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Rivais na Copa América, Chile e Bolívia envolvem Papa em disputa por mar

19 jun 2015 - 08h50
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O jogo entre Chile e Bolívia, marcado para as 20h30 (de Brasília) desta sexta-feira, envolve muito mais do que a briga pela liderança do Grupo A da Copa América. Os países que entrarão em campo no Estádio Nacional protagonizam uma batalha por território litorâneo na Corte Internacional de Haya e já envolveram até o Papa Francisco.

Aliados, Bolívia e Peru perderam a Guerra do Pacífico para o Chile. O conflito, travado de 1879 a 1883, girou em torno do atual norte do Chile, região rica em recursos naturais, entre eles salitre e guano, produto da decomposição dos excrementos e cadáveres de aves marinhas que constitui valioso adubo.

Antofagasta, uma das sedes da Copa América, foi conquistada pelo Chile na Guerra do Pacífico. Pouco mais de mil quilômetros ao norte de Santiago, a cidade litorânea, antes parte do território boliviano, está entre os cinco maiores centros urbanos chilenos (346 mil habitantes) e vem se desenvolvendo graças à exploração do cobre.

O Estádio Regional Calvo y Bascuñán recebeu os jogos da Jamaica contra Uruguai e Paraguai pela primeira fase da Copa América. A partida entre Chile e Bolívia será realizada no Nacional, que reproduz em suas paredes o escudo nacional chileno e a frase "Por la razón o por la fuerza".Diferentemente do Peru, também derrotado pelo Chile, a Bolívia perdeu todo seu território litorâneo (400 quilômetros de costa e 120 mil quilômetros quadrados de área). Mais de 130 anos depois, o país presidido por Evo Morales pleiteia uma saída soberana ao mar na Corte Internacional de Haya, principal órgão judicial da Organização das Nações Unidas (ONU).

Em outubro de 2014, Morales foi recebido pelo Papa Francisco no Vaticano. Já no último mês de janeiro, o presidente boliviano revelou que o líder religioso se mostrou interessado no conflito territorial entre Bolívia e Chile - o primeiro pontífice latino-americano já teve atuação decisiva na reaproximação entre Cuba e Estados Unidos.

Morales presentou o Papa Francisco com o Livro do Mar, uma espécie de dossiê produzido pela Direção Estratégica de Reivindicação Marítima (Diremar), de leitura obrigatória nas escolas bolivianas. O órgão, subordinado ao Ministério de Relações Exteriores, tem a função de coordenar os esforços em torno da questão marítima.

No último dia 5 de junho, Michelle Bachelet, presidente do Chile, também foi ao Vaticano para visitar o Papa Francisco. Durante o encontro, os dois líderes também chegaram a conversar sobre a demanda boliviana de obter um acesso soberano ao Oceano Pacífico.

O pontífice argentino visitará a Bolívia no próximo dia 8 de julho. Os chilenos têm receio de que o líder religioso, ao lado do presidente Evo Morales, manifeste algum tipo de apoio ao país na questão marítima durante a passagem pelas cidades de La Paz e Santa Cruz de la Sierra.Eleito em 2006, Evo Morales promulgou uma nova constituição três anos depois. Um dos capítulos do documento versa sobre a reivindicação marítima. "O estado boliviano declara seu direito irrenunciável e imprescritível sobre o território que lhe dá acesso ao Oceano Pacífico e a seu espaço marítimo", diz o texto.

Desde 1978, os dois países romperam as relações diplomáticas, mantendo apenas contatos consulares. Com feriados nacionais, as nações antagonistas recordam a Guerra do Pacífico: a Bolívia tem o Dia do Mar (23 de março) e o Chile comemora o Dia das Glórias Navais (21 de maio).

A despeito de ter perdido o território litorâneo, a Bolívia mantém a Marinha entre suas Forças Armadas, apenas com atividades fluviais e lacustres. No contexto da reivindicação marítima, a existência da "Armada Boliviana" ganha alto valor simbólico.

Fã de futebol, Evo Morales ameaçou jogar profissionalmente pelo Sport Boys em 2014, o que não chegou a ocorrer. O atacante Marcelo Martins, autor de um gol na vitória por 3 a 2 sobre o Equador, a primeira da Bolívia na Copa América desde 1997, dedicou o triunfo ao chefe de estado, que tratou de retribuir."Esperamos, depois de muito tempo, passar para a segunda fase. Com a garra, o goleiro e os atacantes da seleção, tenho certeza de que vamos nos classificar", afirmou Morales. Ele conversou pelo telefone com os membros da equipe após o triunfo sobre o Equador e lamentou a impossibilidade de viajar ao Chile para ver o jogo contra o time local.

Michelle Bachelet, por sua vez, acompanhou a vitória sobre o Equador na estreia e parabenizou os jogadores pessoalmente após a partida no Estádio Nacional. Questionada sobre a situação de Arturo Vidal, que bateu sua Ferrari ao dirigir alcoolizado, ela se esquivou. "Como presidente, não me corresponde julgar sua atitude. Só me alegro que esteja bem", disse.

Na noite desta sexta-feira, a exemplo do que ocorreu no final do século XIX, chilenos e bolivianos voltarão a combater, desta vez pela liderança do Grupo A da Copa América. Arturo Vidal e Marcelo Martins, compatriotas de Arturo Prat e Eduardo Abaroa, dois heróis da Guerra do Pacífico, comandarão suas respectivas armadas.

Gazeta Esportiva Gazeta Esportiva
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