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Olimpíada 2016

Estará a Rússia fora do Rio 2016? Putin ainda não deu sua última palavra

23 jul 2016 - 06h03
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Para bem ou para mal, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, tem a última palavra sobre a presença de seu país nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, seja por sua influência no mundo, as más relações com o Ocidente ou pela amizade que tem com o presidente do COI, Thomas Bach.

"A postura oficial das autoridades russas, do governo e do presidente, de todos nós, é de que no esporte não há e não pode haver lugar para o doping. O esporte deve ser limpo", disse Putin durante uma reunião do governo.

Putin fez nesta sexta-feira uma última tentativa de evitar a catástrofe que seria a exclusão da equipe olímpica russa do Rio 2016 ao ordenar a criação de uma comissão independente para a luta contra o doping integrada por especialistas russos e estrangeiros.

Sua missão deve ser "o estrito controle sobre a efetiva realização do plano nacional de luta contra o doping".

Em uma clara concessão a Bach, ele escolheu como candidato a liderar essa comissão o mais velho membro do COI, o russo Vitaly Smirnov, que integra a máxima organização olímpica desde 1971.

Putin definiu Smirnov como "uma pessoa com uma reputação absolutamente irrepreensível, que conta com a confiança e o respeito da família olímpica".

Smirnov, de 80 anos, membro de honra do COI desde janeiro, foi em várias ocasiões vice-presidente da entidade (nos períodos 1978-82, 1990-94 e 2001-2005).

"É necessário cooperar estreitamente com a comissão disciplinar do COI, a Agência Mundial Antidoping e as federações internacionais, sejam esportes olímpicos ou não", frisou.

Após a divulgação, na segunda-feira, do relatório McLaren, que acusou a Rússia de doping de Estado, Putin advertiu que o movimento olímpico está à beira de um cisma devido à ingerência política, e alertou sobre o retorno à era dos boicotes, como nos Jogos de Moscou 1980 e Los Angeles 1984.

Porém, após a decisão desta sexta-feira da Corte Arbitral do Esporte (CAS) contra o atletismo do país, os discursos incendiários e as críticas aos Estados Unidos não poderão ajudar o esporte russo, e sim as relações pessoais e a própria figura do chefe do Kremlin.

É conhecida a amizade de Putin com Bach, com quem pode conversar em alemão - idioma que conhece de seus tempos de agente da KGB na Alemanha Oriental -, da mesma forma que ocorria com o ex-presidente da Fifa, Joseph Blatter.

Em 2007, Putin conseguiu, com sua presença na Guatemala, onde foi eleita a sede dos Jogos de Inverno para 2014, fazer a balança inclinar a favor de Sochi, e fez em favor da cidade o maior investimento da história de uma edição de Jogos Olímpicos.

Além disso, os dirigentes do COI estão em dívida com Putin, que sempre os defendeu das acusações de corrupção feitas por EUA e Reino Unido.

Putin encara a participação nos Jogos do Rio muito a sério. Sochi, por exemplo, foi uma aposta pessoal, dentro de seu projeto que visa transformar a Rússia em uma das cinco maiores potências econômicas do planeta.

Faixa preta de judô e praticante de esqui de montanha, o líder russo utiliza o esporte como ferramenta de propaganda - como acontecia na União Soviética - e um instrumento para consolidar a sociedade em torno do Kremlin, além de um meio para devolver o orgulho aos russos.

Em parte, ele desempenhou bem essa missão, já que, além dos sucessos esportivos, a Rússia recebeu, contra as previsões, o direito de sediar a Copa do Mundo de 2018, quando concorria com a Inglaterra e a candidatura conjunta de Espanha e Portugal.

O problema é que ganhar a todo custo se transformou em uma faca de dois gumes, já que alguns atletas levaram esse espírito além do pé da letra e recorreram ao doping para recolocar a Rússia no lugar mais alto do pódio.

Segundo analistas críticos do Kremlin, Putin é o principal responsável pelo escândalo de doping no país, já que, além de incentivar o amor pelo esporte, deveria estimular o respeito às regras de jogo e aos valores éticos promovidos pelos Jogos Olímpicos.

"Não posso dizer que tudo o que diz é mentira, nem tudo o que diz é verdade", disse Vitaly Mutko, ministro dos Esportes, sobre o relatório McLaren.

Na mesma linha, o presidente da Federação Russa de Atletismo (FRA), Dmitri Shlyakhtin, admitiu hoje o encobrimento de exames de doping prévios aos Jogos de Pequim 2008 e Londres 2012.

Putin não pode negar as evidências - e em nenhum momento o tentou. Mas agora, com ou sem culpa não no escândalo, terá que arregaçar as mangas para tentar fazer com que os atletas russos sem mancha de doping possam representar o país nos Jogos de Rio.

EFE   
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