PUBLICIDADE

Terra na Copa

Livro mostra: em "refúgio", Teixeira está muito vivo na Copa

20 mai 2014 - 13h10
Compartilhar
Exibir comentários
Ricardo Teixeira deixou comandos da CBF e Comitê Organizador Local da Copa em 2012
Ricardo Teixeira deixou comandos da CBF e Comitê Organizador Local da Copa em 2012
Foto: Getty Images

Refugiado em Miami desde que renunciou ao comando da CBF em março de 2012, Ricardo Teixeira ainda pode ganhar dinheiro com a Copa do Mundo. Também sabe os segredos de todos os principais contratos da entidade, renovados por ele próprio com longos prazos como um último ato antes de pular do barco. Contratos desse próprio significam dinheiro, e dinheiro significa poder. Pois é. 

Relembre: A derrocada de Ricardo Teixeira e o fim de sua passagem após 23 anos na CBF

É o que contam em O Lado Sujo do Futebol, a ser lançado pela Editora Planeta nesta semana, o experiente jornalista Luiz Carlos Azenha (TV Record) e seus colegas Leandro Cipoloni (TV Record), Tony Chastinet (Band) e Amaury Ribeiro Jr (autor de Privataria Tucana). Eles lançam sua alça de mira especialmente a Ricardo Teixeira e os laços que o envolveram e ainda o envolvem: João Havelange, Nike, Sandro Rossell, Rede Globo e até uma provável ex-amante que morreu nos Estados Unidos em 1995. 

"É o resultado de uma investigação com centenas de páginas de documentos que levantamos em cartórios e em empresas ligadas ao Teixeira", afirma Luiz Carlos Azenha. Nesta entrevista ao Terra, Azenha explica alguns detalhes do trabalho que chega às livrarias a menos de um mês da Copa do Mundo. Um momento ideal para atrair a repercussão nacional e internacional para a relação de poder e dinheiro que envolve a CBF, a Fifa e o Mundial. "É assustador", sintetiza Azenha. 

Confira a entrevista com Luiz Carlos Azenha na íntegra:

Terra - O livro traz muitas informações novas? O que podemos esperar?

Luiz Carlos Azenha - 

A Seleção foi campeã em 1994, nos Estados Unidos, e no ano seguinte morreu uma moça muito amiga do Teixeira (Adriane Almeida Cabete) em uma BMW na Flórida. O Juca (Kfouri, jornalista) publicou que essa moça era o pivô da separação do Teixeira com a filha do João (Lúcia Havelange). Fomos até a Flórida pegar documentos porque tínhamos dúvidas se era uma história relevante. Contamos toda a história. 

Terra - O acidente ocasionou o fim do casamento?

Azenha -

 Quando a suposta namorada dele morreu dentro de uma BMW que era dele, na Flórida, o endereço da moça era da mesma rua que ele. Quando ela morre, vem a separação, teve um impacto grande. Queríamos levantar os detalhes. Como foi, o que aconteceu, quem estava no carro? A pessoa do carro, além da Adriane, tinha relações com o Teixeira? É isso que a gente levanta. Nós confirmamos a história do Juca com dados e tudo isso leva para a Copa 2014. 

Terra - O que o livro fala sobre a relação entre Teixeira e Havelange?

Azenha - 

O João Havelange escolhe o Teixeira para suceder a ele e reconquista um posto que havia deixado. Ele é empurrado para fora da CBD (nos anos 70), vai para a Fifa e a retomada do poder no Brasil é em 1989. Não é por acaso que logo em seguida, Havelange e Lúcia (filha de João) formam (com Teixeira) a empresa RLJ Participações (iniciais de Ricardo, Lúcia e João), muito importante em toda a história.

Terra - Pode nos explicar mais?

