Trapalhadas e bravatas no vaivém do clássico Fla x Vasco
Em 95 anos de rivalidade, é muito provável que jamais um clássico entre Flamengo e Vasco tenha sido marcado por tanta confusão. O jogo pela semifinal do Campeonato Carioca, finalmente marcado para Volta Redonda, no sábado (25), esteve para ser disputado no Maracanã, ficou pré-agendado para o Engenhão, chegou a ser ‘confirmado’ para Juiz de Fora (MG) e, pouco antes, quase foi definido para ser realizado em Brasília ou Manaus.
Por pouco o ‘clássico dos milhões’ não acabou adiado. Vários fatores contribuíram para um vaivém de informações e desencontros que durou alguns dias e expôs o perfil de alguns dos principais dirigentes do futebol do País. Primeiro, a crise no Maracanã, cujo consórcio responsável pela sua gestão não o liberou para a fase semifinal da competição. Sem o estádio da Copa, a alternativa seria o Engenhão, centro de distúrbios que culminaram na morte de um torcedor do Botafogo, no dia de jogo com o Flamengo, duas semanas atrás.
A diretoria do Botafogo discutiu, após a tragédia, a possibilidade de vetar clássicos no local, notadamente jogos que envolviam o Flamengo. Mas isso não seria impeditivo para que Fla e Vasco atuassem lá, se a Federação de Futebol do Rio assim quisesse.
No meio do caminho, surgiu uma liminar expedida pela Justiça do Rio, com a ordem de que clássicos disputados no Estado passassem a ter torcida única. Foi a vez de Eurico Miranda, presidente do Vasco, especialista em declarações intimidativas, vir a público para dizer que a decisão da Justiça não poderia sobrepor-se ao regulamento do campeonato – que determinava que jogos das fases finais da competição teriam de ser no Rio.
Como a liminar não ‘caía’, e sem aceitar jogar com torcida única, Eurico cedeu em seguida, quando começaram as negociações com o Flamengo e a federação para a escolha do local. O Vasco defendeu Manaus e o Fla tinha como opção Brasília. As duas praças estiveram na mesa das discussões, enquanto o tempo passava e havia pressa na definição. Mas não houve consenso e se iniciou então a busca por outro estádio.
Foi quando surgiu a ideia de Juiz de Fora, município a menos de 200 quilômetros do Rio e com muitos torcedores dos dois clubes. Na ânsia de resolver logo o problema, a federação anunciou, enfim, a cidade mineira como sede do jogo. Esqueceu-se, no entanto, de combinar isso com as autoridades locais. Rapidamente, a prefeitura de Juiz de Fora emitiu nota oficial, na qual vetava a partida entre Fla x Vasco para o sábado de carnaval no Estádio Mário Helênio.
A última cartada viria no dia seguinte, quarta (22). Os clubes e a entidade conseguiram audiência com o juiz que assinou a liminar. Queriam demovê-lo. Após horas de reunião, obtiveram uma vitória parcial. Ele cedeu, provisoriamente. Com a garantia da presença das duas torcidas, todos abraçaram o Engenhão como palco do clássico. Mas havia outro obstáculo. A Polícia Militar, com efetivo já distribuído por conta do carnaval, não aprovou a indicação.
Eurico Miranda, de novo, não se conteve. “É a falência da segurança pública”, disse, criticando abertamente e com outras palavras a PM do Estado.
Sem o plano A (Maracanã), sem o plano B (Engenhão) e sem os planos C e D (Brasília e Manaus), eis que a federação tira da cartola a solução derradeira – o jogo vai para Volta Redonda.
Esqueceu-se, no entanto, de combinar isso com as autoridades locais (a mesma frase está mais acima; isso é porque nada muda no futebol do Rio).
Em minutos, a prefeitura e o comando da PM de Volta Redonda tornaram público que a cidade não poderia ser a anfitriã do clássico por questões de segurança. Mas antes que alguém propusesse um plano F para a semifinal – jogar no Caribe ou em Marraquexe, por exemplo - o presidente da federação, Rubens Lopes, ligou para o prefeito da Cidade do Aço e eles se acertaram.
Até a manhã desta quinta (23), portanto, o jogo Fla x Vasco está confirmado para Volta Redonda.
