por uns 10 minutos. Sem arredar o pé.

Em Concepción, palco da eliminação brasileira diante do Paraguai, bastaram cerca de duas horas por lá e no meio da transmissão ao vivo, um rapaz chegou para explicar a campanha que voluntários da cidade estavam fazendo contra a cobrança de preços abusivos e que não se mudasse nada em termos de serviço em função da Copa América. Logo depois, uma simpática funcionária do turismo local, chegou perguntando se precisávamos de qualquer tipo de ajuda.

No caso, sim, já que tínhamos que nos deslocar para Talcahuano, local que foi muito destruído pelo terremoto e tsunami de 2010. Não só ela deu informações de como chegar ao local, como deu o telefone do assessor direto do prefeito. Fizemos uma entrevista exclusiva com ele. Não bastasse, de novo, após uma transmissão ao vivo, uma funcionária do setor de turismo da região de Bio-Bio, cuja capital é Concepción, se aproximou para fazer um convite

Toda a equipe do Terra conheceu a cidade de Dichato, massacrada pelo mesmo terremoto e tsunami (80% da cidade veio ao chão ou foi levada pelas ondas gigantes), justo no dia da procissão de São Pedro, data oficial dos festejos de junho. No lindo litoral, embarcações todas com bandeira do Chile. Em Tomé, outro município próximo, as praias são visitadas por simpáticos leões marinhos.

O Sul chileno é um lugar mágico que deixa a impressão de que, se na capital e outras cidades mais badaladas do Chile a atenção para com o turista não está a contento, o segredo é desbravar as terras chilenas. Ir atrás do atípico. Eles estão te esperando. De braços abertos, e cheios de informações. Ainda mais depois desta primeira e rica experiência da Copa América 2015.

Fonte: Terra
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