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Uma prova de "3 ouros": a festa brasileira na ginástica

14 ago 2016 - 22h11
(atualizado às 22h24)
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Foto: Getty Images

Uma prova com três medalhas de ouro, nenhuma de prata nem de bronze. Essa realidade virtual contemplou quem viu a final da ginástica artística, individual solo, na tarde deste domingo, na Arena Olímpica. O inglês Max Whitlock ficou em primeiro, mas sua comemoração acabou ofuscada por milhares de vozes que exaltavam ao mesmo tempo Diego Hypolito e Arthur Mariano.

Depois de duas exibições notáveis, os ginastas brasileiros não sabiam para onde correr tão logo houve o anúncio de todas as notas. Agarravam-se à bandeira do País, abraçavam-se, tapavam o rosto com as mãos, riam e soluçavam. Ao lado deles, o técnico da Seleção, Marcos Goto, também parecia fora de si.

Diego viu a cor dourada em sua medalha de prata. Dar a volta por cima depois do descrédito acumulado por dois fracassos olímpicos seria a redenção do atleta. Não foi à toa sua intensa vibração tão logo encerrou a apresentação. Saudado efusivamente pelo público, ele pulava e chorava.

Estava redimido. Ganhava um pódio para apagar da memória dois tombos. Em 2008, o de Pequim, na decisão, lhe custou muitas piadas ofensivas ao cair na posição de quem se senta numa cadeira. Já em 2012, em Londres, a queda se deu na fase de classificação. Havia quem apostasse ali no fim de sua carreira. Ele prosseguiu e neste domingo pôs no peito o ouro simbólico.

É também de brilho intenso o bronze de Arthur Mariano. Ele chegou à final sem muita expectativa. É um atleta jovem, de 22 anos, e despontava como nome forte para a ginástica brasileira na Olimpíada de Tóquio,  em 2020. Mas, assim como Diego, levantou a plateia com seu talento estampado em movimentos coreografados e no salto com uma dupla pirueta, aplaudida de pé.

Arthur exultava ao deixar a área de competição. Tinha noção de que dera um show. Estava em terceiro lugar, já fazia dobradinha com Diego. O problema é que ainda havia mais três atletas na fila. Veio o americano Jacob Dalton e não os alcançou. Certamente o sonho seria desfeito na vez do atual campeão mundial, o japonês Kenzo Shirai, o grande favorito da prova. Nervoso, porém, o número 1 errou e não se recuperou a tempo.

Faltava então apenas mais um, o americano Samuel Mikulak. Arthur não quis ver o que acontecia. Ajoelhou-se e quase colou o rosto no chão. Em euforia, e pressionando o atleta dos EUA, a torcida brasileira não se conteve e passou a vaiá-lo, numa atitude criticada mais tarde por Arthur. Desestabilizado, Mikulak teve desempenho muito ruim.

Família Hypolito comemora a conquista enquanto espera o medalhista
Família Hypolito comemora a conquista enquanto espera o medalhista
Foto: Silvio Alves Barsetti

Chegava a hora de aguardar o resultado final. Foram longos três minutos de tensão até a consagração da dupla brasileira. Nas cadeiras da arena, a mãe de Diego, dona Geny, já sob efeito de tranquilizante, extravasou toda a alegria nos braços do pai do atleta, Edson, cujos olhos embevecidos acusavam minutos de emoções intensas. "Para nós, ele ganhou o ouro. Meu filho é de ouro. Nunca imaginei ganhar esse presente exatamente no Dia dos Pais", ele disse.

Depois, posaram para fotos com a bandeira do Brasil ao lado dos outros dois filhos, Edson e Daniele Hypolito, todos ansiosos pela presença do campeão deles. Diego concedia já por mais de 30 minutos entrevista coletiva. Contava o drama pós-tombos de Pequim e Londres.  Falou de sua depressão, dos momentos de tristeza e solidão e também citou a solidariedade dos amigos. Agradeceu a muitas pessoas que o ajudaram,  e repetidas vezes, mencionou o nome do técnico,  Marcos Goto.

O atleta ficou alguns segundos sem falar ao ver no tablet do repórter do Terra a foto dos quatro parentes. "Que lindos. Quero vê-los. Onde estão?"

Perto dele, Arthur, também cercado por muitos jornalistas, rememorava sua trajetória.  Ele escolheu a ginástica artística inspirado no próprio Diego. Com humildade, falou de dias difíceis e de sua força de vontade. Atribuiu a vitória à sua perseverança. Para ele, ali estava o resultado por suportar dores pelo corpo todo e até um certo desânimo que sentiu algumas vezes, nos últimos quatro anos, ao se levantar para os treinos. "Estou aprendendo a cada dia a ser melhor como atleta e como pessoa." 

Diego e Arthur saíram juntos ao fim da entrevista. Tinham outros compromissos, ir para o exame antidoping.

De longe, eram observados por Silvia Alvarez, caixa de uma lanchonete na Arena Olímpica. Ela não pôde deixar seu posto de trabalho durante as provas,  apesar de estar a menos de cinco metros de um dos setores das cadeiras. Mas, precavida, assistiu a transmissão ao vivo pelo celular escondido numa brecha do balcão. Silvia chorou, e perdeu a voz com a conquista dos ginastas. Sem querer, seu sentimento poderia ser traduzido numa única pergunta: qual a cor e o valor de uma medalha capaz de comover os anônimos?

Fonte: Silvio Alves Barsetti
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