Azenha - 

Pegamos a formação da RLJ. Foi baseada em Liechteinstein, sócia da famosa Sanud (outra empresa). Na CPI CBF-Nike, Teixeira diz que essa empresa Sanud é uma mera sócia (da RLJ). Mostramos que ele é que controlava a Sanud. Ele montou um duto com dinheiro que vinha da Suíça e caía na conta da RLJ. O João Havelange não tinha participação formal, mas é claro que surgiu um negócio em torno do casamento. 

João Havelange beija Zagallo em 2011
João Havelange beija Zagallo em 2011
Foto: Getty Images
Terra - Como a Nike entrou na vida do Ricardo Teixeira?

Azenha - 

Após a separação, o Teixeira assina com a Nike e dá a ela um poder de entrada no futebol mundial que apenas a Adidas tinha. É quando a Nike realmente vai para cima da Adidas. O Teixeira, de certa forma, é o office boy da Nike. Já a Adidas desenvolveu o empacotamento dos eventos mundiais. Ela que conseguiu a Coca-Cola ao João Havelange e permitiu a ele ficar na Fifa. A Coca é que deu o dinheiro para o Havelange fazer a política em todo o mundo. 

Terra - O Teixeira renovou uma série de contratos antes de deixar a CBF. Isso mantém poder e dinheiro nas mãos dele?

Azenha - 

Não foi coincidiência. Ele sabia que ia se complicar, tinha clareza disso. Ele não é burro, é um cara político e antes de deixar o poder fez os contratos. É difícil dizer se ele ainda ganha dinheiro, mas os parceiros dele ganham.

Terra - De que maneira?

Azenha - 

Cerca de metade dos ingressos da Copa do Mundo está nas mãos das agências ligadas ao Wagner Abrahão (amigo de Teixeira). Ele estendeu o

contrato da Fifa com a Globo para pelo menos mais duas Copas

. Foi ao Catar e

assinou a extensão de contrato com a empresa que cuida dos amistosos da Seleção

, e ela

paga uma parcela ao ex-presidente do Barcelona

, como mostrou o Estadão. Ele estendeu o contrato com a Nike. Ele deixou os principais contratos da CBF como ele quis e jogou isso lá para a frente. Ele tem todos os segredos. Certamente perdeu poder, mas tem plenas condições de atuar nos bastidores pelos contratos que firmou. 

Terra - Onde entra o Sandro Rossell, ex-presidente do Barcelona e grande amigo do Teixeira? O livro trata dele?

Azenha - 

Trazemos documentos que mostram os negócios que Rossell e Teixeira fizeram juntos. É muito mais do que a gente imaginava. Não é verdade que o Rossell fechou o contrato da Nike no Brasil, ele veio um tempo depois. Mas a partir daí você vê a criação e o fechamento de empresas. Eles formam empresas onde entram e saem. Se não está o Teixeira, está a mulher, e vão fazendo negócios com a Seleção. Principalmente o amistoso com Portugal (em novembro de 2008), que foi um erro. 

Terra - Esse jogo é realmente um marco para a derrocada do Ricardo Teixeira?

Azenha - 

O Teixeira estava muito confiante na impunidade. Ao assumir, ele afastou o dinheiro público do futebol, o que dá muitas punições. Ele não ficou suscetível a isso para poder argumentar que a CBF é uma empresa de direito privado que não deve satisfação. No amistoso de Portugal, ele tinha tanta certeza da impunidade que pegou o dinheiro público e se enrolou. 

Terra - Teixeira, Rossell...há algo sobre a transferência do Neymar no livro?

Azenha - 

Quando você vê a relação dos dois, como um ajudou o outro aqui e ali, o dinheiro envolvido, você conclui por dedução. O Rossell na Argentina, a delegação do Brasil...o negócio (Neymar com Barcelona) foi fechado ali. O Teixeira pegou dinheiro da venda do Neymar? Não. Mas dá para dizer que o Rossell deve ser investigado porque está cheio de agentes paralelos no negócio. 

Fonte: Terra
Compartilhar
Publicidade
Publicidade