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Copa América

Final será duelo de técnicos ofensivos e "herdeiros do Loco"

4 jul 2015 - 09h03
(atualizado às 09h41)
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Durante os treinos, ele é obsessivo, participativo até demais e gosta de treinar cada jogada até que saia da maneira que ele quer. Fora de campo, durante as entrevistas, gosta de fazer análises táticas incomuns e repetir que sua equipe não vai abandonar o estilo ofensivo em nenhum jogo. Quando a bola rola, vestido quase como se fosse um jogador, com roupa esportiva e tênis, ele gesticula bastante, conversa muito com os atletas e faz substituições inesperadas com frequência. Faz de tudo para ver seu time ter mais posse de bola e pressionar o adversário até conseguir o gol.

A descrição acima pode se referir a três técnicos argentinos: Marcelo Bielsa, Jorge Sampaoli e Gerardo Tata Martino. O primeiro, conhecido como "El Loco", foi quem se notabilizou por criar esse estilo. Depois, os outros dois surgiram no futebol e nunca esconderam a admiração por Bielsa e também algumas semelhanças e inspirações. Cada um com sua identidade, agora estão na final da Copa América, Sampaoli pelo Chile, e Martino pela Argentina. Vão se enfrentar em um duelo "Loco", neste sábado, às 17h (de Brasília).

Bielsa serve como "professor" de Martino e Sampaoli
Bielsa serve como "professor" de Martino e Sampaoli
Foto: Getty Images

As frases de Sampaoli e Martino sobre Bielsa são sintomáticas. "É o melhor técnico de futebol do mundo e causa revoluções em todos lugares em que está", afirmou o técnico do Chile ao site Goal chileno. "Não fujo da comparação, nós nos parecemos até no penteado", brincou Martino, sobre a eterna comparação que ouve entre seu estilo e o do "Loco".

Sampaoli é quem mais reflete essa inspiração em campo. Os times dele usam esquemas táticos parecidos com aqueles que Bielsa prefere, com preferência por jogadores abertos nas pontas do campo. Quando treinava a Argentina, Bielsa se recusava a escalar Gabriel Batistuta e Hernán Crespo juntos exatamente porque isso reduziria a criação de jogadas pelas laterais. No Chile da Copa América sequer existe um centroavante - enquanto Alexis Sánchez e Eduardo Vargas ficam abertos, Valdivia é quem joga mais pelo centro do ataque, mas recuando para armar as jogadas.

Gerardo Martino e seu cabelo nada criativo
Gerardo Martino e seu cabelo nada criativo
Foto: Hector Vivas / Getty Images

Aliás, antes da Copa América, Sampaoli assumiu nominalmente a inspiração em Bielsa: "temos que pensar que vamos jogar com 11 kamikazes, 11 jogadores que desmedidamente devem sair para jogar, como foi feito em algum momento na época do Bielsa. Como contra a Argentina, que na época o técnico adversário disse que pareciam 15 em campo. É isso que vamos tentar".

Existe até uma semelhança curiosa e nada confortável entre os dois: tanto Bielsa quanto Sampaoli, quando estavam treinando o Chile (em 2010 e 2014, respectivamente), foram eliminados pelo Brasil nas oitavas de final da Copa do Mundo.

Já Martino nem sempre mostra essas semelhanças. Assim como Sampaoli, ele também trabalhou primeiro com uma seleção estrangeira, a do Paraguai, entre 2006 e 2011. Nesta época, montou uma equipe mais pragmática, que até jogava feio, mas conseguia resultados. Inclusive foi vice-campeã da Copa América em 2011.

Sampaoli tem a grande chance de livrar o Chile de mais um fracasso
Sampaoli tem a grande chance de livrar o Chile de mais um fracasso
Foto: Mario Ruiz / EFE

Mas na Argentina Martino já tem mostrado um estilo mais parecido com Bielsa. Ele montou uma equipe ofensiva, escalada no 4-3-3, e não pretende abrir mão disso. Na primeira fase, após o empate por 2 a 2 com o Paraguai, ele foi incitado a ter mais cautela e recuar nessa postura, mas foi ideológico e nem cogitou a ideia. O time assimilou essa postura ofensiva e aplicou 6 a 1 no Paraguai na semifinal.

Vale destacar ainda a relação especial que Martino tem com Bielsa desde 1992: eles estavam juntos no Newell's Old Boys que foi campeão argentino e alcançou a final da Copa Libertadores de 1992. Bielsa era o técnico, Martino era um volante de muita qualidade. Mas ambos perderam a decisão para o São Paulo. Para os argentinos pouco importa. Eles ganharam dois grandes treinadores que, além da semelhança, têm uma boa relação.

Diferenças

Também é verdade que existem duas diferenças claras entre Bielsa e seus herdeiros. O técnico mais velho, que atualmente está no Olympique de Marselha, sempre foi muito inflexível quanto ao seu esquema tático. Ele insiste em usar um incomum 3-3-1-3, que é bonito quando funciona, até porque os jogadores se movimentam bastante e surpreendem, mas também tem pontos fracos graves. Principalmente porque nem sempre há jogadores ideais para que esse esquema encaixe. Já Sampaoli e Martino são diferentes. O primeiro até gosta dessa tática de Bielsa, mas adapta para o 3-4-1-2, como fez no jogo contra o Brasil, na Copa do Mundo do ano passado. E no Chile atualmente ele tem preferido jogar com o time no 4-3-1-2. E Martino é ainda mais flexível, preferindo escolher seus esquemas táticos de acordo com as equipes que têm. Ele varia mais entre os comuns 4-4-2 e 4-3-3.

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Outra diferença perceptível é a distância que Bielsa coloca para seus jogadores no dia a dia. Ele praticamente não se relaciona com seus atletas, conversando apenas o básico sobre as partidas. Além disso, costuma punir seus jogadores por atos de indisciplina. Já Sampaoli e Martino fazem mais o estilo "amigão" dos atletas. Basta observar como o técnico do Chile tratou a questão de Arturo Vidal durante a Copa América, após um grave acidente do carro. O volante sequer foi punido pelo problema.

Títulos

Apesar de todas qualidades indiscutíveis, outra semelhança entre Bielsa, Martino e Sampaoli é a falta de conquistas. O primeiro só foi campeão na Argentina, pelo Newell's e pelo Vélez. Conquistou dois títulos na seleção, mas fora dos profissionais - Pré-Olímpico e Olimpíada de 2004.

Tata Martino conquistou títulos por onde passou no começo da carreira (Newell's, Libertad e Cerro Porteño), mas tem acumulado fracassos recentemente. Além do vice com o Paraguai, não conseguiu nenhum título importante com o Barcelona de Lionel Messi.

Já Sampaoli foi o único a conquistar um título internacional, mas foi apenas a Copa Sul-Americana de 2011, pela Universidad do Chile, clube pelo qual também faturou três títulos nacionais.

Agora um dos dois vai consagrar o legado deixado por Bielsa. Se for Martino, acabará com o jejum de 22 anos sem conquistas importantes com a seleção argentina principal. Se for Sampaoli, será o primeiro título grande na história do Chile. De qualquer forma, será um feito que consagrará o talento e o legado de Bielsa no futebol sul-americano.

 

Fonte: Terra
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