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Copa São Paulo

As aventuras de um inglês que veio jogar a Copa São Paulo

15 jan 2010 - 11h20
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Seth Burkett não esperava se preocupar com suas roupas no dia 25 de dezembro. Na chegada ao Brasil, o jovem inglês encontrou problemas por conta do desleixo do roupeiro do Sorriso-MT, time que defenderia na Copa São Paulo de Futebol Junior. Recebeu as vestimentas cheias de buracos e quis comprar peças novas, mas teve de se contentar. » De virada, Palmeiras bate Flu e está nas oitavas da Copa SP » Cruzeiro vence Paraná e vai às oitavas da Copa São Paulo » Corinthians vence América-MG e segue na briga pelo bi na Copa SP

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"Não tenho permissão para ir ao centro da cidade sozinho por causa do 'bang bang'", disse, através de um blog criado exclusivamente no site do Stanford, seu ex-clube na Inglaterra, para relatar suas aventuras em solo brasileiro. Em entrevista à Gazeta Esportiva.Net, o jogador detalhou sua rápida adaptação, as dificuldades com o futebol e a descoberta de um país rico e alegre.

Seth era uma das promessas do Stanford FC, time semiprofissional de Londres que disputa a oitava divisão inglesa. Natural de Peterborough, perto de Cambridge, o jogador veio ao país em junho para a disputa da tradicional Copa 2 de Julho, em Salvador. Como o campeonato é sub-17, o atleta de 18 anos permaneceu treinando nas categorias de base do Vitória e atuou em alguns amistosos. Seu desempenho chamou a atenção de Anderson Silva, agente da Football Oportunities, responsável por vários jogadores do Sorriso. Assim, o garoto de 18 anos acertou sua volta ao Brasil para competir na Copa São Paulo.

"Minha primeira impressão do país foi o forte calor. É muito, muito quente. Salvador é um lugar lindo, mas Sorriso não é tão bonito", disse Seth. Instantaneamente, o jogador virou celebridade na cidade e, assim, continua passando suas experiências através do site oficial do Stanford FC, pelo qual reclamou do problema com as roupas no Natal, e via twitter. No Brasil, Sefi, como foi apelidado pelos companheiros, também faz sucesso: mostrou-se impressionado com a repercussão de sua chegada, deu entrevistas à imprensa mato-grossense e foi citado em muitos programas de televisão. Em campo, notou as câmeras seguindo-o atentamente.

Seth, no entanto, não teve muito o que mostrar. Sequer entrou em campo durante a Copa São Paulo - chegou a treinar entre os titulares para a última partida, mas seu fraco desempenho não agradou ao técnico Emerson Mateus. Na segunda rodada, nem mesmo foi relacionado.

"O Sorriso joga no 3-5-2, esquema no qual não consigo me adaptar. Na Inglaterra, como lateral esquerdo, tenho que defender e não atacar. Mas no 3-5-2 esperam que eu ataque e não defenda", explicou o jogador, desconfortável.

Sem muitas chances em campo, o inglês aproveita para curtir a vida no Brasil. Sua rotina inclui apenas idas a cyber cafés à noite, após os treinos, e ocasionais saídas para restaurantes. É com os companheiros de time que ele se diverte.

"Apesar da dificuldade com o idioma, todo mundo tem sido muito amigável comigo. Tenho um bom relacionamento com o restante do time, o que envolve principalmente chamar um ao outro de nomes como 'boiola'", disse, já adaptado às brincadeiras dos colegas. "Os brasileiros são pessoas muito confiantes. Gosto do fato de estarem sempre sorrindo e dançando, comemorando. Geralmente, os ingleses não são pessoas muito felizes", continuou.

A estranheza parte das condições sob as quais viveu em seus primeiros meses em sorriso: dividindo uma casa com mais 25 jogadores - cinco deles no mesmo quarto, em beliches. "Os chuveiros e banheiros eram muito sujos, mas no geral não era tão ruim". Esse não foi o único fator que chamou a atenção de Seth Burkett no Brasil.

"Eu fiquei surpreendido pela riqueza. Na Inglaterra, aprendemos que o Brasil é um lugar pobre, mas me parece ser muito rico", disse o inglês, que desembarcou na terra do "bang bang" com a opinião moldada pela fama internacional do país. "O temor pela violência era a principal preocupação de todos antes de eu chegar aqui. A imprensa britânica mostra o Brasil cheio de violência, mas acho que estão focando principalmente o Rio de Janeiro. Até agora, não vi nenhum crime por aqui", minimizou o jogador.

Medo, por enquanto, Seth só tem do cabelereiro - desde que desembarcou no Mato Grosso, ele prefere deixar crescer as madeixas a se arriscar a ficar com visual semelhante ao dos colegas de equipe.

"Estou muito assustado com a possibilidade de ter meu cabelo todo raspado", disse o jovem de 18 anos, pele clara e olhos azuis, de fisionomia diferente da maioria dos mato-grossenses. Nem mesmo a fama do jovem lateral esquerdo tem o ajudado a arrumar uma namorada brasileira. "As mulheres têm mostrado interesse em mim, especialmente pelo fato de ser estrangeiro, mas meus relacionamentos não têm ido além da amizade, infelizmente", lamentou Seth, que conheceu algumas meninas em Sorriso, embora possa conversar realmente com apenas uma ou duas que falam inglês.

A experiência brasileira de Seth Burtkett, por enquanto, mostrou-se infrutífera. O jogador pouco conseguiu produzir, mesmo contando com a facilidade de ter sido treinado por Emerson Mateus, ex-jogador do Bahia e da Portuguesa e que trabalhou no Stanford FC. Com contrato de seis meses com o Sorriso, ele espera atuar como profissional até junho e, então, tentar alguma proposta europeia para a próxima temporada. Caso não consiga a transferência, terá de decidir entre permanecer no Brasil como jogador de futebol ou cursar uma universidade na Inglaterra.

O jogador, que se adaptou até mesmo à dieta baseada em arroz e feijão, apresenta apenas uma lamentação. "Não tive muito tempo para treinar para a Copa São Paulo. Como foram necessários dois meses para me adaptar ao estilo de jogo, já era muito tarde para poder atuar mais na competição", disse o atleta, que acompanhou do banco de reservas a derrota por 4 a 0 para o São Carlos, na estreia.

Na segunda partida, acabou preterido e sequer foi relacionado. Foi então que externou seu temperamento britânico. "Been dropped. Pissed off (Fui cortado. Estou bravo)", disse, via twitter. Nem mesmo a decepção na Copa São Paulo abala o jogador inglês. Ele espera uma reviravolta nos próximos meses para seguir carreira no esporte.

Lateral esquerdo, Seth treina no Brasil
Lateral esquerdo, Seth treina no Brasil
Foto: Divulgação
Gazeta Esportiva Gazeta Esportiva
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