Desgaste entre elenco e Felipão foi determinante para queda
Contratado para ser o principal avalista do novo conceito de futebol que a direção gremista pretende estabelecer nesta temporada, o técnico Luiz Felipe Scolari não conseguiu colocar em prática as ideias e o planejamento estabelecido pelos dirigentes e encerrou sua terceira passagem pelo clube na terça-feira.
Eterno ídolo, Felipão retornou em julho de 2014 ao Grêmio. Após o fracasso na Copa do Mundo, a volta parecia ser o ideal para retomar a carreira vitoriosa e ajudar a esquecer o recente percalço.
O principal objetivo da direção com a contratação de Felipão era de resgatar a alma castelhana e aguerrida, características do time da década de 90, quando ganhou a Libertadores, Copa do Brasil e Campeonato Brasileiro com Scolari no comando.
Sem dinheiro em caixa e atravessando uma forte crise financeira, a intenção dos dirigentes era aproveitar o segundo semestre de 2014 para pavimentar o caminho para 2015. Jogadores como Zé Roberto, Riveros e Barcos não permaneceram e a proposta era de apostar nos jovens para formar o time de 2015. No entender dos cartolas, somente Felipão teria moral com a torcida para tocar o projeto sem ser criticado e dando respaldo aos jovens.
Desgaste com os jovens jogadores
O ano de 2015 começou, e foi justamente com os jovens que Felipão começou a perder o controle do vestiário. Muitos jogadores oriundos das categorias de base estavam insatisfeitos como eram tratados por Felipão e pelo seu auxiliar, Flávio Murtosa. Na maioria dos treinos fechados para a imprensa e torcedores, o técnico cobrava os mais jovens de maneira muito forte. Alguns destes jogadores apareciam no time em uma ou duas partidas, e depois ficavam um longo período sem serem relacionados.
Cobrando reforços publicamente
Com um time recheado de jovens, o começo gremista no Campeonato Gaúcho não foi dos melhores e a todo o momento Felipão destacava a necessidade de novas contratações. Mesmo sem dinheiro, a direção acabou atendendo ao pedido do treinador: jogadores como o volante Maicon, o centroavante Braian Rodriguez e o lateral Marcelo Oliveira desembarcaram na Arena. O time começou a encorpar e os jovens que eram para serem aproveitados foram perdendo espaço.
O Grêmio chegou a liderar o Campeonato Gaúcho, mas na reta final da fase classificatória viu o time reserva do Inter assumir a liderança e conquistar a vantagem de decidir no Beira-Rio todos os jogos eliminatórios e a decisão do Estadual.
A decisão do Gauchão
A direção gremista colocou todas as fichas na conquista do Campeonato Gaúcho, algo que não acontecia desde 2010, quando o Grêmio, que era treinado por Silas, ganhou pela última vez o titulo estadual.
Apostando em um time experiente, o técnico Felipão viu em 15 minutos o sonho desmoronar nos pés de Nilmar e Valdívia. O time colorado abriu dois gols de diferença, e nem o gol marcado por Giuliano no final do primeiro tempo foi suficiente para iniciar uma reação gremista.
Desgaste com todo o grupo de jogadores
A perda do título estadual acabou sendo o estopim para que a relação entre o técnico Luiz Felipe Scolari e o grupo de jogadores azedasse de vez. Agora não eram só os jovens, mas os mais experientes também estavam insatisfeitos com o trabalho de Felipão. O meia Douglas, contratado a pedido do técnico, estava amargando a reserva. O volante Fellipe Bastos e o lateral direito Matiaz Rodríguez também perderam espaço no time titular.
Arrancada desastrosa no Brasileiro
O desgaste entre jogadores e treinador ficou evidente na arrancada do Brasileiro com um empate por 3 a 3 com a Ponte Preta, em casa. O Grêmio saiu vencendo por 2 a 0 e cedeu o empate, fez o terceiro gol e nos acréscimos permitiu um novo empate. Contra um time que estava com um jogador a menos.
Na entrevista coletiva após o jogo, Felipão já dava sinais de abatimento e falta de força para reverter um quadro que se caminhava para a sua saída do comando técnico.
Antes do confronto contra o Coritiba, que acabou decretando a saída de Felipão, o Grêmio havia ganhado do CRB pela Copa do Brasil por 3 a 1, garantindo classificação para a próxima fase da competição de maneira antecipada. Mas os erros e as falhas do time voltaram a aparecer no jogo contra o Coritiba, e desta vez a derrota por 2 a 0 foi a gota d’água.
“É uma situação complicada e precisamos de uma poção mágica neste momento”, disse César Pacheco, diretor de futebol gremista após o jogo.
A mágica, muito manjada no futebol brasileiro, aconteceu nesta terça-feira, com a saída de Luiz Felipe Scolari do comando técnico tricolor. Agora o próximo passo será a procura do presidente Romildo Bolzan Júnior para contratar um novo técnico capaz de fazer o time do Grêmio mostrar um futebol convincente para o seu torcedor.