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Goleiro relata falta de água e comida em clube do Campeonato Goiano

Goleiro Tom detalha problemas no Rio Verde, que se salvou do rebaixamento de forma heroica no estadual. Atleta cobra salários atrasados e sonha com futuro melhor

10 abr 2017 - 07h33
(atualizado às 12h06)
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- A gente enfrentou muitos problemas. A gente não tinha água. Às vezes não tinha nem o que comer depois do jogo.

Foi com lágrimas e palavras fortes que o goleiro Tom, do Rio Verde (GO), expôs a dura realidade enfrentada por ele e seus companheiros de clube, que estão desde fevereiro com salários atrasados. Porém, esta não é uma história apenas de tristeza, mas também de superação. Tom fez o desabafo para rádios goianas após sua equipe vencer o Goianésia há dois domingos, fora de casa, com gol no último minuto e menos dois jogadores. O placar evitou a queda do time, que teve sua salvação no Campeonato Goiano confirmada neste domingo, após combinação de resultados que rebaixou o Goianésia. A entrevista de Tom viralizou na internet, mas nem isso adiantou para o jogador receber seu salário.

Revelado pela Portuguesa (SP) e ex-goleiro da Lusa no profissional, Tom, de 25 anos, topou conversar com o LANCE! sobre os problemas vividos no Rio Verde. Liberado pelo clube para buscar um novo destino, ele não conseguiu deixar a cidade de Rio Verde rumo à Itaquaquecetuba (SP), onde mora sua família (esposa, filha e mãe na mesma casa), por não ter dinheiro para a passagem. Tom, primeiramente, detalhou a situação da falta de água e de comida.

- Ficamos sem condição de trabalho, levamos tudo na vontade. Logo na segunda rodada, contra o Goiás (derrota do Rio Verde por 2 a 0, em Goiânia), não tinha água para beber na concentração. O clube era responsável por pagar a água, mas não conseguiu manter essa situação. A gente teve que sair "tarde da noite" do hotel e comprar água "do nosso bolso" em um posto de gasolina, porque a boca dos meninos estava secando. No primeiro mês alguns receberam salário e outros, não. Depois começou a faltar comida. A gente até tinha um patrocínio de uma empresa de alimentos, que fornecia comida ao clube, mas essa comida saía do padrão para atletas. Era carne de porco, calabresa e salsicha todos os dias. Não tinha condições dessa forma. Aí eles suspenderam essa comida, mas também não substituíram - disse o goleiro.

A ENTREVISTA DE TOM QUE REPERCUTIU NA INTERNET

Tom e mais seis jogadores estão à espera dos salários pendentes para voltar para suas cidades. Eles estão hospedados na casa da sogra de um preparador de goleiros - o hotel que era pago pelo Rio Verde para estes atletas durante o campeonato foi cortado na segunda-feira da semana passada. Torcedores do Rio Verde, sensibilizados com a situação, decidiram organizar um jogo beneficente com a renda inteira destinada para os atletas, na última quinta-feira. No entanto, apenas 205 pagantes compareceram ao estádio e a renda de R$ 4.100 não foi suficiente para mudar muito a situação do grupo. Detalhe importante: Tom trabalhou na bilheteria do seu próprio jogo beneficente antes de atuar, pois tudo foi organizado às pressas e não havia pessoal disponível.

- Estamos cobrando os salários. O pessoal do clube disse que está aguardando um dinheiro, um adiantamento da federação. Nossa família está nos esperando e estamos com muita saudade. Quem tinha condição melhor já foi. A gente só ficou porque precisa - comentou Tom, contando também que o clube tinha prometido levar sua família para Rio Verde, porém não cumpriu com isso:

- Minha filha vai completar um ano e o combinado era trazer minha família para Rio Verde, pela minha filha ser tão pequena. Eu queria ter visto ela andar... Ela andou e eu não pude ver de perto. Dói muito na vida de um pai perder um momento tão importante. Eles me enrolaram... "Semana que vem a gente acerta para sua família vir". Foram enrolando, enrolando, e nunca aconteceu.

O JOGO QUE SALVOU O TIME DE TOM DO REBAIXAMENTO

Diante das dificuldades financeiras, Tom tem sido ajudado por sua mãe, que aos 55 anos trabalha como faxineira:

- Ela já está com uma idade avançada para o serviço que faz, mas é ela que me ajuda. Meu sonho é poder melhorar e dar um conforto para ela. Viemos de Aracaju para São Paulo (SP) quando eu tinha dez anos e a gente morava em condições precárias, praticamente dentro de um córrego, em uma favela. Com o futebol, consegui comprar um teto melhor. Só que os atrasos nos salários me preocupam, pois essa compra está parcelada e posso perder se não pagar.

Depois do desabafo em campo, Tom tem recebido ajuda de diversos torcedores do Rio Verde, que param o goleiro pelas ruas e dão dinheiro. Ele admite que fica envergonhado, mas conta que aceitou as gentilezas:

- Alguns torcedores colocaram R$ 50, R$ 100 no meu bolso. É legal esse reconhecimento, mas fico tímido. Esse dinheiro me ajudou muito. Meu celular tinha caído na água e queimado. Com o dinheiro que consegui na rua, fui em uma lojinha, comprei um celular de "segunda mão" e resolvi esse problema. O celular me permite matar a saudade da família e receber propostas de clubes para o segundo semestre - falou Tom, confiante em dias melhores.

- Eu me destaquei no campeonato, mostrei meu trabalho, hoje me sinto preparado para estar em um grande clube. Vem coisa boa logo - finalizou.

A reportagem do LANCE! tentou contato com um diretor do Rio Verde para falar sobre os temas abordados pelo goleiro Tom, porém não obteve resposta.

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