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O clima no anfiteatro do charmoso e colonial Quitandinha, onde o Sesc de Petrópolis está baseado, na região serrana do Rio de Janeiro, era de falatório, ajustes de luz e produtores ansiosos, andando por todos os lados, passando e ouvindo ordens pelo rádio. Até que alguém surgiu das cortinas com o aviso esperado: “ele está vindo, ele está vindo”. Foi a senha para o nervosismo coletivo.

“Faz silêncio ou vou botar todo mundo para fora, hein”, entrou, sorridente ao seu estilo, o maior jogador de futebol de todos os tempos, o homem a ser retratado por todos aqueles profissionais: Pelé. Na reta final de filmagens, enfim, ele visitava o set da produção, no início de novembro.

Não à toa, diretores, elenco, patrocinadores, todos queriam tirar uma “casquinha”, seja posando para fotos, ou mesmo batendo papo - Vicent D’Onofrio (Homens de Preto), que viverá Vicente Feola, o comandante da equipe de 58, mostrou uma revista setentona com o rei na capa, fez ele assinar e ainda puxou resenha, pescando que, enquanto Feola era boa praça entre o elenco, Paulo Amaral, o preparador físico, era tido como o “cara do mal”.

Edson Arantes do Nascimento é um dos produtores executivos de Pelé, The Birth of a Legend (na tradução livre, o nascimento de uma lenda), a cinebiografia (autorizada por ele, diga-se) do rei do futebol que tem estreia prevista para maio de 2014, a um mês da Copa do Brasil, e que está nas mãos dos diretores e roteiristas americanos Jeff e Michael Zimbalist, os irmãos indicados ao Emmy pelo documentário The Two Escobars - têm ainda no currículo Favela Rising, respectivamente sobre a violência do cartel de drogas colombiano e das comunidades brasileiras.

“Estamos fazendo um filme que vai mostrar uma época que foi o início da minha carreira e que espero que seja de grande valia, e de grande exemplo, para todos esses jovens que estão começando”, disse o rei, em entrevista exclusiva ao Terra, o único veículo brasileiro presente ao dia em que Pelé visitou a primeira e real produção internacional sobre a própria vida - já que Pelé Eterno, de 2004, foi um documentário nacional produzido pelo diretor Aníbal Massaini Neto.

O orçamento é de US$ 20 milhões, e terá no elenco nomes como Vincent D’Onofrio (Homens de Preto), como Vicente Feola, o técnico do escrete canarinho de 58, Seu Jorge, como Dondinho, o pai de Pelé, Rodrigo Santoro, em rápida aparição como um narrador de futebol, Diego Boneta (Rock of Ages), como José, o homem que dá o apelido de Pelé ao garoto Edson, e Colm Meaney (O Pior Trabalho do Mundo), na pele do treinador sueco George Raynor.

A tal fase a que Pelé se refere consiste em três atos, compreendidos entre 1950 e 1958: a saída precoce de Três Corações, em Minas Gerais, para Bauru, no interior de São Paulo (uma casa em Magé, na Baixada Fluminense, serviu de locação). O convite para mostrar talento em Santos, ainda garoto, com saudade dos pais. E a viagem à Suécia, a primeira para fora do País que ainda era pouco conhecido internacionalmente, mas de onde voltou para a casa com o primeiro título da Copa do Mundo para o Brasil.

“Eles nem conheciam a bandeira brasileira, colocaram uma errada em nosso hotel”, relembra, na locação escolhida, justamente, para representar a concentração da Seleção naquela época. “Isso é para você ver o quanto foi importante o Brasil ter ganhado a Copa do Mundo, e ter se tornado conhecido no mundo todo. É algo que a gente não pode esquecer”, enfatiza, com o aval dos diretores, americanos, mas com apreço e olhar únicos sobre a arte brasileira.

“Foi um período incrível da vida dele. Pensar que ele saiu de uma cidade pequena para se tornar o jogador mais jovem da história a conquistar uma Copa do Mundo (17 anos), a história em si é mágica. E a ideia do nascimento da lenda vem junto ao nascimento da identidade nacional”, explica Michael Zimbalist, outro que teve momento tiete ao pedir uma foto ao lado do rei, e do irmão.

“Nos impressionou a capacidade dele de segurar tamanha pressão ainda tão jovem. Ele é inspirador. Eu desafio qualquer um a ouvir a história dele e não se sentir inspirado”, complementa Jeff Zimbalist.

A cinebiografia de Pelé, o nascimento de uma lenda, retrata o período após o fracasso da perda da Copa de 1950, no histórico Maracanazo dos uruguaios comandados por Ghiggia, ao rompimento do não menos histórico “complexo de vira-lata”, de Nelson Rodrigues, quando “jogávamos como nunca e perdíamos como sempre”.

Os representantes de Pelé são dois garotos: Leonardo Lima de Carvalho (12 anos) e Kevin de Paula (17 anos). O primeiro representando a infância de Pelé, e o segundo a fase já como jogador de futebol brilhantemente precoce. Eles foram encontrados após longa seleção que envolveu, apenas no Brasil, mais de 400 postulantes mirins.

Além destes detalhes, você confere neste especial mais trechos da entrevista exclusiva com Pelé, que leva às telonas, novamente, uma biografia que enaltece, a exemplo de Pelé Eterno, os feitos do rei do futebol, sem as polêmicas de Edson Arantes do Nascimento.