Rafaela emociona com ouro inédito e arena vive "festa de Copa"
Com garra, técnica e frieza, a judoca Rafaela Silva escreveu seu nome na história do esporte às 17h08 desta segunda (8 de agosto). O primeiro ouro do Brasil nos Jogos de 2016 transformou a Arena Carioca 2 e fez lembrar festas que celebram um titulo de Mundial de futebol. Milhares de pessoas, numa euforia contagiante, se abraçavam e choravam no local da disputa, instantes depois que ela derrotou a atleta de Mongólia, Sumyia Dorsjuren.
Rafaela também não conteve as lágrimas e, ajoelhada no tatame, parecia lembrar a infância pobre, as dificuldades da família e os desafios que lhe fizeram uma atleta de ponta, orgulho de uma modalidade que mantém a tradição de sempre garantir pelo menos um pódio para o Brasil desde a Olimpíada de Los Angeles (1984).
Para chegar ao topo, muitos anos de dedicação e de perseverança. O caminho foi árido e ela sabia que tinha de se reiventar no Rio, sua terra natal, numa arena a poucos quilômetros da Cidade de Deus, o bairro humilde em que foi criada e mais conhecido por sua relação com a violência e o tráfico de drogas.
E o 8 de agosto lhe apresentou cinco adversárias. Venceu todas, da categoria leve, até 57 kg. A cada vitória, torcedores criavam rimas para homenageá-la e ela retribuía com gestos contidos. Reservava para o minuto derradeiro a explosão de alegria. No dia histórico para o esporte nacional, Rafaela começou sua saga contra a alemã Myriam Rofer, numa luta de apenas 46 segundos. Na sequência, superou a sul-coreana Jandi Kim, nada menos que vice-líder do ranking mundial.
Ocupou o tatame pela terceira vez para uma revanche. Em 2012, em Londres, havia sido eliminada pela húngara Hedvig Karakas. Desta vez, não deu chances para a rival e não desapontou crianças, adolescentes, idosos, gente de todas as idades que erguia os braços e soltava a voz para reverenciá-la. Foi assim o dia todo.
Na semifinal, houve momentos dramáticos na luta com a romena Corina Capriociu. Num lance polêmico, o árbitro, um japonês, chegou a indicar que Rafaela aplicara um wazari na adversária. Mas voltou atrás e melhor seria que ninguém lhe traduzisse o que ouviu dos torcedores. A brasileira ficaria em vantagem no confronto, bem próxima da classificação à final.
Mas só conseguiria a vaga no tempo extra, chamado de golden score, que termina quando há alguma penalidade ou golpe. E foi com um wazari que Rafaela avançou.
A expectativa, nervosa, da decisão levou a torcida a praticamente ignorar as outras lutas que apontariam medalhistas em outras categorias. Todos queriam ver logo Rafaela em ação. Quando finalmente chamada para a disputa com Sumiya, a líder do ranking, a voz do locutor da arena desapareceu. Não havia como ouvir nada além dos cânticos da torcida. E mais uma vez com um wazari, a judoca fez a arena tremer literalmente. A consagração se materializaria em minutos com o hasteamento da bandeira do Brasil, ao som do hino nacional.