No Ceará, Seleção "Paulista" expõe carências de Norte e Nordeste
Torcedor de Fortaleza não irá encontrar cearenses na Seleção Brasileira. Nordestinos e nortistas são raridade no grupo comandado por Felipão
Quatro representantes entre 23 jogadores. E acredite: é bem mais que nas últimas duas Copas do Mundo. A Seleção Brasileira que joga contra o México nesta quarta-feira, em Fortaleza, tem quatro jogadores nascidos na Região Nordeste, e nenhum na Região Norte.
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Os baianos Dante e Daniel Alves, o pernambucano Hernanes e o paraibano Hulk são exceções no grupo brasileiro para a Copa das Confederações. O que reafirma as carências das duas regiões também no aspecto esportivo.
Norte e Nordeste, juntos, correspondem por mais da metade da extensão territorial do País e por mais de um terço da população. Na Seleção Brasileira, porém, a proporção é de três em 23. Só do estado de São Paulo, por exemplo, são 10 jogadores. "O Nordeste precisa de mais visibilidade. Tem muitas coisas boas que precisam ser apresentadas. Falta mais oportunidades", pediu Hulk.
Até alimentação ruim em casa dificulta a formação de jogadores
Ano do Mundial | Convocados |
2010 | Daniel Alves e Josué |
2006 | Dida e Juninho Pernambucano |
Coordenador das divisões de base do Vitória, João Paulo conduz um dos melhores processos de formação de jogadores das regiões citadas. Um dos segredos para esse sucesso, segundo ele, é a capacidade de encontrar talentos não só na Bahia, mas também em estados vizinhos. João destaca consequências da condição social inferior das duas regiões.
"Nós pegamos atletas que passaram fome quando eram criança. Ainda temos safras de jogadores que passaram por muitas necessidades. Tenho jogadores que chegam no profissional e, devido à infância, não conseguem se alimentar bem. Alguns que comiam farinha com açúcar no almoço, ou uma fruta da terra. Ou manga verde com sal. Aí chega debilitado aos profissionais, com contusões", detalha. Lembra, ainda, de diferenças estruturais.
"No Nordeste, o Vitória e o Bahia são pioneiros, referências", cita para lembrar que em equipes de outros estados as diferenças são até menores. "Para competir financeiramente com o futebol paulista, por exemplo, é muito difícil. Falta infraestrutura mesmo. Em São Paulo há Campeonato Paulista Sub-11. Na Bahia falta recurso até para uma competição Sub-17".
CBF tem dificuldade para identificar os talentos nas seleções de base
Durante sua gestão das categorias de base da CBF, Ney Franco definiu como prioridade tentar identificar jogadores nos clubes do Norte e do Nordeste. Na troca de comando que levou Alexandre Gallo ao cargo, porém, essa preocupação não parece se manter. Nas últimas três convocações de Gallo para os times Sub-17 e Sub-20 eram três jogadores - Douglas Santos, do Náutico, Willie, do Vitória, e Talisca, do Bahia.
"Acredito que há uma evolução no trabalho desses clubes", declara Marquinhos Santos, atual treinador do Coritiba e que dirigia as Seleções Sub-17 Sub-15 até o ano passado. "Fiz muitas visitações, acompanhamentos e há excelentes profissionais no futebol nordestino hoje. Há jogadores muito talentosos", conta.
Na segunda-feira, antes de os portões serem abertos, torcedores cearenses que foram ao Estádio Presidente Vargas gritavam para Luiz Felipe Scolari: "Osvaldo, Osvaldo, Osvaldo", em menção ao atacante do São Paulo nascido no Ceará. Prova de como nortistas e nordestinos se ressentem de jogadores "seus" na Seleção.
Estado | Convocados |
São Paulo - 10 | David Luiz, Diego Cavalieri, Jefferson, Jô, Lucas, Luiz Gustavo, Neymar, Oscar, Paulinho e Réver |
Rio de Janeiro - 3 | Júlio César, Marcelo e Thiago Silva |
Minas Gerais - 2 | Bernard, Fred |
Paraná - 1 | Jadson |
Rio Grande do Sul - 1 | Fernando |
Santa Catarina - 1 | Filipe Luís |
Bahia - 2 | Daniel Alves, Dante |
Pernambuco-1 | Hernanes |
Paraíba - 1 | Hulk |
Mato Grosso do Sul - 1 | Jean |