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'Cangurus', 'chororô' e segurança 'terrível': as declarações polêmicas do prefeito do Rio sobre a Olimpíada

25 jul 2016 - 17h12
(atualizado às 19h11)
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Prefeito Eduardo Paes inaugurou a Vila Olímpica no último domingo
Prefeito Eduardo Paes inaugurou a Vila Olímpica no último domingo
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

"É natural que tenha algum ajuste a ser feito, mas vamos fazer os australianos se sentirem em casa aqui. Estou quase botando um canguru para pular na frente deles."

Foi desta forma que o prefeito do Rio, Eduardo Paes, respondeu às críticas feitas pela delegação da Austrália sobre os problemas de encanamento e eletricidade no prédio a ser ocupado por seus atletas na Vila Olímpica.

A frase, que repercutiu na imprensa internacional, foi dita durante a cerimônia de inauguração do local, no último domingo, e logo foi rebatida por dirigentes australianos, que disseram não "precisar de cangurus, mas de encanadores".

Mas esse não foi o primeiro mal-estar gerado por declarações de Paes na etapa final da preparação para a Rio 2016. Relembre a seguir as controvérsias em que o prefeito carioca se envolveu nos últimos meses:

"Precisamos mostrar que o país não é só roubalheira"

Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo em janeiro, Paes defendeu que os Jogos são importantes não só para o Rio, mas também para todo o país.

"Quando eu digo que a Olimpíada é do Brasil, é porque precisamos mostrar que o país não é só Lava Jato, só roubalheira, não é só falta de planejamento, com obra não terminando no prazo."

"Poluição e zika não são temas olímpicos"

Diante das críticas à falha dos planos de recuperação ambiental da Baía de Guanabara e da epidemia do vírus Zika, o prefeito carioca minimizou a relevância de ambos os assuntos para o evento.

"Para mim, a Baía de Guanabara não é um tema olímpico, mas sim da região metropolitana. É um desafio, e não tivemos o problema resolvido ali", afirmou em janeiro, pouco depois do ex-dirigente da Federação Internacional de Vela Peter Sowrey dizer à agência AP que foi demitido por ser contra a realização de provas do esporte no local.

Em fevereiro, em meio ao surto de Zika, alguns atletas cogitaram desistir de competir no Rio. Questionado sobre os impactos da epidemia sobre a Olimpíada, Paes disse não querer "minimizar" o vírus, mas afirmou se tratar de um "problema do Brasil, não de um tema olímpico".

"Temos um fato que é um desconhecimento sobre a zika. Temos mais casos de dengue do que de Zika", disse o prefeito em visita ao Parque Aquático Maria Lenk, onde serão realizadas as provas de polo aquático e saltos ornamentais.

"Esse chororô está atrapalhando demais o Rio (...) Falta o mínimo de comando"

No início de julho, o roubo de equipamentos de duas emissoras da Alemanha repercutiu em todo o mundo.

Ao mesmo tempo, o governador fluminense Francisco Dornelles (PP-RJ) declarou estado de calamidade pública no Estado por conta de sua crise financeira. O secretário estadual de Saúde chegou a afirmar que hospitais podiam não ter condições de funcionar durante o evento.

Paes engrossou, então, as críticas ao governo estadual, comandado por seu partido, o PMDB, até o governador Pezão ser afastado do cargo em março por problemas de saúde.

"Já está atrapalhando demais o Rio esse chororô. Agora, está na hora de trabalhar. Confio no governador Dornelles e espero que ele coloque o secretariado para arregaçar as mangas e pare de tanto blá-blá-blá. É muita reclamação o dia inteiro. (...) Se tiver vergonha na cara, capacidade gerencial e administração, vai resolver os problemas", disse Paes.

Na mesma ocasião, ele também não mediu palavras sobre a segurança do Estado.

"Está no limite, falta o mínimo de comando, não pode virar esse desmando no Rio. Não pode falar que é problema social porque problema social também tem em São Paulo e a gente não vê isso. Tem em Recife, em Belo Horizonte e a gente não vê isso. O que a gente espera das forças policiais do Estado é que elas cumpram suas obrigações."

"O Estado está fazendo um trabalho terrível (em segurança)"

O prefeito carioca também criticou o governo estadual por seu trabalho à frente da segurança pública em uma entrevista à rede americana CNN.

A emissora destacou no início de julho como o roubo sofrido por uma atleta paraolímpica, a invasão de um hospital municipal para libertar um traficante e a morte de uma médica na Linha Vermelha haviam aumentado a preocupação com a criminalidade na cidade.

"Essa é a questão mais importante no Rio, e o Estado está fazendo um trabalho terrível, horrível", disse Paes à CNN. "Está falhando completamente no seu trabalho de policiamento e de cuidar da população."

Paes acompanhou o presidente interino Temer e seu ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, em visita ao Parque Olímpico
Paes acompanhou o presidente interino Temer e seu ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, em visita ao Parque Olímpico
Foto: Getty / BBC News Brasil

"A Olimpíada é uma oportunidade perdida"

Alguns dias depois, em entrevista desta vez para o jornal britânico The Guardian, Paes mudou o tom de seu discurso sobre o impacto dos Jogos.

Ao longo de toda a preparação da cidade para o evento, o prefeito destacou como a competição seria uma oportunidade de passar uma imagem positiva do país para o mundo. Mas, nesta entrevista, mostrou-se pessimista.

"(A Olimpíada) é uma oportunidade perdida. Não estamos nos apresentando bem. Com as crises econômica e política, este não é o melhor momento para estar sob o olhar do mundo."

Paes também afirmou então acreditar que a imprensa mundial estava exagerando ao noticiar os problemas do Rio e fazendo um retrato injusto da cidade.

"Isso me deixa bravo. Se você lê a mídia internacional, parece que tudo aqui se resume a Zika e a pessoas atirando umas nas outras."

Essas declarações teriam levado à devolução de mais 20 mil, de acordo com a revista Veja. Já o jornal O Estado de S. Paulo noticiou que seriam 40 mil ingressos.

À BBC Brasil, o comitê organizador da Rio 2016 disse não reconhecer esses números e afirmou que seu sistema de vendas não aponta esses picos de devoluções.

"Dos 6,1 milhões de ingressos disponíveis, já foram vendidos 4,4 milhões. E a taxa de devolução ou revenda é de 4,4% das entradas já compradas desde outubro de 2015 até agora", disse o comitê, via assessoria de imprensa.

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